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Produtividade da cana varia no mesmo tipo de solo  

Para produtores de cana safra 2020/21 foi melhor do que o esperado
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De acordo com estudos do IAC existem interferências das condições climáticas no resultado da TCH 

 

 

Apesar das produtividades médias dos canaviais do Centro-Sul ficarem na média de 75 t/ha nas últimas safras, o setor canavieiro continua em busca dos três dígitos.

E para alcançar esse patamar de produtividade, conta com diversos pacotes tecnológicos, que incluem não só uso de insumos como fertilizantes, controle químico e biológico de pragas, mas também manejo de variedades, considerando os diferentes tipos de solos também.

No universo dos ambientes de produção, o mesmo tipo de solo pode se enquadrar em ambientes de produção diferentes, desde que as condições climáticas sejam também diversas. Assim, lavouras instaladas em um mesmo tipo de solo, porém com condições de temperaturas e disponibilidade hídrica diversas, terão produtividades variadas.

Pesquisas do Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, mostram que é importante conhecer a produtividade do ambiente de produção para entender qual é o ponto de partida, ou seja, o mínimo de TCH possível de ser produzido em determinada localidade.

De acordo com o pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), Hélio do Prado, um Nitossolo eutrófico, de textura argilosa, enquadra-se no ambiente A1, onde a produtividade média de cinco cortes é de 100 toneladas por hectare no manejo convencional e na colheita do meio de safra.

“Nesse mesmo solo, em Goianésia, GO, onde ocorre seca durante cinco meses seguidos, o ambiente de produção muda para o chamado C1, com produtividade média de cinco cortes entre 84 a 87 toneladas por hectare, também no manejo convencional e na colheita do meio de safra”, afirma o pesquisador, que explica que a maior deficiência hídrica em Goiás é o que explica a menor produtividade.

Outro exemplo que comprova esse fenômeno, de acordo com Prado, é o Latossolo com teor de argila relativamente baixo atinge cinco cortes de cana no Estado de São Paulo. Porém, o mesmo solo na Paraíba atinge apenas dois cortes. “No terceiro corte nem compensa insistir porque nada produz”, afirma o pesquisador.

Ainda de acordo com Prado, se o ambiente for restritivo, a produtividade é tão baixa que, para alcançar TCHs acima de 100 t/ha será preciso muito investimento. “No entanto, se o ambiente de partida for favorável, com pouco recurso já é possível atingir os três dígitos”, adiciona.

Piracicaba tem os ambientes mais restritivos

O clima no Estado de São Paulo tem muitas variantes de local para local. As regiões paulistas canavieiras de Assis e Ribeirão Preto, por exemplo, são bem diferentes. Assis tem uma distribuição da chuva bem melhor do Ribeirão, o que mostra como são diferentes as interações entre solo e clima.

“A região de Piracicaba possui área representativa com solo originado da rocha folhelho, muito pobre em cálcio, elemento que estimula o crescimento radicular. Além disso, esse solo é naturalmente muito duro, o que dificulta a exploração radicular em profundidade”, acrescenta Prado.

Por esse motivo, de acordo com o pesquisador, os ambientes de produção paulistas mais restritivos estão em Piracicaba, exceto nos locais geograficamente direcionados para Campinas e para Rio Claro, que correspondem a 25% da região.

O pesquisador relata que em suas pesquisas já encontrou o solo mais rico do mundo, chamado Vertissolo, em Juazeiro, na Bahia. Lá, a cana-de-açúcar com manejo de irrigação por gotejamento atinge quase 200 toneladas, por hectare.

“Na nova edição do meu livro Pedologiafacil – Aplicações em Solos Tropicais mostrarei as produtividades de 17 cortes, normalmente o que existem são cinco a dez cortes, no máximo”, diz. A nova edição estará disponível em julho de 2021, nas versões online e impressa.

Em Goiás, na usina Jalles Machado, onde o solo é tipo Latossolo acrico, tem-se produtividade média de cinco cortes de 68 a 71 toneladas, por hectare, na colheita de meio de safra. Este mesmo solo, na usina Santa Juliana, em Minas Gerais, tem produtividade média de cinco cortes de 84 a 87 toneladas, por hectare, também com colheita no meio de safra.

Prado explica que isso ocorre porque na Jalles Machado a altitude é de 780m, já na Santa Juliana é de 1.100m.  De novo é o clima mudando um ambiente de produção.

“Na usina Jalles Machado esse solo enquadra-se no ambiente E2, mas na Santa Juliana enquadra-se no ambiente C1, ambas no manejo convencional, com colheita no meio de safra”, complementa.

O pesquisador classificou os ambientes por letras: G2, G1, F2, F1, E2, E1, D2, D1, C2, C1, B2, B1, A2, A1, A+1, A+2, A+4 , A+5. São muito favoráveis os ambientes A+1, A+2, A+3, A+4, A+5; favoráveis A1, A2, B1, B2; médios C1, C2, D1; desfavoráveis D2, E1, E2, muito desfavoráveis os ambientes F1, F2, G1 e G2.

No G2 a produtividade média é inferior a 52 toneladas, por hectare, no A+4 é próxima de 200 toneladas, por hectare. “Um solo muito rico pode ser ambiente G2, isto é, muito desfavorável, se a deficiência hídrica for extrema, tal como em Juazeiro, na Bahia, onde não chove durante oito meses do ano”, explica.

Alocação de variedades de acordo com ambientes de produção

O Programa Cana IAC estabeleceu ao longo dos últimos 20 anos uma grande rede experimental, apoiado principalmente por empresas do setor sucroenergético da região Centro-Sul: São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

Essa ação permitiu identificar variedades IAC com excelente adaptação e performance em outros estados. É o caso da IAC91-1099, muito adaptada a Goiás e a outros estados do Centro-Oeste brasileiro.

Destaca-se também a IACSP95-5094 com grandes performances no Paraná, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. “Nesta network estamos tendo oportunidade de identificar variedades de excepcional desempenho para nichos específicos”, resume o líder do Programa Cana IAC, Marcos Guimarães de Andrade Landell.

Assim acontece com as variedades que estão em processo de lançamento: a IACCTC05-9561, muito adaptada a Goiás, e a IACSP04-6007, desenvolvida inicialmente na região de Assis e que se encontra em franca expansão nos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul.

“O desenvolvimento de micro redes regionais, em nichos extremos, como é o caso do ‘site’ de seleção que temos há 20 anos no norte de Goiás, em Goianésia, nos permitiu, identificar genótipos de acentuada tolerância à seca, como a IACCTC07-8008”, explica Landell.

As informações geradas nessa localidade possibilitam prever quais as variedades apresentam maior tolerância ao estresse hídrico. Dessa forma é possível indicá-las para outras regiões do Brasil.

“O uso dessas variedades poderia contribuir para a sustentabilidade econômica e ambiental da atividade”, afirma.

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