Agrícola
Pragas da cana: conheça a broca, um dos maiores vilões da cultura
Praga: Broca da-cana-de-açúcar (Diatrea saccharalis)
Você sabia que a cada safra de cana-de-açúcar R$ 5 bilhões são perdidos pelo setor canavieiro em decorrência do ataque de broca? Ela é uma praga que está presente em todas as regiões produtoras de cana do Brasil e é a mais relevante de acordo o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira). As perdas são distribuídas entre redução da produtividade agrícola, em até 60%, e menor qualidade na extração e fermentação, ou seja, causa perdas de até 40% na indústria.
As perdas agronômicas causadas pela broca são: morte de perfilhos na fase inicial da cultura (coração morto), redução na absorção e transporte dos nutrientes e água, enfraquecimento das plantas (favorecendo quebras e tombamento), brotação lateral, infecção por fungos e bactérias oportunistas (Colletotrichum e Fusarium), redução drástica da ART e quebra significativa da produtividade.
Em TCH, os dados mais recentes mostram que 1% de intensidade de infestação final de broca causa perdas de 0,77% a 2,90%. Isso significa que para uma cana de 70 t/ha e com 8% de infestação final de broca, perde-se de 4 a 16 t/ha.
Conheça o Ciclo Biológico da broca da cana
O ciclo biológico completo, de ovo a adulto, da broca da cana, dura cerca de dois meses (60 dias), existindo potencial de quatro a cinco gerações anuais, dependendo das condições climáticas.
OVOS: Os ovos são achatados e de formato oval e são ovopositados de forma aglomerada, sobrepondo-se como escamas de peixe. Cada aglomerado pode conter de 2 a 50 ovos, sendo estes ovipositados na faze superior e inferior das folhas. A fecundidade média desta espécie, de acordo com o especialista em Manejo Integrado de Pragas da cana-de-açúcar e doutor em Entomologia, José Francisco Garcia, é de cerca de 300 ovos que, inicialmente, são brancos a amarelos, mas que com o desenvolvimento se tornam alaranjados. De quatro a seis dias após a postura, se os ovos estiverem fecundos ocorre a eclosão das lagartas.
LAGARTAS: As lagartas recém-eclodidas são de cor branca, cor que, ao longo do seu desenvolvimento acrescenta manchas escuras. Elas alimentam-se no início do parênquima foliar da cana. Após essa fase, penetram pela parte mais mole do colmo e perfuram-o abrindo galerias de baixo para cima. As lagartas prestes a se transformarem em pupa, interrompem sua alimentação, limpam e ampliam a galeria onde se desenvolveram e abrem um orifício para o exterior, fechando o com fios de seda e serragem. Assim, transformam-se em crisálidas/pupas.
PUPAS: A pupa possui formato alongado e de coloração castanha. Dura cerca de 9 a 14 dias, variando o tempo de acordo com as condições climáticas.
ADULTOS: Este ciclo dura de três a oito dias. Os adultos da broca da cana são de cor amarelo-palha com pontos escuros na asas anteriores e asas posteriores esbranquiçadas. Nesta fase, o inseto possui hábito noturno e fica escondido durante o dia. A oviposição ocorre principalmente no início do entardecer e continua durante toda a noite. As fêmeas podem ovipositar em média, durante quatro dias.
Como manejar essa praga?
1. Realizar o levantamento populacional durante todo o ano, com maior intensidade na época das chuvas, quando a ocorrência da praga é maior
Segundo especialistas em levantamento de pragas, o controle deve ser baseado na intensidade de infestação. Estes levantamentos, feitos através do corte dos colmos da cana, devem ser realizados de dois a quatro meses após o plantio ou após o corte da cana. A amostragem é realizada, no geral, por hectare em sistema de moisaico.
2. Efetuar o levantamento em áreas de maior infestação como onde estão as variedades mais suscetíveis, áreas fertirrigadas com vinhaça e canaviais com histórico de alta infestação.
Utilizar uma variedade com uma boa tolerância ou até mesmo resistência à praga, como é o caso das variedades lançadas em 2018 pelo CTC, podem contribuir muito no controle da broca-da-cana, por exemplo.
3. Optar pelo controle químico nas áreas com alta infestação junto ao controle biológico.
Além de outros inimigos naturais que ocorrem nos canaviais, o setor utiliza-se de duas ferramentas de manejo que atuam em fases distintas no ciclo biológico da broca. Segundo especialistas, quando existe infestação em nível igual ou maior do que 3%, a maneira ideal de controlar as lagartas é por meio da liberação da vespa parasitoide Cotesia flavipes.
Outro parasitoide muito utilizado é uma microvespa Trichogramma galloi que, diferente da Cotesia, parasita os ovos da broca da cana-de-açúcar. Juntos, esses dois parasitoides podem controlar até 60% da infestação. Hoje, ambos tem sido liberados com o uso de drones por usinas e produtores de cana.
Já o controle químico realizado logo após a lagartas terem eclodido, durante o momento em que elas se alimentam das folhas por raspagem, período que dura de 2 a 6 dias. Em pesquisa realizada pela RPAnews na plataforma Agrofit do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), hoje existem 39 produtos registrados para o controle da broca da cana (Diatrea saccharalis).
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