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Raízen se prepara para entrar na Bovespa
“Mercado ainda não entendeu o valor dos negócios da companhia”, diz o CEO Ricardo Mussa sobre a queda das ações em entrevista à Forbes
A Raízen chegou à bolsa de valores em 4 de agosto do ano passado, avaliada em R$ 74 bilhões. Em um ano com número recorde de ofertas públicas iniciais, a companhia levou o título de maior IPO após levantar R$ 6,7 bilhões.
Ao preço de R$ 7,40 por ação, a estreia da joint venture entre Shell e Cosan na bolsa brasileira atraiu muitos investidores, inclusive estrangeiros. Mas por pouco tempo.
Um ano depois, o cenário é bastante diferente. A ação RAIZ4 já perdeu pouco mais de 30% do seu valor e é negociada próxima aos R$ 4,80. O valor de mercado da Raízen também caiu, para R$ 47,73 bilhões.
Em 2021, quando a Raízen consultava o mercado para precificar o seu IPO, o valor de R$ 7,40 estipulado ficou no piso da faixa indicativa que ia de R$ 7,40 a R$ 9,60. “As ações estão subvalorizadas”, diz o CEO da Raízen, Ricardo Mussa à Forbes. Para ele, o mercado ainda não entendeu o valor dos negócios da companhia.
O Bank of America concorda. Em relatório, analistas afirmaram que o potencial de crescimento da companhia ainda não foi incorporado aos papéis. A recomendação do BofA é de compra, com preço-alvo de R$ 11,00 em 12 meses – um potencial de alta de 130%. O UBS BB e o Credit Suisse têm uma visão mais conservadora, embora também recomendem compra: o preço-alvo é de R$ 8,50 e R$ 6,50, respectivamente.
Até o último fiapo
A Raízen tem três frentes de operação: a de fontes renováveis (com produção de etanol e bioenergia), a de açúcar (produção, comercialização e negociação de terceiros) e a de serviços (com a distribuição de combustíveis e as lojas Shell Select e OXXO). O chamariz da empresa está nos renováveis, com destaque para o etanol de segunda geração (E2G).
Atualmente, a Raízen é a única empresa do mundo com tecnologia para produzir E2G em larga escala. “O mercado ainda é cético em relação ao E2G porque ninguém conseguiu fazer antes, mas o que desenvolvemos não é uma promessa. Já está em operação”, afirma Mussa.
A empresa tem uma planta produzindo etanol E2G desde 2015 e outras três em construção. Todo o E2G produzido atualmente é exportado para a Europa e 80% da produção das plantas em desenvolvimento já tem contratos de longo prazo firmados – os 20% restantes ficaram como margem flexível para negociações.
Com previsão de inauguração das três novas unidades em 2023 e no início de 2024, a capacidade de produção de E2G pela Raízen nas próximas safras irá aumentar dos atuais 34 milhões de litros para 280 milhões de litros. Até 2030, o objetivo da empresa é alcançar 20 plantas de E2G com capacidade produtiva de 1,6 bilhão de litros.
“Hoje, a gente tem muito mais demanda do que consegue atender. O E2G é classificado como combustível avançado por ser produzido a partir de resíduos, o que é muito valorizado lá fora, principalmente na Europa. Nosso gargalo atual é construção”, diz Mussa. Para além do uso como combustível, o E2G também é aproveitado pela indústria petroquímica, alimentícia, farmacêutica e de cosméticos, entre outras.
Acoplada às plantas de E2G está a produção de biogás (ou biometano), o segundo produto da frente de renováveis da companhia. O biogás é feito a partir da vinhaça – um subproduto do etanol de segunda geração – e é um substituto do gás natural como combustível ou gerador de energia elétrica.
A Raízen possui uma planta de biogás com dois módulos em operação e uma segunda está em construção. Desta segunda, 100% da produção já foi comercializada para a Yara Fertilizantes e para a Volkswagen em contratos de longo prazo. O restante do biometano da Raízen é usado no abastecimento dos veículos próprios (caminhões e tratores) e na revenda de energia elétrica para distribuidoras por meio da Comgás.
