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Produção de biogás e biometano a partir da cana cresce no Brasil
Um levantamento da ABiogás (Associação Brasileira do Biogás), mostrou que nos próximos cinco anos, 65 novas plantas de biometano devem entrar em operação no país, juntando-se às mais de 750 plantas de biogás que já estão em funcionamento. Ainda de acordo com dados da entidade, o Brasil tem potencial para produzir, até o ano de 2030, cerca de 30 milhões de metros cúbicos por dia do biometano.
Só o setor sucroenergético, se utilizasse todo o resíduo da moagem de cerca de 640 milhões de toneladas por safra para a biodigestão produziria quase 15 bilhões de metros cúbicos de biometano.
“O biogás já foi a tecnologia do futuro, mas hoje é uma realidade e está sendo produzida. Há diversos investidores focados nessa indústria, que está pronta para operar”, diz a gerente executiva da Abiogás, Tamar Roitman.
Nos próximos anos, de acordo com a Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar e Bioenergia), inúmeros projetos de biogás devem sair do papel no setor sucroenergético. Entre as usinas que já iniciaram operação de biogás estão a Adecoagro, Cocal, Tereos e Raízen.
Segundo a Unica, o biogás é fonte de energia elétrica limpa, 100% renovável, além de ser uma alternativa aos combustíveis fósseis, por meio da geração do biometano, que pode atuar como substituto do diesel e do gás natural, reduzindo as emissões de CO2 em até 95% se comparado aos combustíveis fósseis.
Mais de 5% de todo o diesel consumido no Brasil é utilizado no setor sucroenergético, então há um potencial enorme de substituição por biometano na frota da própria usina, consolidando assim a lógica da economia circular”, afirma o diretor de Economia e Inteligência Setorial da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), Luciano Rodrigues.
Ele explica que a substituição de parte do diesel utilizado na frota de uma usina por biometano também melhora a pegada de carbono do etanol em quatro vezes, deixando-a em patamares mínimos quando se analisa o ciclo de vida. “Além de ter um novo produto no setor, poderemos melhorar de forma absurda a eficiência ambiental do etanol”, acrescenta o diretor da Unica.
“A produção de biogás e biometano permite que o setor intensifique o uso da energia solar capturada na lavoura. Passamos a extrair mais energia útil para a sociedade de um mesmo hectare plantado, e ainda mantemos a geração de biofertilizantes que retornam para o campo após a biodigestão”, concluiu Rodrigues.
Cocal vai construir uma nova planta de Biogás
Em junho, a unidade da Cocal em Narandiba, SP, que tem 50% da produção dedicada ao biometano e o restante em geração de energia elétrica, recebeu a certificação do RenovaBio pela produção sustentável de biometano, derivado do biogás, a partir do processamento de resíduos da cana e de atividades agropecuárias (orgânicos agrossilvopastoris). É a primeira planta da categoria a ser certificada no programa brasileiro, segundo registro da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
A companhia sucroenergética anunciou vai investir R$ 216 milhões na construção de uma nova planta de biogás. A unidade, cujas obras começam neste mês, ficará em Paraguaçu Paulista (SP) e será totalmente focada na produção de biometano. O projeto é feito em parceria com a Geo Biogás & Tech.
O diretor comercial e de novos produtos da Cocal, Andre Gustavo Silva, disse em entrevista à Globo Rural que a expectativa é tornar a planta operacional até abril de 2025, com capacidade de produção de até 60 mil metros cúbicos por dia de biometano durante a safra.
“O grande objetivo do nosso projeto de biogás é melhorar a destinação dos nossos subprodutos, mas a demanda nos levou a mudar o foco e não ter mais uma produção de dois produtos”, disse Silva a respeito da mudança para uma unidade totalmente dedicada ao biometano.
Biometano seria suficiente para suprir 20% da demanda de diesel no agro
De acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2032), da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, a produção de biometano da vinhaça e torta de filtro seria suficiente para suprir cerca de 20% da demanda de diesel puro do setor agropecuário. Caso se considerem as palhas e pontas, o estudo da EPE avalia que o segmento seria autossuficiente.
No Brasil, o potencial de biogás no setor sucroenergético é de aproximadamente 10,8 milhões de metros cúbicos por ano. Já o de biometano é 7,2 milhões de metros cúbicos por ano, segundo dados do Programa de Energia para o Brasil (BEP), do governo britânico e executado por um consórcio de organizações, entre elas a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O presidente da Unica, Evandro Gussi, reforça que o setor sucroenergético brasileiro possui experiência e potencial para fornecimento de energia renovável e sustentável, como o biogás e o biometano, em nível escalonável. ]
“Acreditamos que a indústria canavieira será vetor para outros sistemas produtivos que não têm escala para alavancar o aproveitamento de resíduos, em uma dinâmica extremamente orientada a mercado”, destaca Gussi.
Para se ter ideia do incremento nessa indústria sustentável, dados da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), a capacidade mundial de geração de energia elétrica com a fonte biogás no ano 2000 era de 2.455 MW. Durante as últimas duas décadas, houve uma expansão do número de plantas de biogás para geração elétrica, atingindo em 2022 a capacidade instalada de 21.574 MW. Sete países (Alemanha, EUA, Reino Unido, Itália, China, França e Brasil) possuem mais de 70% das plantas de produção de energia elétrica com biogás, no mundo.