Como o Sphenophorus levis se tornou um dos maiores desafios para a cana-de-açúcar no Brasil e o que é preciso saber para controlá-lo
O Sphenophorus levis ou Bicudo da cana-de-açúcar como alguns chamam, vem se tornando uma das pragas mais destrutivas para a cultura da cana-de-açúcar no Brasil, provocando perdas que chegam a 20% da produtividade em áreas infestadas. É uma praga relativamente recente no cenário dos canaviais brasileiros, mas que ganhou destaque após a proibição das queimadas da cana-de-açúcar, especialmente na região Centro-Sul, onde a praga se tornou mais prevalente.
“Com mais palha no canavial, criou-se um ambiente altamente favorável à proliferação da praga, que se disseminou principalmente pela movimentação de mudas. Hoje, o Sphenophorus é uma das principais pragas e um dos maiores desafios tanto para fornecedores quanto para as usinas”, afirmou André Mattiello, responsável pela área de Desenvolvimento de Mercado da BASF, em entrevista ao DaCanaCast (Assista aqui).
Ele explica que o dano causado é subterrâneo, concentrado nos rizomas da planta, tornando o ataque silencioso e de difícil detecção nos estágios iniciais. A larva, principal forma que causa os danos, escava galerias nos rizomas, afetando o sistema vascular da cana e comprometendo a absorção de água e nutrientes. Como consequência, a planta sofre definhamento, manifestando sintomas visíveis como o amarelecimento das folhas mais velhas (clorose foliar), redução do perfilhamento e, em casos mais severos, o tombamento das touceiras.
“Em infestações graves, a mortalidade pode alcançar até 90% das plantas no canavial. Além disso, o Sphenophorus possui um ciclo biológico noturno e subterrâneo, o que dificulta a visualização do inseto, exigindo o desenterramento das touceiras para sua detecção. O avanço rápido e agressivo da praga de uma safra para outra exige atenção e monitoramento rigoroso, pois a falta de manejo precoce pode levar à perda da longevidade do canavial, antecipando a necessidade de reformas e aumentando os custos para fornecedores e usinas”, explicou Mattiello em entrevista.
Redução da produtividade e impactos econômicos
De acordo com estudos de especialistas e pesquisadores renomados, estima-se que para cada 1% de toco atacado pelo Sphenophorus levis detectada no canavial, há uma redução de aproximadamente uma tonelada na produtividade de cana por hectare.
Assim, segundo Mattiello, “infestações de 20% a 30% de tocos atacados, que não são incomuns na região Centro-Sul, podem resultar em perdas de 20 a 30 toneladas por hectare. Por exemplo, uma produtividade inicialmente estimada em 80 toneladas pode cair para entre 50 e 60 toneladas, dependendo do grau de infestação pelo Sphenophorus. Além da perda direta de produção, há também um impacto econômico significativo decorrente do aumento dos custos, especialmente se for necessária uma reforma antecipada do canavial. Isso significa que, em vez de realizar seis cortes previstos, o produtor pode realizar apenas cinco, perdendo a receita de um ano inteiro, além de arcar com os custos financeiros antecipados para replantio e manejo, elevando ainda mais o prejuízo”.
Em canaviais mais antigos ou que não tiveram um controle eficaz nos ciclos anteriores, a população pode atingir níveis muito altos, com perdas que variam de 10% a 20% na produção, o que se traduz em até R$ 3 mil por hectare em prejuízo financeiro.
“O grande desafio do Sphenophorus é que sua fase larval ocorre dentro do rizoma, no subsolo, dificultando o controle com inseticidas tradicionais que atuam por contato,” explica.
Ciclo e monitoramento: bases para um manejo eficaz
Entender o ciclo do Sphenophorus é fundamental para o manejo. Mattiello observa que o ciclo da praga favorece sua persistência e expansão, o que torna o monitoramento uma prática indispensável para o produtor. “Sem um acompanhamento rigoroso, a população pode se desenvolver sem controle, levando a um dano severo e que é mais difícil de remediar,” alerta.
