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Queda de preço faz aumentar procura por etanol em postos de Salvador

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Nos últimos dias, o movimento nos postos de combustíveis de Salvador tomou outro caminho: a diferença de preço entre o litro do etanol hidratado e da gasolina comum ficou tão grande que fez alavançar a procura do biocombustível, à base de cana de açúcar. Em um dos postos pesquisados pelo CORREIO, o litro do etanol estava R$ 1,79 mais barato do que o da gasolina. Em alguns pontos, o etanol já representa 70% das vendas.

Nesta sexta-feira (19), o CORREIO percorreu dez postos na capital baiana. Em cinco deles, encontrou etanol com preços entre R$ 3,16 e R$ 3,20. Há uma semana, no dia 13 de outubro, o levantamento da Agência Nacional de Petróleo (APN) apontou que o preço médio era de R$ 3,52 para a capital baiana.

Frentistas ouvidos pela reportagem afirmaram que, de dois meses para cá, a procura pelo biocombustível já tem sido maior.

“Já tem uns dois meses que a procura pelo etanol aumentou muito. De dez motoristas, no mínimo sete escolhem etanol, por causa do preço. Antigamente, a gasolina era muito mais procurada”, disse um frentista do Posto Shell de Amaralina, sem se identificar.

Até julho, cerca de 80% dos motoristas preferiam a gasolina. Por falar nela, a gasolina da Bahia subiu 19% em dez meses – em janeiro tinha preço médio de R$ 4,10 e agora está em R$ 4,88, o maior preço médio do Nordeste, segundo a ANP. A partir deste sábado (20), diz a Petrobras, o preço da gasolina nas refinarias vai cair, em média, 2%.

Enquanto abastecia no posto Menor Preço da Avenida Adhemar de Barros, em Ondina, o motorista Paulo Pontes lembrou que também optava, na maioria das vezes, pela gasolina.

“Eu geralmente abastecia com gasolina, mas como o preço tá cada vez mais caro, estou optando pelo etanol. Já tem um mês que só tenho colocado álcool”, contou Paulo Pontes.

Explicação

Procurado, o presidente do Sindicombustíveis, Walter Tannus, disse que está fora de Salvador há uma semana e que não estava acompanhando a redução do preço.

“Imagino dois fatores para essa redução: a concorrência entre os postos e a pressa em vender logo o produto para que se possa bater as metas que estão no c ontrato com a distribuidora, pois se elas não forem batidas, os postos pagam multa”, afirmou.

Mas, segundo entidades ligadas ao setor industrial do etanol, a queda no preço tem a ver com a alta produção do combustível em detrimento do açúcar. No cenário internacional, ocorre há seis meses uma superoferta de açúcar por parte da Tailândia, Índia e países da Europa, o que fez despencar o preço do produto brasileiro, forçando as usinas a voltarem sua produção para o etanol.

“O Brasil teve de reduzir a produção de açúcar em 10 milhões de toneladas por causa disso”, afirmou o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar (Sindiaçúcar) em Pernambuco, Renato Cunha.

Segundo ele, 65% da produção das usinas no Brasil este ano foi voltada para o etanol, enquanto 35% para açúcar. É “algo inédito”, diz o executivo, para quem as usinas do Nordestes deveriam receber mais incentivos governamentais para produzir.

“A maior parte das usinas (330) está concentrada no Centro-Sul do país. Já no Norte-Nordeste há 63 usinas, sendo que temos a participação com 7% da produção nacional de etanol e o restante é do Centro-Sul”, disse.

A Associação Brasileira das Indústrias da Cana-de-Açúcar (Unica) informou que o Centro-Sul processou 27,64 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na segunda quinzena de setembro, 31,68% inferior às 40,46 milhões de toneladas do mesmo período de 2017.

A produção de açúcar somou 1,28 milhão de toneladas na segunda metade de setembro, com expressiva queda de 55,01% sobre o resultado em igual período da safra 2017/2018. Por sua vez, a fabricação de etanol reduziu 19,81%, alcançando 1,63 bilhão de litros.

