Home Edição 182 Tecnologia Agricola – Reestruturação de solos com adubo biológico
Edição 182

Tecnologia Agricola – Reestruturação de solos com adubo biológico

Share
Share

A expansão da mecanização das operações agrícolas trouxe como uma das principais consequências a compactação dos solos, que ao longo de muitos anos e em culturas perenes como a cana-de-açúcar, tem causado sequelas como dificuldade de enraizamento, baixa eficiência dos fertilizantes, baixa resistência à seca, aumento do ataque de pragas e doenças, o que leva, consequentemente, a queda na produtividade e aumento nos custos de produção.

Um trabalho realizado pela Embrapa Cerrado junto a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), mostra que a monocultura favorece a redução da variabilidade microbiana dos solos, alterando sua estrutura física e gerando a compactação mesmo em culturas onde se realiza métodos mais conservacionistas como o plantio direto. Para se ter ideia do impacto, a cada cinco anos de sistema convencional de plantio direto, perde-se 70% da biodiversidade microbiana do solo.

Muitas têm sido as estratégias para corrigir os efeitos causados pela compactação, dentre elas, podemos destacar o preparo profundo de solo, a canteirização dos canaviais, o plantio em espaçamento alternado e o preparo reduzido de solo. Além disso, há diversas operações voltadas para a descompactação do solo mecanicamente. Assim, os produtores que optam pelo preparo de solo convencional ou com eliminador mecânico de soqueira gastam, de acordo com dados da RPA Consultoria, pelo menos R$ 139/ha com grade e mais R$ 163/ha com subsolagem. Já nos tratos de cana soca convencional se gasta ao redor de R$ 170/ha com a operação de cultivo com a finalidade de reduzir a compactação.

No entanto, gastos desnecessários com métodos para se descompactar o solo podem ser eliminados por meio da adubação biológica, uma das práticas conservacionistas que atua diretamente em uma das causas da compactação do solo, repondo a biodiversidade característica do ambiente e recuperando boa parte dos processos naturais com a reestruturação do solo. Isto é o que afirma Kauê Ferreira, coordenador técnico da Microbiol, empresa desenvolvedora da tecnologia Microgeo, uma ferramenta para a produção do adubo biológico. “A adubação biológica tem efeitos cumulativos. A produtividade da cultura tende a chegar cada vez mais perto do seu potencial produtivo à medida que o solo vai recebendo microrganismos benéficos que reconstroem o solo, tornando-o mais vivo e reestruturado.”

REESTRUTURAÇÃO DO SOLO

Antes de tudo é preciso entender o processo de reestruturação dos solos, que se dá pela transformação da matéria orgânica em substâncias estruturais e pode ser dividida em três partes. A biológica, que refere-se à inserção de microrganismos em diversidade e volume adaptados a cada tipo de solo e ambiente. Neste processo o solo se torna mais biodiverso e ocorre a redução da pressão de pragas e doenças devido à quebra da predominância de poucas espécies. A reestruturação física que se refere ao aumento da atividade de processamento de matérias orgânicas que apresentam como função a transformação de matérias orgânicas brutas em matérias orgânicas estruturais. Neste processo ocorre o aumento da macroporosidade e redução da densidade do solo.

“Os micro-organismos do solo atuam em dois ambientes, na matéria orgânica (MO) de cadeias complexas, como a lignina, que se encontra distribuída no perfil superficial do solo, e na rizosfera onde atuam em matérias orgânicas de cadeia mais simples, como os açúcares exsudados pelas raízes. Ao longo do tempo, as matérias orgânicas estruturais reconfiguram a estrutura física do solo através da agregação, aumentando a macroporosidade e reduzindo a densidade do solo”, detalha Ferreira.

Já a reestruturação química se dá em duas etapas: a direta, que ocorre pelo aumento da disponibilização de nutrientes provenientes da matéria orgânica pela imobilização e posterior mineralização, e de maneira indireta pelo aumento do volume do solo, que favorece o enraizamento das plantas e reduz a concentração dos nutrientes na solução do solo.

Esta reestruturação é o que propõe a tecnologia Microgeo, um componente balanceado que alimenta os micro-organismos do conteúdo ruminal bovino em Compostagem Líquida Contínua produzindo um adubo biológico capaz de promover a recuperação do solo e otimizar insumos agrícolas e fatores de produção.

