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[Opinião] Açúcar: nunca um momento de calmaria

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Diante da elevada incerteza que domina os mercados globais, impulsionada pela política errática de Donald Trump, o desempenho do açúcar ao longo da última semana pode ser considerado positivo. Apesar da volatilidade em diversos setores, a commodity encerrou o período praticamente estável em relação à semana anterior. No entanto, essa estabilidade não representa um motivo de comemoração para as usinas. O mercado hoje opera com a percepção de que teremos uma safra robusta de açúcar, com um aumento do mix de produção em comparação com a temporada atual. Além disso, mais unidades industriais entrarão em operação neste ciclo, o que garante um suprimento adequado para a safra 2025/26. Céu de brigadeiro? Talvez. Mas é bom lembrar que São Pedro ainda não deu a palavra final.

Os fundos especulativos fizeram o esperado: com a queda do mercado eles aumentaram suas posições vendidas para pouco mais de 79,000 lotes, adicionando 25,780 no período de 25 de fevereiro a 4 de março, segundo o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, publicado hoje pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities.

O contrato futuro de açúcar em NY com vencimento para maio/25 fechou o pregão se sexta-feira a 18.33 centavos de dólar por libra-peso, 19 pontos abaixo do fechamento da semana passada, uma retração de pouco mais de 4 dólares por tonelada. O spread maio/julho encerrou a 32 pontos, mas pode valorizar se o começo da safra for mais tardio do que esperam grande parte dos participantes do mercado.

Falando nisso, o início da safra vem sendo adiado por várias usinas devido ao atraso no desenvolvimento da cana. Algumas unidades que planejavam iniciar a moagem em meados de abril já postergaram para a semana do dia 22 de abril, enquanto outras avaliam um adiamento ainda maior. No entanto, evitar empurrar o início para maio também é uma preocupação estratégica, pois poderia gerar pressão dos fornecedores para antecipar a moagem diante de qualquer período de seca. Apesar desse equilíbrio delicado, o cenário observado no campo é claro: o canavial está atrasado e ainda precisa de mais tempo para atingir seu pleno potencial.

Aqueles que optarem por começar a safra cedo, principalmente por necessidade de caixa, correm o risco de comprometer a rentabilidade. “A cana ainda está curta, não teve tempo suficiente para maturar e, fisiologicamente, não está pronta para ser colhida”, comenta um executivo. “Moer nesse estágio significa operar com um ATR abaixo do ideal e comprometer a eficiência da safra, desperdiçando um potencial produtivo que poderia ser mais bem aproveitado com um pequeno ajuste no calendário”, assevera outro. Essa avaliação tem sido compartilhada por diversas usinas que, ao revisarem suas estimativas de campo, constatam a mesma situação.

Com base nessas condições, muitas unidades estão reavaliando suas projeções de safra para determinar o melhor momento para iniciar a moagem. A prioridade é evitar uma safra marcada por baixa produtividade e qualidade comprometida, o que pode gerar impactos negativos na estratégia comercial ao longo do ano. A questão central não é apenas quando começar, mas sim quando iniciar de forma a maximizar os resultados. A expectativa agora se volta para as próximas semanas, observando se as condições climáticas favorecerão o desenvolvimento da cana e se as usinas conseguirão encontrar o ponto ideal entre antecipação e prudência. Nunca um momento de calmaria!

Outro fator que merece atenção é a demanda global, que tem se mostrado moderada. O mercado internacional encontra-se bem abastecido, e o Brasil tem sido um dos principais responsáveis por essa oferta elevada. Nos últimos 48 meses, o país exportou 125 milhões de toneladas de açúcar, um recorde absoluto dentro desse período. Se compararmos esse volume com os quatro anos anteriores, fica evidente que o Brasil conquistou uma fatia significativa do mercado global, ampliando seu market share. Há quatro safras, as exportações brasileiras representavam 48% do açúcar comercializado livremente no mundo; hoje, essa participação subiu para 61%.

Essa dominância, no entanto, traz desafios. Quando um único país tem grande influência sobre um mercado, os preços tendem a cair mais acentuadamente em momentos de alta produção e, por outro lado, qualquer problema de oferta pode resultar em fortes oscilações e picos de preço. Esse é um fator que não pode ser ignorado.

Na esfera política, o governo federal anunciou na última quinta-feira um decreto que reduz a alíquota de importação de diversos produtos, incluindo o açúcar, de 9% para 0%. No entanto, essa medida tem impacto nulo sobre o mercado. O desconhecimento do funcionamento da dinâmica do setor por parte do governo é evidente. Imaginar que essa redução tributária possa influenciar os preços internos dos produtos que utilizam açúcar como insumo demonstra uma visão equivocada da realidade econômica. Também vale mencionar que Lula colocou para comandar a Secretaria de Relações Institucionais, a deputada Gleise Hoffman (PT-PR). Genial escolha! Nada como um toque de arrogância e antipatia para criar um ambiente acolhedor e produtivo nas negociações institucionais. A conferir.

Nosso colaborador Marcelo Moreira analisa o mercado tecnicamente: O contrato para maio/25, após romper a média móvel de 50 dias e atingir a mínima da semana em 17.84 centavos de dólar por libra-peso, fechou a 18.33 centavos de dólar por libra-peso. As próximas resistências estão em 18.66, 19.09 e 19.65 centavos de dólar por libra-peso, enquanto os suportes se situam em 17.80 e 16.73. Já o vencimento julho/25 encerrou a 18.01 centavos de dólar por libra-peso. As próximas resistências estão em 18.31, 18.54 e 19.23, com suportes em 17.74, 17.50, 17.00 e 16.45. Atenção para um possível novo rompimento do suporte crítico da média móvel de 50 dias, localizado em 17.74 centavos de dólar por libra-peso. O spread out/25 x mar/26 fechou em -35 pontos, ainda podendo representar uma oportunidade para abrir posição vendida – vender out/25 e comprar mar/26.

*Arnaldo Luiz Corrêa é analista de Mercado e Diretor da Archer Consulting

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