Assim como para as plantas de E2G, a meta para o biogás é alta: 39 módulos em operação até 2030.
“A cana é supereficiente em captar energia solar e transformar em biomassa. Com o E2G e o biogás, o aumento da produção do etanol e de bioeletricidade é de 50%”, diz o CEO da Raízen. “A beleza é tudo ser fruto da economia circular. Tanto para o E2G como para o biometano, a gente não precisa de um pé de cana a mais, é só tecnologia”.
O desenvolvimento dos dois produtos trouxe um outro ganho, segundo o CEO, que foi acabar com a sazonalidade dos negócios da companhia. “Durante nove meses, a Raízen trabalha alinhada com a operação de plantio e colheita da cana de açúcar, mas sobram outros três meses, que agora a companhia equilibra com o E2G e o biogás, que podem ser produzidos nas entressafras”.
Números sustentáveis da Raízen
Um plano de crescimento tão agressivo exige caixa, e o da Raízen está bem gordo desde o IPO. Ao final da safra 2021/22, em março deste ano, o caixa líquido da empresa fechou em R$ 5,63 bilhões – considerando os R$ 6,70 bilhões levantados na oferta inicial de ações.
Parte desses recursos já foram aplicados na expansão internacional do segmento de distribuição. A Raízen anunciou, em outubro do ano passado, a aquisição da maior distribuidora de combustíveis do Paraguai, onde irá operar com a bandeira Shell.
O CFO da Raízen, Carlos Moura, destaca que o múltiplo de endividamento da empresa (relação entre a dívida líquida e o Ebitda) está baixo, 1,3 vezes, e o rating pelas agências de crédito, alto – o mais recente, concedido pela Moody’s em fevereiro de 2022 foi AAA, com perspectiva estável.
“A Raízen tem uma ótima capacidade de angariar recursos. Nosso negócio é gerador de caixa, estamos com um múltiplo de dívida baixo e um nível de liquidez muito sólido, além de bons projetos”, diz Moura.
Ele ainda afirma que a companhia estuda as oportunidades do mercado de renda fixa, visto que a alta dos juros beneficia essa forma de investimento em detrimento da captação via renda variável, como um follow-on, por exemplo.
Somente as plantas de E2G demandam R$ 1 bilhão de investimento cada uma. Já a de biogás, R$ 150 milhões por módulo. Mas os executivos não consideram o tópico uma preocupação. “Os preços atuais do etanol de segunda geração exportado para a Europa estão acima de € 1.400 e nossos contratos são de longa duração. Os retornos de cada uma dessas plantas são uma compensação mais do que suficiente pelo investimento”, disse Mussa durante o Raízen Day, em maio deste ano.
Com a crise de energia na Europa devido a guerra entre Rússia e Ucrânia, os executivos afirmam que aumentou a busca por diversificação de produtos e segurança energética – o que fez os preços do etanol subirem, assim como o interesse por longos contratos. “Eu consigo sentar na mesa com o cliente e oferecer um contrato de dez anos, porque eu posso garantir isso. Para o mercado externo, é um grande diferencial”, afirma o CEO.
A frente de renováveis tem sido a mais lucrativa para a Raízen: 44% do lucro operacional medido pelo Ebitda foi de fontes renováveis na safra 2021/22, o equivalente a R$ 5,51 bilhões. Em um ano, o avanço do lucro do segmento foi de 33%.
O mercado pode estar cético em relação ao futuro do E2G e do biogás produzidos pela Raízen, mas não cego. Com um ano de negociação em bolsa, as ações RAIZ4 devem entrar para o Ibovespa na próxima virada da carteira teórica, em setembro, segundo a primeira prévia divulgada pela B3.
Em relatório do BofA, o banco apontou que a Raízen é a empresa com maior índice de negociabilidade fora do principal índice brasileiro. Para o CEO e o CFO, se a entrada se concretizar, é mais um motivo para comemorar.
Fonte: Forbes, reportagem de Monique Lima
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