Um dia antes da entrada em vigor do Acordo de Paris de combate ao aquecimento global, a Organização das Nações Unidas fez na manhã desta quinta-feira (3) um alerta. O mundo só vai conseguir evitar os piores efeitos das mudanças climáticas se fizer um corte adicional de 25% nas emissões de gases de efeito estufa até 2030 em relação ao que já estava previsto. O dado consta do Gap Report, relatório feito pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que todo ano mede a lacuna entre as ações que a humanidade está tomando para diminuir a quantidade de gases que é lançada na atmosfera e o quanto de fato precisaria estar sendo feito a fim limitar a elevação da temperatura do planeta suba a menos de 2°C até o final do século. O cálculo leva em conta estudos que estimam qual é o máximo de gases como CO%2 (dióxido de carbono) e CH— (metano) que os países poderiam estar emitindo naquele ano para ser compatível com essa temperatura. Esses gases, capazes de aprisionar o calor na Terra, se acumulam na atmosfera e levam muitos anos para se dissiparem. No caso do CO%2, estamos falando de até mil anos. Como atualmente já vivemos com a maior concentração deles em milhares de anos, as emissões têm de cair drasticamente para evitar os piores danos das mudanças climáticas, como tempestades mais intensas, secas mais prolongadas e um maior aumento do nível do mar. Pela conta, em 2030 todos os países juntos deveriam emitir no máximo 42 gigatoneladas de CO%2 equivalente (a soma de todos os gases de efeito estufa convertidos em dióxido de carbono), mas considerando o ritmo de ações atuais e os compromissos assumidos pelos países junto ao Acordo de Paris, a emissão do mundo estará entre 54 e 56 gigatoneladas. Para se ter uma ideia, estima-se que o Brasil inteiro tenha emitido no ano passado quase 2 gigatoneladas de CO%2 equivalente. De acordo com o relatório, com essa quantidade mundial de emissões, a temperatura subiria de 2,9°C a 3,4°C até 2100, na comparação com os valores pré-Revolução Industrial. O Acordo de Paris, que entra em vigor nesta sexta-feira (4), um mês depois de ter atingido os parâmetros mínimos de adesão (55 países representando 55% das emissões), prevê esforços para limitar o aquecimento a menos de 2°C até o final do século, com tentativa de ficar em 1,5°C. Mas não foi imposto aos países um limite de emissões. Cada um falou com quanto pode contribuir para esse fim, mas é aí que a conta não fecha. O alerta que o Pnuma e outros grupos científicos que se debruçaram sobre esses compromissos das nações vem fazendo desde que eles foram apresentados no ano passado é que é preciso aumentar a ambição. Ou depois serão necessárias tecnologias muito avançadas, a um custo muito elevado, para tirar carbono da atmosfera. Para o diretor do Pnuma, Erik Solheim, o Acordo de Paris retardará a mudança do clima, assim como o fará a recente emenda adotada em Kigali para reduzir os hidrofluorcarbonos (HFC), mas isso não é suficiente. "Se não começarmos a tomar medidas adicionais hoje mesmo, começando pela próxima reunião do clima, que será realizada em Marrakesh, deveremos lamentar uma tragédia humana que é evitável. O crescente número de refugiados do clima afetados por fome, pobreza, doenças e conflitos será um lembrete constante de nosso fracasso. A ciência nos diz que temos de avançar muito mais rápido", declarou, em nota à imprensa. Na próxima segunda-feira (7), começa em Marrakesh a 22ª Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU (COP), que vai abrir os trabalhos para a implementação do Acordo de Paris, fechado em dezembro do ano passado. Até o momento, 94 países, das 197 partes que assinaram o acordo, já o ratificaram. Entre eles estão os maiores emissores do mundo – China e Estados Unidos – e também países que têm uma colaboração importante para o problema, como Brasil. |
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Fonte: O Estado de S. Paulo |