Você já viu mineiro subir morro correndo? Pois é, não viu e nem verá. Mineiro vai devagar, desconfiando. Agora me diga: se um mineiro vê uma empresa devendo R$ 322 bilhões, ele corre? Não. Mas desconfia. E com razão.
Saiu a lista das empresas mais endividadas do Brasil. Na liderança isolada, a Petrobras — com uma dívida que caberia no PIB de uns dois países pequenos: R$ 322 bilhões. Em segundo, JBS (R$ 103 bi), seguida por Suzano, Vale, Eletrobras… e agora vem o toque especial:
Cosan (R$ 68 bi) + Raízen (R$ 61 bi) — que juntas batem R$ 129 bilhões. Isso mesmo, companheiro! A turma do etanol, açúcar e energia tem dívida que já dava pra pavimentar a BR-381 de ponta a ponta — com pedágio e tudo.
Tem também a Braskem, com seus respeitáveis R$ 45 bilhões e a Neoenergia, com R$ 51 bilhões. Se juntar só essas três — Cosan/Raízen, Braskem e Neoenergia — já temos quase R$ 225 bilhões rodando com a luz acesa, o motor ligado e o sorriso no fiado.
Mas o que isso tem a ver com os postos de combustíveis, consumidores e distribuidoras? Uai, tudo! E é aí que o caldo entorna.
Essas dívidas colossais viram pano de fundo para aumentos de preços, decisões de mercado que parecem técnicas, mas têm um quê de desespero disfarçado de estratégia. E, no fim da linha, quem paga a conta? O frentista que ouve desaforo, o revendedor que tenta explicar o preço, o consumidor que abastece no crédito e a distribuidora que vira ginasta olímpica pra equilibrar margem, guerra fiscal e concorrência predatória.
Alavancagem não é palavrão, mas…
Alavancagem é quanto a empresa se endividou para tentar crescer. Mas como diz meu compadre de Montes Claros: “Se o burro vai longe com peso demais, é só até o chão.” E tem empresa com alavancagem de 6x, como a Braskem, que mais parece jogadora de truco: blefa, mas pode virar no grito.
Na prática, o que isso muda pra nós do downstream?
Tudo. Quanto maior o rombo, maior a pressão por caixa. E onde apertam primeiro? Na cadeia mais vulnerável: postos e distribuidores menores. Chegam os descontos esquisitos, as negociações forçadas, as promessas com vencimento mais rápido que leite no calor de Januária.
E pra que isso? Pra alimentar dívidas que não foram feitas com você, mas te pegam de jeito. Distribuidoras precisam se posicionar. Revendedores, se proteger. E o consumidor? Fica ali, assistindo o show de preços, sem saber se abastece ou se espera uma promoção de Semana Santa com combo de etanol e oração.
Mas calma, nem tudo é drama. Tem distribuidora fazendo bonito, tem posto operando com dignidade e cliente fiel. A saída? Governança, planejamento e parceria séria. E, claro, fiscalização de verdade, pra evitar que “grandes devedores” transfiram seus pepinos para quem só queria vender combustível e dormir em paz.
Porque, como diz um velho ditado de Minas: “Quem compra dívida dos outros, vende sossego a prestação.”
*Wladimir Eustáquio Costa é CEO da Suporte Postos, especialista em mercados internacionais de combustíveis, conselheiro e interventor nomeado pelo CADE, com foco em governança e estratégia no setor downstream.
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