Esse monitoramento demanda muito trabalho de campo, com inspeções constantes, incluindo o desenterramento das touceiras para avaliação da infestação, entre outras metodologias. Esse processo é muito custoso, especialmente para usinas de grande porte que manejam áreas extensas, de 30 a 40 mil hectares, tornando difícil manter uma equipe de monitoramento constante devido aos altos custos envolvidos.
“O setor tem enfrentado grandes desafios, e, na minha opinião, estamos perdendo a guerra contra o Sphenophorus, pois ano após ano a praga se intensifica e se espalha para novas regiões, já estando presente no Centro-Oeste e avançando para o Nordeste, onde ainda não representa um problema significativo, mas logo poderá ser. Assim, tanto a indústria quanto os fornecedores e as usinas ainda estão em processo de aprendizado para recomendar e implementar manejos mais modernos, adequados e adaptados à realidade atual, buscando controlar melhor essa praga tão destrutiva”, destacou.
O monitoramento frequente permite identificar níveis iniciais de infestação e direcionar o controle no momento correto, aumentando a chance de sucesso do manejo, que feito de forma preventiva é fundamental, pois, uma vez estabelecida a praga em uma área, sua erradicação torna-se extremamente difícil — na prática, não há relatos de áreas que tenham ficado 100% livres do Sphenophorus após o estabelecimento da população. Além disso, trata-se de um inseto com ciclo biológico muito rápido, completando toda a sua metamorfose — de ovo, larva, pupa a adulto — em cerca de 60 a 70 dias. Isso significa que, durante uma safra, podem ocorrer até cinco gerações consecutivas, o que torna a proliferação e disseminação muito agressiva.
“Diante disso, a BASF recomenda algumas práticas essenciais para o manejo preventivo, começando pela rotação de culturas. Essa técnica é aplicada principalmente nos anos de reforma dos canaviais, quando o solo fica “descansando” com cultivos alternativos, como soja, milho ou crotalária, criando um vazio sanitário que quebra o ciclo da praga”, afirma Mattiello.
Outra prática essencial, segundo o especialista, é o uso de mudas sadias, já que a disseminação do Sphenophorus ocorre principalmente por meio do transporte dessas mudas contaminadas. Além disso, o controle biológico com nematoides e fungos entomopatogênicos, como o Beauveria bassiana, tem se mostrado eficaz para reduzir populações da praga. “Por fim, a ferramenta principal para o manejo estratégico é o controle químico, com intervenções pontuais utilizando produtos específicos. Nesse contexto, a BASF oferece o Regent® Duo, um inseticida com ação diferenciada, indicado para o controle eficiente dessa praga subterrânea, complementando as práticas preventivas e contribuindo para a proteção dos canaviais”, destacou.
Tecnologia e controle químico: soluções BASF para o Sphenophorus
Diante da dificuldade de alcançar as larvas no interior dos rizomas, a BASF investiu em tecnologias específicas para o controle do Sphenophorus. André Mattiello destaca o Regent® Duo como uma das principais ferramentas disponíveis no mercado. O produto combina dois modos de ação, oferecendo um efeito choque imediato e um residual prolongado no solo, o que é essencial para eliminar as larvas que vivem dentro do rizoma.
A tecnologia é composta por dois princípios ativos que atuam de forma complementar para o controle eficiente. O primeiro é o Fipronil, um composto da classe dos pirazóis que provoca hiperexcitação nos insetos, levando à morte tanto por contato quanto por ingestão. Ele possui um efeito residual prolongado devido às suas características físico-químicas, que garantem baixa degradação e longa persistência no solo, protegendo o canavial por mais de 180 dias após a aplicação.
O segundo princípio ativo é a Alfa-cipermetrina, um inseticida da classe dos piretróides que paralisa o sistema nervoso dos insetos e causa o efeito de knockdown, ou seja, um choque rápido que elimina os adultos rapidamente. Essa combinação proporciona um duplo modo de ação, atuando em todas as fases do ciclo da praga — desde as larvas e pupas até os adultos, inclusive matando fêmeas durante a oviposição, se o produto alcançar esse estágio.
