A instalação da primeira turbina 100% movida a etanol no País, no Distrito Industrial de Suape (PE), marca um movimento que pode reposicionar o etanol na matriz elétrica brasileira e transformar a geração térmica, hoje baseada majoritariamente em combustíveis fósseis. A iniciativa, segundo divulgado no Jornal do Comércio de PE, nasceu de uma proposta feita há pouco mais de um ano por executivos da Suape Energia e da Wärtsilä à matriz finlandesa da companhia, que inicialmente recebeu o pedido com surpresa, mas decidiu aceitar o desafio.
A parceria agora se concretiza com a apresentação da turbina, instalada na planta da Suape Energia, controlada pelo empresário Carlos Alberto Mansur com participação de 20% da Petrobras. Testado na Finlândia, o equipamento deve ser finalizado pelos técnicos da fabricante até o fim de dezembro, acrescentando 4 MW de energia firme como a 18ª unidade da usina, que hoje soma 380 MW despachados pelo ONS.
Por se tratar de uma tecnologia ainda não homologada pelo Ministério de Minas e Energia, Aneel e ONS, a turbina precisará operar por um ano em testes antes de ter sua energia integrada ao Sistema Interligado Nacional. Apesar da limitação inicial — que exige a compra de etanol para abastecimento —, a solução tem despertado forte atenção no setor elétrico, na EPE, na Petrobras, no mercado livre e entre produtores de etanol.
O potencial de mercado é expressivo. Apenas no Norte-Nordeste, 37 usinas podem se tornar fornecedoras do biocombustível. Representantes da Wärtsilä enxergam ainda uma oportunidade em novos segmentos, como datacenters, com a integração de energia solar, eólica, turbinas a etanol e baterias de armazenamento, garantindo potência firme para operações digitais intensivas.
O presidente da EPE, Thiago Prado, que conheceu a turbina em Suape, avalia que a tecnologia pode ganhar espaço nos próximos leilões de potência da Aneel. Já no setor marítimo, a perspectiva é ampliada por gigantes como Maersk e MSC, que avançam no uso de etanol em frotas de 1,5 mil navios. A exigência da Organização Marítima Internacional para que, a partir de 2026, navios utilizem 10% de combustível renovável pode abrir um mercado estimado em 50 bilhões de litros de etanol — contra os 37 bilhões produzidos pelo Brasil por safra.
A expectativa também se estende ao setor de datacenters. O professor Reive Barros, da Conferência Ibero-Brasileira de Energia (Coniben), afirma que a nova tecnologia reforça a necessidade de estruturas off-grid, com usinas térmicas acopladas a parques solares e eólicos, reduzindo a dependência de linhas de transmissão e posicionando o Nordeste em vantagem diante da demanda global por infraestrutura de dados.