“Esses números retratam o maior direcionamento da matéria-prima processada para a fabricação do etanol. Nos últimos 15 dias de setembro, o indicador registrou 66,92% de cana direcionada à produção do biocombustível”, avalia a Unica.

Concorrência

Com mais etanol no mercado, a tendência é que o preço caia mesmo. No posto São Judas Tadeu, na Baixa de Quintas, o gerente Taimar Souza Gaspar comentou que, “se o concorrente baixou o preço, o posto também precisa diminuir para atrair clientes”.

O engenheiro Eliel Junior, 36, disse que parou para abastecer no mesmo posto depois que viu a diferença de preço do etanol. Ele comparou com os demais postos da região e viu que alguns vendiam o biocombustível a R$ 3,59 o litro. “Eu presto serviço aqui perto, vi o preço e estou enchendo o tanque. Geralmente, opto por gasolina. Mas a diferença está tão grande, que coloquei tudo de etanol”, contou.

Ainda na Baixa de Quintas, no Micro Posto Rio Vermelho, o litro do etanol estava por R$ 3,16 nesta sexta-feira (19). Há uma semana, era R$ 3,19. Os frentistas disseram que a procura aumentou bastante.

No posto Menor Preço da Avenida Bonocô também há etanol por R$ 3,19 o litro. De acordo com o frentista Washington Vieira, há 15 dias o preço despencou.

“O posto era administrado por outra empresa e virou Menor Preço desde junho deste ano. Então, o baixo preço do etanol é também uma estratégia para conquistar a clientela”, afirmou.

O comerciante Marcelo Pimentel, 45, resolveu encher o tanque: “É necessário correr atrás da economia, ainda mais no meio dessa crise”. 

Preferência

Mas, mesmo com a queda no preço, muita gente ainda prefere a gasolina. Em cinco dos dez postos visitados pelo CORREIO, o litro do etanol custava entre R$ 3,40 e R$ 3,70 o litro. Nesses casos, ficou mantida a procura maior por gasolina.

Frentista do posto BR Namorados, Lucas Oliveira afirmou que, por lá, a procura pelo etanol não cresceu tanto. O motorista Genival Bispo disse que, independente do preço, nunca troca a gasolina pelo etanol. “Eu só utilizo gasolina, mesmo se estiver muito mais cara. O álcool é corrosivo e nada econômico”, opinou.

No Nordeste, preço do etanol nas usinas chega a R$ 1,66
Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o litro do etanol hidratado das usinas do Nordeste, que vão abastecer boa parte do país pelo menos até fevereiro de 2019, pode ser encontrado por até R$ 1,66.

É o caso das usinas de Pernambuco, embora esse valor represente alta de 1,23% em relação a agosto de 2018, após seis meses sem a divulgação dos preços devido à entressafra.

No estado de Alagoas, o Indicador Cepea do biocombustível fechou a R$ 1,68 o litro (sem frete, sem ICMS e sem PIS/Cofins) em setembro, queda de 6,12% frente a maio – último dado disponível.

Já o etanol anidro fechou a R$ 1,91/litro, recuo de 5,86% em relação a fevereiro de 2018. O Indicador do Cepea do etanol hidratado do estado da Paraíba caiu 1,17% em setembro na comparação com agosto, fechando a R$ 1,65/litro. Para o anidro, o valor ficou em R$ 1,97/litro, alta de 7,01% no mesmo comparativo.

Para o presidente do Sindiaçúcar em Pernambuco, Renato Cunha, “a possibilidade de uma parceria com as revendas de combustíveis para comercializar a venda do etanol com preço comprado direto das usinas poderia reduzir ainda mais o valor”.

“As distribuidoras trabalham muito com o preço do etanol influenciados também pelo preço da gasolina, que por sua vez está vulnerável ao preço do petróleo. Então, deixando de passar pelas distribuidoras ficaria mais barato”, comentou Cunha.

Fonte: Correio 24 horas

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