Enquanto você pensava que o grande duelo do século seria entre etanol e gasolina, ou entre bandeira branca e bandeira famosa, vem aí um plot twist que nem os roteiristas de novela da Globo previram: a fusão (ou seria casamento?) entre a tradicional Volkswagen e a novata elétrica BYD.
De um lado, a VW, símbolo da engenharia alemã, com cheiro de gasolina ou etanol e décadas de história. Do outro, a BYD, chinesa esperta, que já chega na festa perguntando onde é a tomada mais próxima. Juntas, podem se tornar o “Frankenstein elétrico” que vai mexer com o mercado automotivo global — e, claro, com nosso velho conhecido: o posto de combustíveis da esquina.
Não, o diesel não vai sumir amanhã. E calma, ainda teremos motoristas dizendo que carro bom é o que “ronca forte”. Mas o recado está dado: a eletrificação é inevitável — o que não significa que seja rápida, barata ou igual para todos.
O que muda para os postos?
Primeiro, o movimento nos bastidores. Donos de postos já estão sondando terrenos e tetos para instalar eletropontos. Uns querem seguir tendência, outros só não querem ficar para trás. Mas entre o querer e o poder, há um investimento razoável, um ROI incerto e um consumidor que ainda ama seu carro a combustão.
E para os distribuidores?
Aqui entra a parte que dói: menos consumo de combustíveis fósseis, no médio e longo prazo. Mas antes que alguém comece a ensaiar o velório do diesel, lembremos: o Brasil ainda tem estrada de terra, caminhão rodando 1.000 km sem parar e um agronegócio que não anda de carro elétrico.
E o consumidor?
Esse vai adorar. Vai querer saber se o novo “BYD com DNA VW” vai ter preço de Gol e autonomia de Tesla. Se a bateria dura mais que sogra em churrasco. Se o carro carrega na tomada ou precisa de um curso técnico. Vai comparar, duvidar, testar. Mas, no fundo, vai adorar ter escolha.
Bem… enquanto isso, nos Estados Unidos, a política trumpista ensaia sua volta com foco no velho e bom petróleo, prometendo sobretaxar produtos de fora e botar freio na invasão chinesa. A fusão BYD-VW, então, talvez seja mais do que só uma união comercial. Pode ser o esboço de uma resposta geopolítica, unindo China e Alemanha para pressionar a indústria automobilística americana. Um jogo de xadrez elétrico em escala global.
Posto que é posto sobrevive de vender o que o cliente quiser comprar — seja gasolina, água de coco ou quilowatt-hora. O importante é se preparar, observar e, principalmente, não cair na armadilha do “isso nunca vai pegar”.
No fim, essa fusão não é uma sentença — é um sinal. E, como dizia um velho frentista filósofo: “quem dorme no ponto, não abastece o futuro.”
*Wladimir Eustáquio Costa é CEO da Suporte Postos, especialista em mercados internacionais de combustíveis, conselheiro e interventor nomeado pelo CADE, com foco em governança e estratégia no setor downstream.