Um esquema fraudulento que provocou prejuízos de cerca de R$ 45 milhões a investidores levou à condenação do grupo Comanche pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em uma decisão confirmada neste ano, em segunda instância, pelo Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional (CRSFN). A operação, segundo apuração do jornal Metrópoles, envolve suspeitas de ligação com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
A fraude foi articulada por meio do fundo Comanche Clean Energy FIDC Mercantis, estruturado em 2010 com a proposta de captar recursos no mercado a partir de direitos creditórios de um contrato de fornecimento de etanol firmado entre usinas do grupo e a BR Distribuidora. No entanto, de acordo com a CVM, o contrato já vinha sendo descumprido antes mesmo da captação. Em dezembro de 2009, o fornecimento de etanol foi completamente interrompido, o que foi omitido nos documentos apresentados aos investidores.
Entre junho e outubro de 2010, o fundo captou R$ 45 milhões, envolvendo fundos de pensão estatais e a Prefeitura de Campos dos Goytacazes (RJ). As investigações mostram que os recursos foram desviados para capitalizar empresas do próprio grupo Comanche e beneficiar terceiros — entre eles, Victor Mariz Taveira e Alberto dos Santos Rodrigues, sócios da Acrux Administração de Recursos, gestora responsável pelas carteiras do fundo.
Taveira e Rodrigues chegaram a tentar um termo de compromisso com a CVM, oferecendo R$ 1,05 milhão para encerrar o processo. A proposta foi rejeitada. Em maio de 2023, ambos foram condenados em primeira instância, e a Acrux recebeu multa superior a R$ 2,25 milhões. Taveira foi ainda proibido de atuar em atividades supervisionadas pela CVM por três anos. No entanto, em fevereiro de 2025, os três foram absolvidos pelo CRSFN, que entendeu que não houve provas suficientes de envolvimento direto na fraude. A responsabilização, contudo, foi mantida para os integrantes do grupo Comanche.
A CVM também condenou Alicia Navar Noyola, fundadora e vice-presidente da holding controladora do grupo. Ela teria atuado diretamente no desvio de recursos e fornecido informações falsas aos investidores.
A denúncia que deu origem ao caso foi apresentada em setembro de 2014, mas o processo só foi instaurado formalmente em 2018. Após mais de uma década, o julgamento foi concluído em maio de 2025 com a decisão final do CRSFN.
Conexões com o PCC
O grupo Comanche também é alvo da Operação Carbono Oculto, que apura um amplo esquema de lavagem de dinheiro ligado ao PCC. Segundo o Ministério Público, a Comanche Biocombustíveis de Santa Anita é considerada peça-chave no esquema por sua atuação no setor de combustíveis e forte conexão com os líderes Mohamad Hussein Mourad e Roberto Augusto Leme da Silva.
As investigações indicam que o grupo utilizava empresas de fachada e intermediários para esconder a verdadeira estrutura societária das usinas e aplicar fraudes fiscais e de lavagem de capitais.
Procuradas pelo Metrópoles, Comanche e Acrux não se pronunciaram.