Plano de desinvestimento da Raízen mira reduzir a dívida da gigante de energia, que era de R$ 53,4 bilhões; tradings Mercuria e Vitol estão entre as finalistas para comprar uma refinaria e centenas de postos no país, disseram fontes à Bloomberg News
As gigantes do comércio de energia Mercuria e Vitol estão entre as finalistas para comprar uma refinaria e centenas de postos de gasolina na Argentina que a Raízen colocou à venda, segundo pessoas familiarizadas com o assunto ouvidas pela Bloomberg News.
O negócio valeria mais de US$ 1 bilhão, segundo as fontes, que pediram anonimato pois as negociações não são públicas. Uma das pessoas disse que a transação poderia chegar a US$ 1,6 bilhão.
A Mercuria não quis comentar. A Vitol e a Raízen não responderam imediatamente a um pedido de comentário da Bloomberg News.
As duas tradings de commodities buscam ampliar sua presença no setor, enquanto o presidente argentino Javier Milei – fortalecido por sua vitória nas eleições legislativas, em outubro – deve acelerar sua cruzada de desregulamentação.
Na primeira metade de seu mandato, Milei eliminou os controles sobre os preços do petróleo bruto e dos combustíveis.
A Raízen, maior produtora brasileira de etanol a partir da cana-de-açúcar, tem avançado em seu plano de venda de ativos em uma tentativa de reduzir a sua dívida, que somava R$ 53,4 bilhões ao fim do terceiro trimestre, com uma alavancagem de 5,1 vezes o Ebitda ajustado.
Sob o comando do executivo Nelson Gomes há mais de um ano, a empresa controlada pelo bilionário Rubens Ometto decidiu avançar com o plano de desinvestimentos. Para isso, e a venda de sua operação na Argentina é considerada um passo fundamental.
A refinaria Dock Sud, em Buenos Aires, tem capacidade diária de 101 mil barris, o que a torna a terceira maior instalação do país, segundo a Energy Information Administration (EIA) dos Estados Unidos.
A rede de cerca de 700 postos de combustíveis da Raízen na Argentina responde por 19% das vendas de gasolina e diesel no país, segundo a líder de mercado YPF.
A Mercuria possui ativos de exploração e produção de petróleo na Argentina por meio de sua participação majoritária na Phoenix Global Resources, que está perfurando em uma área de xisto em expansão na Patagônia.
Já a Vitol possui um porto próximo a Buenos Aires para comercialização de combustíveis.
A oferta da Mercuria pelos ativos da Raízen é o exemplo mais recente de empresas de trading de commodities que buscam adquirir instalações de refino e distribuição de petróleo para manter os lucros extraordinários da crise energética que se seguiu à invasão da Ucrânia pela Rússia no começo de 2022.
A Vitol tem se expandido rapidamente nos últimos anos, investindo em distribuição na África do Sul e na Turquia, além de possuir uma refinaria de exportação na Itália. A empresa também participou do leilão multimilionário da controladora da Citgo Petroleum.
A Mercuria não possui atualmente nenhuma operação de refino de petróleo bruto.
A Raízen, uma joint venture da Shell e da holding brasileira Cosan, adquiriu os ativos da petrolífera em 2018, durante a última experiência da Argentina com reformas orientadas pelo mercado.
Mais recentemente, a Raízen tem sido impactada negativamente por um alto endividamento diante de taxas de juros acima de dois dígitos, o que exige o pagamento de juros que vai além de seu Ebitda (métrica de geração de caixa operacional).
A dívida, por sua vez, cresceu depois de grandes investimentos em usinas de etanol de segunda geração (E2G) que não se mostraram rentáveis diante de uma demanda mais fraca do que a esperada.
A queda nos preços do açúcar e as safras fracas de cana também prejudicaram a empresa. Sua dívida líquida aumentou 49% no segundo trimestre de 2025/26 em relação ao mesmo período do ano anterior.
Nesta quinta-feira, 27, a Moody’s rebaixou a classificação de crédito da Raízen diante da deterioração de suas métricas financeiras.
Bloomberg| Jonathan Gilbert, Nicolle Yapur e Cristiane Lucchesi


