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[Opinião] Açúcar: robozinhos no controle

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O mercado futuro de açúcar em NY valorizou 300 pontos em apenas 9 sessões. Da mínima de duas sextas-feiras atrás, de 24.10 centavos de dólar por libra-peso, para a máxima de 27.10 centavos de dólar por libra-peso nesta última sexta-feira. A força dos fundos foi sentida em toda sua extensão.

Numa semana encurtada pelo feriado do Dia do Trabalho nos EUA (na segunda-feira) e pelo Dia da Independência no Brasil (na quinta-feira), o mercado de açúcar foi predominantemente comandado pelo apetite dos fundos especulativos. Estes adicionaram, segundo o COT (Commitment of Traders), relatório dos comitentes publicado nesta sexta-feira pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), mais 33,000 lotes comprados, totalizando uma posição de 187,700 lotes!

Não me recordo, no passado recente, de ver os fundos – após liquidarem boa parte de sua posição comprada – retornando com um apetite tão agressivo e movendo o mercado perto dos níveis que ele alcançou em abril, de 27.41 centavos de dólar por libra-peso. Uma extraordinária força compradora que desafia – pelo menos momentaneamente – qualquer análise mais equilibrada sobre os fundamentos do mercado.

Embora o fechamento de sexta-feira indique uma valorização do mercado acumulada na semana, o vencimento do primeiro mês de negociação, o outubro/23, encerrou a 26.40 centavos de dólar por libra-peso, 59 pontos acima do fechamento da semana anterior (13 dólares por tonelada). É importante destacar a incrível volatilidade observada ao longo da semana.

Na terça-feira, o intervalo de preços (apurado entre a mínima e a máxima do dia) foi de 128 pontos. Na semana, a média foi de 100 pontos. Se a variação de preços fosse direcional, sem dúvida estaríamos em um mercado extremamente altista ou baixista. Porém, a lateralidade dos preços é o que chama a atenção, demonstrando um processo errático sujeito aos algoritmos e sistemas de negociação. Como disse um executivo do mercado: “os robozinhos estão nadando de braçada”. Analisando por esse ângulo, o mercado teve uma oscilação média de 103 pontos nos quatro pregões da semana; o ativo variou 144 pontos entre a mínima e a máxima, encerrando a semana valorizado em 59 pontos.

Avalie o turbilhão de notícias que impactaram o mercado nos últimos nove pregões e conclua se há alguma novidade suficiente para mover o mercado 300 pontos em 9 dias. O que é concretamente evidente é que os fundos especulativos estão posicionados em cerca de 200,000 contratos, e isso terá grandes implicações no mercado. O aumento da posição em aberto sugere que as usinas ampliaram o percentual de fixação para a safra 24/25 (a Archer Consulting deve publicar uma nova estimativa na próxima semana), que deve estar em torno de 30-35%.

Preços que se movimentam com essa velocidade trazem um conhecido problema: chamada de margem e aumento da volatilidade das opções, alimentado pela compra de calls (opções de compra) fora-do-dinheiro usadas para aliviar parte do estresse das chamadas.

As usinas ficam mais preocupadas em fixar preços e veem o mercado mover-se contra elas, com o risco contínuo de ter que usar o caixa para atender às prováveis chamadas de margem. O spread cobrado pelas instituições que oferecem fixações em reais por tonelada tende a aumentar devido ao risco de o mercado continuar subindo. Não é uma decisão fácil. A fixação em reais por tonelada, acompanhada da compra de uma call 200 pontos acima do mercado, pode ser uma alternativa menos onerosa.

Mesmo que as notícias vindas da Índia e da Tailândia se concretizem, é válido observar o que está acontecendo com a safra do Centro-Sul, que apresenta recordes de cana e produtividade, conforme relatos de diversas usinas. No intervalo dos nove pregões mencionados, o açúcar de NY convertido na moeda brasileira saltou de 2,786 para 3,026 reais por tonelada, ou seja, R$ 240 por tonelada.

O valor de fechamento na semana para a safra 24/25 foi de R$ 2,856 por tonelada. As usinas provavelmente continuarão a se beneficiar desses preços atraentes.

Uma pergunta crucial que todos devemos nos fazer é sobre a capacidade financeira dos fundos. Quanto mais eles podem adicionar em compras à sua posição atual? Qual é o limite? Em duas semanas, os fundos foram de 105,307 para 187,694 lotes. O mercado subiu 325 pontos (de 22 de agosto a 5 de setembro). Os fundos precisaram adquirir aproximadamente 1,150 lotes (58,000 toneladas de açúcar) para mover o mercado US$ 1 por tonelada.

De forma simplificada, para levar o mercado aos tão desejados 30 centavos de dólar por libra-peso, os fundos precisarão adquirir mais 91,000 contratos, alcançando quase 300,000 contratos long. É possível? Certamente, tudo depende da capacidade financeira. No entanto, a questão crucial é: quão vulnerável será essa posição quando decidirem desfazer-se dela por, apenas como exemplo, uma oportunidade surgir em outra commodity ou ativo?

*Arnaldo Luiz Corrêa é analista de Mercado e diretor da Archer Consulting
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