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Para o agro brasileiro, comércio global é incerto com novo governo Trump

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O presidente dos EUA, Donald Trump, se reúne com o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, no Salão Oval da Casa Branca, em Washington (EUA).
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O discurso de posse e as primeiras medidas anunciadas pelo presidente norte-americano Donald Trump aumentaram as incertezas sobre potenciais efeitos do segundo mandato dele sobre o agronegócio brasileiro. Analistas ouvidos pela reportagem dizem que haverá mudanças, principalmente no comércio global com o aumento tarifário pretendido, mas que o impacto disso ainda é uma “incógnita”.

As mudanças na aplicação de tarifas pelos Estados Unidos ainda não foram definidas, mas irão ocorrer em breve, salientou Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global. Três modelos têm sido avaliados pela equipe de Trump e cada um pode ter efeitos diferentes no cenário mundial e para o Brasil, especificamente.

As hipóteses são aumentar rapidamente as tarifas sobre países específicos, como México, Canadá e China, a exemplo do que já ocorreu em 2017 em relação aos chineses, na primeira passagem de Trump pela Casa Branca, o que gerou uma retaliação de Pequim contra produtos do agronegócio norte-americano e abriu espaço para o Brasil ampliar as exportações para a China, em especial de soja.

A segunda alternativa é se basear em reciprocidade, com medidas aplicadas sobre países ou produtos específicos, em desacordo com as regras do comércio mundial, para as quais Trump dá de ombros, comentou Jank. Por último, a estratégia pode ser investir em negociações bilaterais com determinados parceiros ao invés de aumentar as tarifas de forma generalizada.

“É cedo para comemorar uma guerra comercial. Aliás, ninguém deve comemorar, pois isso gera ações e reações de todos os países e pode ter uma nova espiral protecionista”, apontou Jank.

Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington e atual presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), é cauteloso. Ele não vê grandes impactos para o agronegócio brasileiro neste momento. Como o país importa mais do que exporta para os Estados Unidos, não deve ser afetado pelo pacote tarifário de Trump para reduzir o déficit comercial norte-americano.

“Mas não sabemos qual será entendimento sobre a China. Trump viajará a Pequim nos primeiros dias de governo. Precisamos ver se vai haver alguma combinação na área agrícola (…) A rigor, o Brasil na área agrícola não deveria ser afetado. Como tem grande exportação para a China, dependendo das medidas, pode ser que haja efeito indireto sobre o Brasil”, comentou à reportagem.

“Hoje, penso que o agro brasileiro será pouco afetado. Temos nossos canais de comercialização. Não antecipo nada grave”, completou Barbosa.

Marcos Jank lembrou um movimento “parecido” feito pelos EUA em 1930, com a Smoot-Hawley Tariff Act, lei que dobrou as tarifas e desencadeou episódios que vão desde a recessão econômica até a Segunda Guerra Mundial.

“Se eles dobrarem a tarifa, será ruim para o mundo inteiro. Os EUA são o maior mercado de produtos do mundo. Pode haver ganhos de curto prazo a depender de como for feito, mas tenho muito medo dos efeitos colaterais que isso pode causar. E fico preocupado que não haja mais regras”, apontou.

Jank disse que o Brasil deve ser impactado de forma secundária, com reflexos do que for aplicado contra a China, por exemplo.

“Não há dúvidas de que algum dos modelos será aplicado. Trump colocou a questão das tarifas no centro da agenda e tem poder no Congresso e no seu governo para fazer essa mexida que rompe com regras internacionais de comércio. Vai voltar a lei das selvas em que cada país torce para não ser atingido”, afirmou.

Com informações do Globo Rural / Rafael Walendorff
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