Diferentemente da operação de descompactação mecânica do solo, na qual é realizada a quebra das camadas compactadas com o uso de subsoladores e grades, a reestruturação biológica é o processo de recuperação por meio de micro-organismos dos agregados do solo.

“Normalmente os micro-organismos produzem ácidos orgânicos que colam os grumos do solo formando os agregados. Inicialmente, este processo ocorre superficialmente, mas, ao longo do tempo e com o uso do Microgeo, este efeito tende a atingir as áreas compactadas em um processo progressivo de reestruturação”, adiciona Ferreira.

O solo reestruturado e descompactado permite que as plantas tenham um melhor enraizamento, havendo maior eficiência dos fertilizantes juntamente com aumento da retenção de água, aumento da CAD (Capacidade de Água Disponível) do solo e redução da pressão de doenças de solo e pragas. Ferreira elenca outros benefícios da tecnologia para o produtor de cana:

– Tem ação progressiva e que se potencializa nos tratamentos sucessivos;

– Tem baixo custo de aquisição, pois através da biofábrica de adubo, pode ser produzido dentro da própria unidade, o que no final apresenta baixo custo de tratamento;

– Por ser biológico, não impacta na eficácia e nem na eficiência de outros produtos químicos;

– E traz aumento da biomassa biológica do solo;

PRODUTIVIDADE E DESCOMPACTAÇÃO

Segundo Ferreira, amostras de canaviais de regiões do Estado de São Paulo e Minas Gerais mostraram ganhos significativos em produtividade e redução na compactação dos solos. “Na FazendaIbiporã, na cidade de Guararapes, SP, a aplicação do produto na variedade CTC 04 mostrou, em primeiro corte, um incremento de 24,57 t/ha. Na propriedade Estância Ocean Furlani, localizada em Pederneiras, SP, foi analisado um ganho de 10 t/ha na cana de variedade SP 801816 de terceiro corte. Na fazenda Monte Alto Estancia Vale do Sol, de Iturama, MG, os ganhos chegaram a 12,74 t/ha na variedade CTC 15 de terceiro corte. E na Fazenda Lagoa Seca, localizada em Lençóis Paulista, SP, a cana de variedade RB 867515 de segundo corte chegou a ter um aumento de 9,87 t/ha”, afirma Ferreira.

O produtor Hamilton Rossetto, de Lençóis Paulista, SP, faz o uso da tecnologia desde 2014 e afirma ter observado aumento de 8% na produtividade dos canaviais de terceiro corte. “Aplicamos o produto em aproximadamente 3,5 mil ha durante estes dois anos, utilizando 7,5 kg /ha no plantio e nos tratos culturais da soqueira. Ainda é cedo para fazermos uma avaliação exata do potencial do produto, mas diante do que foi alcançado já estamos programando aumentar a aplicação em 2016 para 4 mil ha.

Jose Tadeu Coletti, produtor da fazenda Monte Alto Estancia Vale do Sol, conta que iniciou o teste com o produto em uma pequena área de plantio ainda em 2007 e foi expandindo a tecnologia também em cana soca, acelerando ano a ano, até chegar ao manejo atual de 700 ha/ano, divididos entre 100 ha de cana planta e 600 ha de cana soca.

“A proposta da adubação biológica, através o uso de Microgeo, tem sido fornecer ao solo e planta uma contribuição expressiva no sentido de se incrementar o microbioma, responsável pela maior solubilização do fósforo e pela absorção dos demais nutrientes como um todo. A aplicação repetida da tecnologia permitiu-nos uma redução de fertilizantes minerais, particularmente em soca, oscilando entre 15% e 20%, sempre em obediência a critérios técnicos e em harmonia com o potencial dos diferentes ambientes de produção. A melhor indicação dos resultados da tecnologia está na estabilidade de canaviais seguidamente tratados com o adubo biológico. Em trabalho recente, acompanhado sob agricultura de precisão, contabilizou-se um diferencial positivo favorável ao emprego da tecnologia, com a cifra de 12 t/ha em canavial de terceiro corte”, afirma o produtor.

