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Opinião

Açúcar: Fragmentos de um retrato difuso

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Grande parte das commodities encerrou a semana em alta levando junto o mercado futuro de açúcar cujo contrato com vencimento para julho/21 finalizou o pregão de sexta-feira cotado a 17.36 centavos de dólar por libra-peso.

A alta de 70 pontos na semana (mais de 15 dólares por tonelada) pode ter explicação na combinação de vários ingredientes: cenário macro, valorização do real em relação ao dólar (2.60% na semana) encostando o hidratado na paridade com o açúcar (apenas 50 pontos de desconto contra NY) e o déficit hídrico que assola as regiões canavieiras no Brasil.

Para corroborar com a tese valorização do real vs. açúcar NY, chama-nos atenção o fato de que o real tem influído diretamente com NY, pelo menos tem sido assim nos últimos 50 pregões. A correlação chega a 0,85 o que indica que uma valorização da moeda brasileira implica numa valorização da cotação do açúcar em NY.

Quanto ao déficit hídrico, cinco estados brasileiros estão sob alerta de emergência hídrica, situação que as autoridades classificam como “severa”. Desde 1910, quando o País começou a coletar dados meteorológicos, esta é primeira vez que esse tipo de alerta é disparado. A cotação do café em NY chegou no ponto mais alto desde novembro de 2016. A previsão de chuvas ainda é desanimadora.

Mesmo com o mercado em alta, a valorização do real achatou a curva de preços do açúcar em reais por tonelada para as safras 22/23 e 23/24. Os preços médios caíram cerca de R$ 20 por tonelada na semana. Reforçamos nossa estratégia de fixar preços em reais por tonelada para as safras mencionadas e, concomitantemente, comprar calls (opções de compra) out-of-the-money (opções fora-do-dinheiro) com preço de exercício 200 pontos acima do nível de mercado.

Os fundos não indexados reduziram suas posições compradas em 16,000 lotes na semana (terça a terça) segundo o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, divulgado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities. No período, o mercado oscilou apenas 17 pontos.

Atenção: os fundos venderam 16,000 lotes e o mercado caiu apenas 17 pontos!!! Isso pode indicar que o suporte do mercado está provisoriamente no nível de 17 centavos de dólar por libra-peso. A conferir.

O preço médio do hidratado em maio é o maior valor nominal deste século. Não é, no entanto, o valor mais alto em dólares. O recorde pertence ao mês de março de 2011 quando o hidratado foi negociado a US$ 0,9822 por litro posto usina sem impostos.
Interessante notar que o mês de maio encerra com a média mensal de 17.21 centavos de dólar por libra-peso (100 pontos acima do que o nosso modelo previu), a maior média mensal do ano, fato que nunca ocorreu de 2000 para cá, pois em geral o período abril/maio/junho/julho é aquele em que ocorrem os menores preços médios do ano. Já os maiores preços médios do ano se concentram em dezembro, janeiro e fevereiro. Ou seja, estamos numa situação bastante inusitada.

A MB Associados, em seu site, estima o dólar para final de 2021 em R$ 5,6000 e R$ 5,8000 para o final de 2022. A recomendação nossa é monitorar com muita dedicação a exposição em dólar. Teremos muitos solavancos ainda em função da crise sanitária e suas repercussões na economia e no ambiente político. Não se apaixone pela sua posição.

O que podemos depreender do confuso retrato que se mostra à nossa frente é que o apetite dos fundos pode estar acabando; o fortalecimento do real embora temporário vai segurar as cotações de açúcar; 16-17 centavos podem se consolidar como um suporte de preços no médio prazo.

Caso haja um recrudescimento da pandemia o real volta a cair, mas a aceleração visível nas principais economias (exceção ao Brasil) deve fazer com que o petróleo se aprecie e – se mantida a paridade com o preço internacional – a gasolina sobe aqui dentro. Preocupa sobremaneira a inflação de custos, o IGPM está disparando e as usinas (re)fazem seus custos assustadas com o aumento dos insumos. Como se vê, é um mercado afetado por fragmentos interrelacionados ou independentes que fazem o processo decisório estressante.

A participação do Itaú BBA na criação de uma trading voltada ao setor agrícola no Brasil mostra que a instituição está atenta às oportunidades que saltam aos olhos daqueles que acompanham o mercado há vários anos.

O número de tradings que negociavam commodities no Brasil, sejam empresas brasileiras ou estrangeiras, e que desapareceram nos últimos 20 anos é alarmante (na minha conta, mais de 15 pelo menos). Na raiz desse sumiço estava a instabilidade do fluxo de caixa, o risco das contrapartes, a má gestão e o conhecimento frouxo do mercado de derivativos. Existe margem sustentável em commodities e o Itaú BBA deve ter percebido isso.

Os bancos europeus e americanos que financiavam largamente a indústria nos anos 1980 e 1990 foram incapazes de se adaptar a um mercado com menores margens e tomaram riscos inaceitáveis que resultaram em pesados prejuízos que pulverizaram a participação dos bancos no setor. Para o setor é uma ótima notícia. Se a instituição for bem sucedida outros deverão seguir o mesmo caminho.

O mercado precisa de empresas com criatividade, trazendo soluções aos produtores e demais participantes da extensa cadeia do agronegócio. A BASF, empresa líder mundial na indústria química, realizou uma primeira operação de troca de insumos agrícolas por créditos de carbonização (CBios) com uma empresa de grãos e insumos agrícolas do Rio Grande do Sul. Essa modalidade de negócio pode abrir um imenso mercado para as usinas de açúcar.

O Brasil se aproxima das 500.000 mortes por covid-19 e os especialistas da área de saúde alertam para o fato de que muito provavelmente vamos ter uma terceira onda ainda mais letal do que as duas anteriores.

Caso isso realmente ocorra e for seguido por mais um período de bloqueio e isolamento, a economia vai sentir o duro golpe. Estamos nessa situação macabra porque o País é comandado por uma pessoa desequilibrada, com sérios problemas cognitivos que por capricho, vaidade, falta de empatia, desmesurada fome de poder, ou seja lá qual problema psicológico for, fechou os olhos à compra de 56 milhões doses em outubro do ano passado.

Tivéssemos iniciado a vacinação mais cedo dezenas de milhares de vidas teriam sido poupadas. E o que faz o ignaro ocupante do Executivo? Continua em seus desvarios receitando poções mágicas para a cura da doença, negando peremptoriamente a ciência, dando uma banana para as famílias enlutadas e celebrando a morte ao estimular aglomerações com seus devotos sem máscara em verdadeira apoteose ao escárnio e ao barbarismo. Quando pensávamos que tínhamos nos livrado do inferno ao despacharmos a organização criminosa que estava no poder nas eleições de 2018, na verdade só mudamos de sala.

*Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting

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