A S&P Global Ratings rebaixou o rating de crédito de emissor da Raízen S.A. na Escala Nacional Brasil de ‘brAAA’ para ‘brAA+’, mantendo perspectiva negativa, conforme comunicado divulgado em 16 de dezembro de 2025. Segundo a agência, a decisão reflete o aumento sequencial da alavancagem, impulsionado pela combinação entre preços mais baixos do açúcar e elevada carga de juros, que tem pressionado de forma consistente a estrutura de capital da companhia.
De acordo com a S&P, a dívida líquida ajustada sobre EBITDA deve alcançar 4,4 vezes ao final do ano fiscal de 2026, acima de 3,5 vezes em março de 2025 e 2,0 vezes em março de 2024. A expectativa é que a alavancagem atinja um pico próximo a 5,0 vezes em março de 2027, com reversão apenas parcial nos anos seguintes, permanecendo ainda acima de 4,0 vezes.
A perspectiva negativa reflete, segundo a agência, uma probabilidade de uma em três chances de novo rebaixamento nos próximos seis a doze meses, caso a alavancagem ultrapasse de forma consistente o patamar de 5,0 vezes, enquanto o fluxo de caixa operacional livre (FOCF) permaneça negativo, dificultando a redução do endividamento bruto.
Pressão operacional e cenário de preços
No fundamento da ação de rating, a S&P destaca o crescimento persistente da alavancagem em meio à queda dos preços do açúcar. A agência projeta moagem consolidada de cerca de 72 milhões de toneladas na safra atual, ante 78 milhões de toneladas na safra anterior, resultado tanto das vendas de usinas anunciadas quanto de uma quebra de safra associada a condições climáticas adversas, principalmente no ano fiscal de 2025.
Segundo a S&P, os preços do açúcar atingiram os níveis mais baixos dos últimos cinco anos, em função da maximização do mix no Brasil e de safras robustas na Índia e na Tailândia. Esse cenário deve prejudicar significativamente as margens de açúcar e etanol da Raízen a partir do ano fiscal de 2027, quando os volumes de fixações estarão em patamares menores.
Por outro lado, a agência ressalta que a companhia apresentou resultados satisfatórios no segmento de distribuição de combustíveis, com aumento de volumes e recuperação da rentabilidade. O EBITDA por metro cúbico atingiu R$ 167 nos primeiros seis meses do ano fiscal de 2026 e R$ 182 no trimestre mais recente, frente a R$ 151 e R$ 156 registrados nos mesmos períodos do ano anterior, respectivamente. Ainda assim, a S&P avalia que essa melhora não é suficiente para compensar a pressão estrutural sobre a alavancagem.
Estratégia de expansão e endividamento
A S&P observa que decisões estratégicas voltadas à expansão nos últimos anos aumentaram a dependência de dívida. A Raízen havia adotado um plano que previa alcançar 20 plantas de etanol de segunda geração (E2G), expandir a geração distribuída de energia e promover crescimento agressivo da rede Oxxo no Brasil, por meio de uma joint venture com a Femsa. Essas decisões foram tomadas em um ambiente de juros mais baixos e expectativa de maiores prêmios para produtos como o E2G, mas acabaram deixando a companhia mais exposta a fatores externos.
Posteriormente, a empresa desinvestiu dos projetos de geração distribuída, saiu da joint venture com a Femsa — mantendo presença apenas na Shell Select — e reduziu os projetos de E2G para cinco plantas, embora a alavancagem siga pressionada.
Venda de ativos e fluxo de caixa
Os anúncios de vendas de ativos realizados nos últimos meses, que somaram cerca de R$ 5 bilhões, além de cortes de custos estimados entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões, foram considerados insuficientes pela S&P para reverter a tendência de crescimento da alavancagem. A agência avalia que, embora esses desinvestimentos reduzam o capex de manutenção e as necessidades de capital de giro, eles não permitem a retomada do FOCF em níveis capazes de reduzir o endividamento nominal e a elevada carga de juros.
A S&P projeta despesa financeira líquida de cerca de R$ 8 bilhões no ano fiscal corrente, somada a capex próximo de R$ 9 bilhões, valores significativamente superiores ao EBITDA projetado de cerca de R$ 13 bilhões. Para o ano fiscal de 2027, o cenário permanece semelhante, com despesa financeira líquida de R$ 7,7 bilhões, capex de R$ 7 bilhões e EBITDA também em torno de R$ 13 bilhões, resultando em fluxo de caixa operacional livre negativo em todo o período projetado.
Capitalização e perspectiva
A agência destaca que a Raízen tem reiterado a busca por soluções junto a acionistas e parceiros estratégicos para endereçar sua estrutura de capital. No entanto, a S&P não considera nenhuma injeção de capital em seu cenário-base, dada a incerteza quanto à execução e ao cronograma, ressaltando que reavaliaria suas projeções caso uma capitalização relevante se concretize.
Segundo a S&P Global Ratings, a perspectiva negativa indica expectativa de deterioração adicional das métricas de alavancagem ao final das safras 2026 e 2027. A agência projeta dívida líquida sobre EBITDA próxima a 4,4 vezes em 2026, subindo para cerca de 5,0 vezes em 2027, com consumo de caixa elevado pelo menos até o fim de 2027.
Com isso, o rating de crédito de emissor da Raízen na Escala Nacional Brasil passou a brAA+/Negativa, com perfil de risco financeiro e de alavancagem classificados como agressivos, liquidez avaliada como suficiente e análise holística positiva, conforme avaliação da S&P Global Ratings.
Natália Cherubin para RPAnews