Outro benefício que, segundo ele, deve ser destacado, diz respeito a melhor estruturação dos solos tratados com Microgeo. “Foi notória a maior resistência à seca por glebas tratadas nos períodos de longa estiagem, o que também se comprovou no estudo colhido em 2015. Os níveis de compactação estiveram sempre inferiores nas áreas que receberam o adubo.”

As aplicações na propriedade de Coletti se harmonizam com as atividades convencionais, tais como inseticida de cobrição no plantio, o herbicida do quebra-lombo e o controle da planta daninha na cana soca. Na verdade, o veículo das caldas passa a ser o produto compostado com Microgeo, sempre na vazão de 300 l/ha.

“Na cultura da cana-de-açúcar são mais que expressivos os resultados positivos na produtividade agrícola promovidos pelo uso de organominerais através do emprego dos resíduos fabris, como torta de filtro e vinhaça. Indiscutivelmente, tudo o que concorre para incrementar a atividade microbiológica do solo contribui sempre para o melhor aproveitamento dos nutrientes oferecidos à cultura. E nesta linha se situa a tecnologia Microgeo. É um novo tempo na agricultura. É preciso ser sustentável!”, enaltece Coletti.

AUTOPRODUÇÃO

Assim como outros resíduos da produção de etanol e açúcar podem ser reutilizados e transformados em fertilizantes para aplicação em cana, o adubo biológico também pode ser produzindo com resíduos animais dentro da própria usina ou fazenda.

De acordo com Ferreira, para o processo de produção deste adubo, que passa por uma Compostagem Líquida Contínua em uma biofábrica, os componentes que serão necessários são: um tanque, água, filtro, esterco de ruminante/conteúdo ruminal e o Microgeo. A função do esterco de ruminantes/conteúdo ruminal é fornecer a primeira comunidade microbiana para o adubo biológico e a função do Microgeo é multiplicar os micro-organismos.

“O volume de esterco/conteúdo ruminal que é adicionado na biofábrica é de 15% do volume total e o Microgeo inicial é de 5% em Kg do volume total de água. Após a montagem da biofábrica o adubo biológico fica pronto para uso após 15 dias. E sua utilização pode ser feita de duas maneiras, semanal ou diária. A aplicação semanal é feita retirando-se 70% do volume da biofábrica. É importante lembrar que após a retirada deve-se repor 2,5% de Microgeo referente ao volume retirado mais água e aguardar uma semana para poder retirar novamente. Para a utilização diária, deve-se retirar 10% do volume da biofábrica e repor 2,5% de Microgeo referente ao volume retirado mais água. Neste processo já é possível, no dia seguinte, utilizar o adubo biológico novamente”, detalha.

Além de ganhos de produtividade de até 12 t/ha, produtores que têm feito uso contínuo de adubo biológico em cana têm conseguido reduzir a aplicação de fertilizantes minerais e amenizar a compactação dos solos

DICAS PARA PRODUZIR SEU PRÓPRIO ADUBO BIOLÓGICO

• Para a produção da biofábrica use PVC, fibra de vidro, metálico ou alvenaria. O tamanho do tanque não influi no custo de produção e manutenção do adubo biológico.

• Instale o tanque em área ensolarada, próximo ao ponto de abastecimento de água, mantendo o mesmo sempre descoberto. É importante que o tanque receba luz solar direta.

• Instale dentro da biofábrica um pré-filtro que terá a função de coar as partículas em suspensão.

• Coe o adubo biológico com uma peneira na entrada do tanque pulverizador.

• Instale um registro no cano de abastecimento de água da biofábrica para manter o nível do mesmo.

• E agite a biofábrica duas vezes por semana ou sempre que adicionar o Microgeo no mesmo.

Share
Artigo Relacionado
Edição 182

DROPES

EMBRAER E BOEING LANÇAM JATO A QUEROSENE DE CANA-DE-AÇÚCAR Boeing e Embraer...

Edição 182

Executivo – Em busca constante pela evolução

Tania Fernandes Estado Civil: Solteira Formação: Engenharia Química pela Universidade Federal de Minas Gerais...

Edição 182

POR DENTRO DA USINA

Raízen retomará operação da usina Bom Retiro Diante de um cenário de...

Edição 182

Atualidades Juridicas

DIREITO DO TRABALHO EMPREGADOR NÃO É OBRIGADO A CUSTEAR PLANO DE SAÚDE...