(E como dizia meu avô: “dívida boa é aquela que vem com mapa pra saída”)
O Conselho de Administração da Raízen aprovou, por unanimidade, a autorização para que a companhia, suas subsidiárias e/ou sua controladora possam captar até R$ 1,5 bilhão em financiamentos de longo prazo. A justificativa oficial é clara: fortalecer a estrutura de capital e apoiar projetos estratégicos em curso.
Mas para quem acompanha o setor com o ouvido no chão da pista, o movimento levanta sinais importantes. Desde 2023, a companhia vem enfrentando desafios financeiros notórios e amplamente repercutidos na imprensa especializada:
• A alavancagem cresceu, reflexo de ciclos de investimento intensos em renováveis, E2G e infraestrutura.
• A Cosan, sócia controladora, anunciou publicamente a intenção de buscar investidores estratégicos para sua participação na Raízen.
• A Raízen, por sua vez, colocou à venda sua operação na Argentina, segundo diversos veículos, incluindo o Valor Econômico e a Reuters.
• E o mercado financeiro tem reagido com cautela, diante dos resultados mais modestos nos últimos trimestres e do esforço de reequilíbrio do portfólio.
A nova autorização de captação pode servir a múltiplos propósitos — todos legítimos e estratégicos:
1. Alongar prazos da dívida existente, trocando pressão de curto prazo por fluxo mais sustentável;
2. Evitar a necessidade de uma nova capitalização no momento em que um dos controladores avalia desinvestir;
3. Garantir liquidez para tocar projetos enquanto o plano de reorganização segue em marcha.
Tudo isso, claro, está no âmbito da governança — e amparado por decisões formais, atas de conselho e comunicados ao mercado.
Não cabe aqui especular, nem sugerir cenários. Mas é possível observar que a Raízen, mesmo com a vocação para inovação e renováveis, chega a este momento com a necessidade de ajustar velas, antes de continuar navegando.
E como diria meu avô em Oliveira ao olhar o tempo fechando:
“Não é o tamanho da lona que assusta. É a coragem de seguir cobrindo o que precisa.”
*Wladimir Eustáquio Costa é CEO da Suporte Postos, especialista em mercados internacionais de combustíveis, conselheiro e interventor nomeado pelo CADE, com foco em governança e estratégia no setor downstream.