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Rabobank aponta maior interesse dos produtores brasileiros em biofertilizantes

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Ao longo de 2022, os preços dos fertilizantes atingiram patamares recordes em consequência do início da guerra na Ucrânia. Em alguns casos, por exemplo, os preços do cloreto de potássio subiram quase 50%. Foi então que surgiu o Plano Nacional de Fertilizantes, anunciado em maio daquele ano pelo governo federal, a fim de garantir o abastecimento nacional e pensar alternativas para diminuir a dependência de importações.

Ao comparar os custos entre a adubação convencional e a adubação mineral com biofertilizantes, o manejo orgânico apresenta um custo mais elevado. No entanto, o analista de insumos do Rabobank, Bruno Fonseca, afirma que há mais benefícios, como maior produtividade e melhoria da qualidade do solo ao longo dos anos.

Enquanto em um hectare de manejo convencional de grãos o custo da adubação é de R$ 2.889, o trato com biofertilizante sobe para R$ 3.667, na média de 2023. Quando observado o custo da adubação do café, cultura que vem aumentando o manejo com produtos biológicos, a diferença entre os custos de produção é R$ 17,90.

“A gente conversou com bastante gente, produtores rurais, empresas, fizemos visitas. O que ouvimos deles é que é uma mudança de perfil, de estilo, porque com o biofertilizante você melhora a condição de solo, aumenta a quantidade de matéria orgânica. É uma mudança de mindset deles para a parte do trato do solo, um caminho para uma agricultura regenerativa”, afirma Fonseca.

Solução na fazenda

Em 2021, dado mais recente, a importação foi de 41,6 milhões de toneladas de fertilizantes minerais. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estima a possível redução anual de 8,3 milhões de toneladas, substituída por biofertilizantes a partir de resíduos da criação de aves, bovinos e suínos.

Na produção vegetal, o analista do Rabobank cita as usinas de cana-de-açúcar, que conseguem produzir biofertilizante com o próprio resíduo da planta. “Entra toda a parte de carbono, uma vez que a usina deixa de adotar o fertilizante mineral e consegue melhorar a nota dela no programa do CBios e gerar um pouco mais crédito”, diz.

Bruno Fonseca pondera que o biofertilizante não será uma solução para o país inteiro, mas os agricultores mostram mais aceitação, bem como aos defensivos biológicos. “A gente não acredita que vai ser uma coisa que todo mundo vai usar. Pelo menos, não no curto prazo ou até no médio prazo, mas é uma tendência muito forte, inclusive porque o mundo está bem sensível com guerra de Rússia e Ucrânia”, diz.

No momento, a maior preocupação sobre o estoque de fertilizantes é em relação ao milho safrinha, a ser plantado em 2024, cuja margem deve ser mais apertada do que no passado. Com isso, já se fala no atraso da aquisição dos fertilizantes para a segunda safra.

“Estamos até revendo o nosso número de consumo de 2023 para baixo, não porque a demanda é menor, mas o fertilizante que seria entregue até dezembro pode atrasar e acabar rolando para janeiro ou fevereiro, e então devemos ficar atentos ao abastecimento”, completa.

Estoques mundiais

Enquanto o cloreto de potássio é advindo majoritariamente de Canadá, Rússia e Bielorrússia, alguns elementos nitrogenados são provenientes de Oriente Médio e Rússia. Já o MAP (fosfato monoamônico) é produzido por Marrocos, China, Estados Unidos, entre outros países, enquanto Israel é importante para o fornecimento de ureia. Após a chegada de cada tipo de fertilizante, a mistura é feita no Brasil a depender do cliente e tipo de manejo.

O ano de 2023 teve início com os estoques de cloreto de potássio de MAP (fosfato monoamônico) bem abastecidos, segundo Fonsenca, mas o ponto de atenção recai sobre a disponibilidade de fósforo. “Já ouvimos alguns comentários de que ele vai ficar um pouco mais caro ali na boca da safra. Não é falta de oferta, mas vamos estar muito próximos do que vai ser a demanda”, diz.

Isso ocorre, porque, no ano passado, o produtor optou por usar o estoque de fósforo já existente no solo. No entanto, esta é uma prática que não pode ser adotada por muitos anos consecutivos, se não esgota essa reserva do solo. “Então, em 2022, foi um ano que a gente viu um consumo dessa poupança ali do solo. E agora, em 2023, a gente tem que ter uma recomposição”, afirma o analista do Rabobank.

Em relação à guerra em Israel, Bruno Fonseca diz que os ataques ainda não se aproximaram as principais plantas produtoras de fertilizantes, mas há monitoramento constante. Por enquanto, segundo ele, nenhum impacto direto deve ser sentido no Brasil, inclusive porque a janela de compra da ureia se encerra em outubro e grande parte das vendas já foram concretizadas.

“Ainda é cedo para cravar qualquer cenário, mas vamos continuar acompanhando. De qualquer forma, o Brasil tem outros parceiros para o fornecimento, a questão é como fica o comportamento dos preços”, diz.

Exame/Mariana Grilli
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