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[Opinião] Setor sucroenergético e o fim da safra 2024/25 no Nordeste

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O setor sucroenergético vem passando por um momento de constantes transformações. Por um lado, elas podem ser consideradas positivas – como a implementação de novas plantas para a produção de etanol, especialmente de milho; as avaliações sobre o possível aumento do percentual do biocombustível na gasolina C, passando dos atuais 27% para 30%; a regulamentação da lei sobre CBios e a comercialização de SAF (combustível de aviação sustentável) no Brasil. Mas, por outro, podem ser vistas como negativas – como projetos que liberam a venda de combustíveis puros e a possível redução de tarifas de importação dos Estados Unidos.

Observando de maneira otimista, a crescente participação do etanol de milho no mercado brasileiro tem aumentado a oferta de biocombustível no País, contribuindo para a retração das importações brasileiras de etanol. De acordo com dados da Unem (União Nacional do Etanol de Milho), atualmente, são 25 biorrefinarias em produção no País, dez novas unidades com autorização de construção e 20 novas já projetadas.

Destaca-se que, embora boa parte das unidades produtoras de etanol a partir do milho se concentre nas regiões Centro-Sul do Brasil, a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) autorizou, no último dia 18 de março, a operação de uma usina de etanol de cereais em Balsas, no Maranhão. A usina processará em torno de um milhão de toneladas de cerais por ano, aumentando também a oferta de etanol nas regiões Norte e Nordeste.

E novas unidades devem surgir no Norte e Nordeste nos próximos anos, como em Luís Eduardo Magalhães, na Bahia. De certa forma, a maior oferta de biocombustíveis nestas regiões tende a diminuir as cotações e a incentivar a população a optar pelos biocombustíveis no ato do abastecimento. Ressalta-se que o Brasil está num cenário de transição energética, que visa a substituição dos combustíveis fósseis pelo emprego de energias limpas e renováveis.

No entanto, uma das preocupações dos produtores já consolidados, em especial os da Paraíba, de Pernambuco e de Alagoas, seria a competição com a oferta e com preços mais atrativos do etanol proveniente do milho. Sendo assim, agentes dessa região já vêm buscando alternativas para otimizar sua comercialização, apostando em novos produtos e/ou no mercado internacional do açúcar.

De fato, ao longo da temporada 2024/25, as usinas produtoras do Nordeste mantiveram-se focadas na produção de açúcar como estratégia, atingindo o mix de 54,49% para o adoçante, superando as expectativas de 52,38%, de acordo com dados da Novabio (Associação dos Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia). Com isso, a oferta local dos biocombustíveis foi afetada, principalmente do etanol anidro.

Os dados mais atuais sobre a produção de etanol no Norte e Nordeste do Brasil apontam que foram moídas mais de 55 milhões de toneladas de cana na temporada 2024/25, com produção de 1,33 bilhão de litros de etanol hidratado (alta de 26,3% frente à safra 23/24) e de 3,65 milhões de toneladas de açúcar (elevação de 12,9%). Para o anidro, houve baixa expressiva na produção, de 19,6%, somando 825,1 milhões de litros, segundo a Novabio, com base nos dados do Sapcana/Mapa (Sistema de Acompanhamento da Produção Canavieira do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

Quanto aos preços parciais da safra 2024/25 dos etanóis anidro e hidratado na região Nordeste, levantamento do Cepea mostra avanços, considerando-se o período de agosto/24 até março/25. Vale ressaltar que, em abril/25, inicia-se oficialmente a safra no Centro-Sul do País, o que leva ao aumento de oferta e ao maior fluxo de etanol aos estados do Norte e Nordeste do Brasil, podendo impactar negativamente as cotações do biocombustível produzido na região e alterando, portanto, o comportamento dos preços no fechamento da safra.

Para o anidro, os preços médios da safra 2024/25 (em termos reais – os valores foram deflacionados pelo IGP-M de março/25) foram de R$ 3,1325/litro em Alagoas, de R$ 3,1711/litro em Pernambuco e de R$ 3,3058/litro na Paraíba, considerando-se os Indicadores CEPEA/ESALQ mensais de agosto/24 a março/25. Na comparação com as médias da temporada anterior, as altas foram de 6,12% em Alagoas, de 6,07% em Pernambuco e de 8,65% na Paraíba.

No caso do etanol hidratado, a média da safra 2024/25 foi de R$ 2,7440/litro em Alagoas, elevação de 5,33% frente à da temporada 2023/24, em termos reais. Em Pernambuco, a média fechou a R$ 2,8291/litro, alta de 3,83%; e, na Paraíba, de R$ 2,8590/litro, valorização de 4,91%, também em termos reais. Ressalta-se que os Indicadores de Pernambuco e da Paraíba apresentam metodologias diferentes das de Alagoas, que considera apenas dados spot nas médias.

A paralisação total da moagem no Nordeste está próxima. Acredita-se que todas as unidades que esmagam cana já terão finalizado suas atividades até abril, considerando-se os maiores produtores – Alagoas, Pernambuco e Paraíba. Segundo levantamento realizado pelo Cepea, 10% das unidades encerraram as atividades em janeiro; 31%, em fevereiro; 52%, em março; e 7% devem terminar a moagem em abril. Ressalta-se que, em Alagoas, já existe uma planta que também utiliza milho para obter etanol, não sendo considerada nestes cálculos.

 

Talita Costa Negri é pesquisadora do Cepea (cepea@usp.br) 

 

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