A S&P Ratings rebaixou o rating de crédito da Adecoagro S.A. de ‘BB’ para ‘BB-’, com perspectiva negativa, refletindo a expectativa de manutenção de níveis mais elevados de alavancagem após a aquisição de 90% da Profertil S.A., produtora argentina de ureia, concluída em 15 de dezembro de 2025. A operação foi avaliada em US$ 1,1 bilhão e financiada por meio de uma combinação de caixa disponível, novas dívidas e capital próprio.
Segundo a S&P, considerando a aquisição e o desempenho operacional mais fraco da Adecoagro, a alavancagem pro forma deve atingir um pico de 3,0 vezes ao final de 2025. A agência avalia que, apesar de a transação indicar uma estratégia de crescimento mais agressiva e maior tolerância à alavancagem por parte da atual controladora, Tether Investments, os preços persistentemente mais baixos do açúcar e das culturas agrícolas devem manter a relação dívida/EBITDA próxima de 3,0 vezes em 2026 e 2027.
Em 18 de dezembro de 2025, a S&P também rebaixou os ratings das notas seniores sem garantia emitidas pela companhia para ‘BB-’, retirando todas as classificações da lista de CreditWatch com implicações negativas, onde haviam sido colocadas em setembro de 2025.
Aquisição da Profertil pressiona métricas financeiras
De acordo com a S&P Ratings, o aumento do endividamento para viabilizar a aquisição da Profertil, somado ao desempenho operacional mais fraco, deve pesar sobre a alavancagem da Adecoagro. A agência projeta que a alavancagem alcance 4,7 vezes ao final de 2025, ou 3,0 vezes em base pro forma, ante 1,6 vez em 2024.
A Adecoagro adquiriu as participações da Nutrien e da YPF na Profertil em dezembro de 2025. O valor total da operação inclui US$ 580 milhões, além dos US$ 100 milhões pagos à Nutrien quando o primeiro acordo foi anunciado, em setembro de 2025. O pagamento remanescente de US$ 400 milhões à YPF está previsto para 2026.
Para suportar esses desembolsos, a companhia utilizou caixa disponível em setembro de 2025, que já incorporava os recursos das notas seniores com vencimento em 2032 emitidas em julho de 2025, além de novas dívidas, incluindo US$ 200 milhões oriundos de uma nova linha de crédito de longo prazo, e US$ 300 milhões captados por meio de uma oferta subsequente de ações, dos quais a Tether aportou US$ 220 milhões.
Desempenho operacional mais fraco
A S&P ressalta que sua projeção de alavancagem também incorpora a performance mais fraca das operações da Adecoagro. A agência estima um EBITDA nominal de US$ 400 milhões em 2025, frente a US$ 569 milhões em 2024, refletindo principalmente preços mais baixos das culturas agrícolas, queda de produtividade nos segmentos de açúcar e etanol e custos mais elevados denominados em dólar, além de um EBITDA pro forma da Profertil de US$ 259 milhões no período.
Para 2026, a S&P projeta que o EBITDA consolidado nominal alcance US$ 629 milhões, com margem de 31,7%, o que permitiria uma redução da alavancagem líquida para 3,0 vezes, ainda assim acima dos níveis históricos inferiores a 2,0 vezes.
Profertil amplia diversificação, mas traz riscos de execução
A Profertil é a maior produtora de ureia da América do Sul, com capacidade de produção de 1,3 milhão de toneladas por ano. A S&P espera que a companhia continue se beneficiando de uma demanda resiliente por fertilizantes na Argentina, país que historicamente é importador líquido de ureia. A agência também destaca a localização estratégica das plantas da Profertil, com acesso próximo ao gás natural, seu principal insumo.
Esses fatores, aliados a preços ainda considerados adequados da ureia, devem contribuir para um EBITDA médio nominal de cerca de US$ 300 milhões em 2026 e 2027, representando entre 45% e 47% do EBITDA ajustado da Adecoagro.
Apesar disso, a S&P aponta riscos relevantes de execução na integração do ativo, especialmente relacionados à gestão de capital de giro e à estratégia de investimentos. Além disso, a agência avalia que as perspectivas operacionais dos demais segmentos da Adecoagro seguem desafiadoras, com pouco espaço para recuperação no segmento de açúcar e etanol, diante da curva futura deprimida do açúcar e da pressão sobre os preços domésticos do etanol, associada à expectativa de queda no preço do petróleo Brent.
A S&P também não espera recuperação dos preços de commodities relevantes, como soja e milho, em 2026, diante da projeção de volumes robustos para as próximas safras.
Mudança de perfil sob novo controlador
Segundo a agência, a aquisição da Profertil sinaliza uma abordagem mais agressiva da Tether Investments, atual controladora da Adecoagro. A transação é a primeira realizada pela companhia após a mudança de controle, em abril de 2025, e a maior de sua história recente. A adição de dívida em um momento de métricas já pressionadas indica, na avaliação da S&P, maior tolerância à alavancagem e preferência por crescimento mais agressivo.
Como fator mitigador, a agência destaca a participação da Tether na oferta subsequente de ações e o compromisso da administração em reduzir a alavancagem para níveis mais próximos do histórico da companhia, compromisso que contou com o apoio dos acionistas. Ainda assim, a S&P revisou a avaliação de gestão e governança da Adecoagro para moderadamente negativa, ante neutra, além de enfraquecer sua avaliação do perfil de risco financeiro.
Exposição à Argentina e perspectiva negativa
A consolidação da Profertil aumentará de forma significativa a exposição da Adecoagro à Argentina. Em 2026, a S&P estima que o país represente cerca de 45% do EBITDA ajustado da companhia, ante 15% a 20% historicamente. Ainda assim, a agência espera que as operações de açúcar e etanol no Brasil e as atividades agrícolas mais rentáveis no Uruguai continuem respondendo pela maior parte do EBITDA, mesmo em um cenário de queda dos preços.
A perspectiva negativa reflete uma probabilidade de uma em três de novo rebaixamento nos próximos 12 a 18 meses. Entre os principais riscos elencados pela S&P estão desempenho operacional mais fraco, dificuldades na integração da Profertil, pressões de liquidez e aumento da exposição à Argentina e às suas políticas de transferência e conversibilidade.
Segundo a agência, o rating pode ser novamente rebaixado caso a alavancagem ajustada permaneça próxima de 4,0 vezes, a liquidez continue se deteriorando ou a estratégia financeira siga mais agressiva. Por outro lado, a perspectiva pode ser revisada para estável caso a Adecoagro reduza a alavancagem para cerca de 3,0 vezes ou menos até o fim de 2026 e 2027, mantendo gestão conservadora de capital de giro, crescimento e remuneração aos acionistas, além de preservar uma posição de liquidez adequada.
Natália Cherubin para RPAnews