“Além disso, o Regent® Duo é eficaz em baixas doses, o que o torna uma ferramenta estratégica importante para usinas e fornecedores no manejo do Sphenophorus”, destacou Mattiello durante entrevista ao DaCanaCast.
“Com o Regent® Duo, temos um duplo modo de ação que potencializa a eficácia do controle, tanto eliminando a praga rapidamente quanto mantendo um efeito residual no solo para impedir novas infestações,” explica. Dados técnicos indicam que o uso correto do produto pode reduzir em até 85% a população do Sphenophorus, um resultado expressivo para a sustentabilidade da lavoura.
A recomendação para a aplicação do Regent® Duo é principalmente via corte de soqueira, utilizando equipamentos específicos para essa modalidade, com doses que variam de 1,1 a 1,5 litros por hectare, em volumes de calda entre 100 e 200 (na bula o máximo é 200L/hectare) litros por hectare.
Como alternativa, também é possível aplicar o produto junto com a vinhaça, uma prática recente que otimiza a logística das usinas. “Testes comprovaram a total compatibilidade do Regent® Duo com a vinhaça, sem riscos para a eficácia do produto. O momento ideal para a aplicação é logo após o corte da cana, quando a brotação inicia, coincidindo também com a distribuição da vinhaça pelas usinas. Essa estratégia preventiva visa evitar que infestações iniciais se tornem explosivas, considerando que o Sphenophorus pode migrar entre talhões em busca de alimento, tornando fundamental o manejo integrado em todas as áreas da propriedade”, disse.
Além do controle do Sphenophorus, o Regent® Duo também tem efeito contra outras pragas, como cupins e broca, ajudando a suprimir essas populações e contribuindo para o manejo integrado.
“Para canaviais de início e meio de safra, em que se busca um efeito residual prolongado, o Regent® Duo é a escolha recomendada. Já para o final da safra, quando as chuvas regularizam e há maior necessidade de controle sistêmico, a BASF dispõe de produtos à base de neonicotinoides, como o Entigris® (à base de dinotefuran e alfa-cipermetrina), que será recomendado futuramente também para o controle do Sphenophorus, além da cigarrinha, ampliando as opções de manejo ao longo do ciclo da cultura”, detalhou Mattiello.
Práticas culturais e manejo integrado: prevenção como aliada
Para complementar o controle químico, Mattiello ressalta que o manejo integrado é fundamental. Entre as práticas indicadas estão a eliminação de restos culturais infestados, o preparo adequado do solo e a rotação de culturas para quebrar o ciclo do Sphenophorus. “A combinação de monitoramento, uso correto dos inseticidas e práticas culturais robustas é o que garante o controle eficaz da praga e a manutenção da produtividade,” finaliza.
A BASF recomenda o uso do Regent® Duo em sinergia com produtos biológicos, pois ele apresenta alta compatibilidade com a maioria dos produtos disponíveis no mercado. Mattiello destaca como exemplo o Muneo® Biokit, que combina princípios ativos químicos, como fipronil e alfa-cipermetrina (presentes também no Regent® Duo), com uma bactéria fixadora de nitrogênio, promovendo um manejo integrado eficaz.
“Com mais de 14 anos no mercado, o Regent® Duo tem se mostrado uma das ferramentas químicas mais eficazes no controle do Sphenophorus. Apesar do aumento constante da infestação nas áreas, com casos de até 30% de touceiras atacadas, os testes indicam que, com manejo correto e aplicações sequenciais, é possível reduzir esse índice para menos de 2% na mesma safra. O controle não é imediato, pois é necessário quebrar o ciclo da praga, que tem múltiplas gerações por safra, e aguardar a renovação dos rizomas para observar a recuperação do canavial, demonstrando a importância do manejo contínuo e integrado”, conclui.