A Usina Jatiboca, localizada em Urucânia, na Zona da Mata mineira, decretou falência na terça-feira (22) e anunciou o encerramento de suas atividades até 10 de novembro. A decisão representa a demissão de mais de mil trabalhadores diretos e cerca de cinco mil indiretos, além de um forte impacto social e econômico em toda a região.
Segundo informações do jornal Diário do Comércio, a empresa, uma das mais tradicionais produtoras de açúcar e álcool do estado, já havia comunicado previamente os funcionários sobre a paralisação. Inicialmente, a interrupção das atividades estava marcada para 31 de outubro, mas foi adiada para permitir negociações sobre as rescisões. O anúncio de que os acertos trabalhistas seriam pagos de forma parcelada gerou protestos entre os colaboradores.
Atualmente, a Jatiboca emprega diretamente cerca de 1.100 pessoas na entressafra, chegando a quase 2.000 durante a safra da cana-de-açúcar. A companhia tem capacidade para produzir cerca de 1 milhão de sacas de açúcar e 32 milhões de litros de álcool por safra. E, de acordo com o site da usina, cerca de 20% da cana processada é comprada de fornecedores de cana, aproximadamente 400 proprietários rurais da região, que além de produzir cana, cultivam outras lavouras, além da pecuária.
O bagaço da cana segue para as caldeiras que produzem o vapor que será utilizado no processo de fabricação e para a geração de energia elétrica. A energia obtida é suficiente para o acionamento da fábrica e o excedente pode ser vendido para as distribuidoras.
Mais da metade dos trabalhadores está no campo, enquanto o restante atua na planta industrial. Indiretamente, a companhia gera cerca de 5 mil postos de trabalho, além de movimentar a economia regional com milhões de reais injetados mensalmente e garantir renda a arrendatários de terras e fornecedores de cana.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Urucânia (STRU), José Luiz da Anunciação, destacou que muitos trabalhadores dedicaram a vida à empresa e estavam prestes a se aposentar, mas agora terão de adiar seus planos. Já o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação de Ponte Nova e Outros Municípios (SITIAPM), Júlio César Rodrigues da Silva, afirmou que a região possui mercado para parte da mão de obra, mas não para todos, o que pode desvalorizar os salários.
Entre as justificativas apresentadas pela direção da empresa para o fechamento estão as dificuldades relacionadas à falta de matéria-prima e de mão de obra, sobretudo para as atividades no campo. Rumores sobre a paralisação ou venda da usina circulavam há tempos, mas a companhia negava. “Dessa vez, informaram que já tinham feito um cronograma de encerramento das atividades e que seria mais viável encerrar e acertar com todo mundo do que correr risco de ter uma safra que dê mais prejuízo sem garantia de manter todos os funcionários e que terão dinheiro para pagar”, disse Silva, do SITIAPM.
Segundo o jornal Diário do Comércio, a empresa chegou a afirmar que havia interessados na compra da usina, mas as negociações não avançaram. O presidente do STRU reforçou que ainda existe investidor interessado, mas parte dos acionistas não aceita vender. Um encontro está sendo articulado para tentar reverter a situação, embora haja pouca expectativa de sucesso.
O impacto da falência vai além do aspecto econômico. Ex-funcionários usaram as redes sociais para manifestar tristeza e preocupação. “Muito triste pra cidade e nossa região. Povo desempregado, lugar onde nasci e trabalhei, minha família também trabalhava aí… muito triste”, desabafou um morador.
Na Câmara Municipal de Urucânia, o vereador Paulo Mateus já havia alertado para o risco de fechamento e pediu apoio das autoridades locais e estaduais.
Fundada em 1920 pelo Sr. Custódio Martins da Silva, em parceria com Carlos Fonseca Brandão e Acácio Martins da Costa, a Jatiboca foi responsável por impulsionar o desenvolvimento da região. A primeira produção de açúcar aconteceu em 1925, e o primeiro litro de álcool, em 1981. Durante décadas, a usina foi o coração econômico e social de Urucânia, onde famílias inteiras tiveram seu sustento garantido e sua história marcada pela empresa.
Natália Cherubin para RPAnews
