Produto desenvolvido por empresa brasileira permite que cana-de-açúcar capte o nitrogênio diretamente da biosfera, reduzindo a necessidade de aplicação de fertilizantes nitrogenados e trazendo ganhos em produtividade
Redação
Na natureza, em simbiose com bactérias que colonizam suas raízes, as plantas produzem aminoácidos que alimentam essas bactérias. As plantas então ativam uma enzima chamada nitrogenase e, em troca, recebem o nitrogênio que é fixado no solo pelas bactérias. Esse ciclo, no entanto, é ineficiente e acaba não sustentando a planta durante todo o seu ciclo de vida. Isso faz com que seja necessária a suplementação com fertilizantes nitrogenados a base de ureia, nitrato de amônia e sulfato de amônia, o que traz aumento de custos, sobretudo na produção de cana, onde a aplicação ocorre todo ano.
Agora, imagine poder reduzir significativamente ou até mesmo eliminar a necessidade de aplicação de fertilizantes nitrogenados na sua lavoura de cana-de-açúcar, obtendo retornos em produtividade? Imagine ainda conseguir explorar o potencial máximo do seu canavial? Isso é o que promete uma tecnologia inovadora desenvolvida pela empresa brasileira LBE Biotecnologia.
Batizada de GreenFactor, o produto permite, de forma natural e ecológica, que as plantas fixem o nitrogênio (N2) atmosférico, reestabelecendo as condições no solo a nível das raízes graças ao aporte de catalizadores, aminoácidos e enzimas conversoras. Segundo o desenvolvedor da tecnologia e fundador da LBE, o espanhol José Guerra, as plantas fixam o N2 em forma e quantidade mais assimilável e estável para seus processos fisiológicos obtendo os aminoácidos e proteínas vegetais, sem necessidade de aporte de fertilizantes químicos nitrogenados que, assim como os nitrogenados orgânicos de origem animal, (aportados em excesso) geram efeito negativo ao meio ambiente (solo, água, atmosfera) e a saúde humana.
“É uma forma inteligente de nutrição vegetal que revoluciona o conceito da fertilização convencional, que preconiza altos aportes de nitrogênio químico que, além de não conseguirem ser aproveitados suficientemente pelos vegetais, produzem efeitos diretos e indiretos negativos a curto e longo prazo nas plantas e no meio ambiente, produzindo cultivos mais vulneráveis a enfermidades, maior estresse ambiental, lixiviações no solo e evaporação na atmosfera, sendo esta última uma das principais responsáveis pelo aquecimento global por emissões”, destaca.
Tabela 1- Comparativo Tratamento Green Factor X Tratamento Convencional (fertilizantes nitrogenados)
Obs: Os dados são baseados nas médias dos tratamentos das usinas e fornecedores que fazem aplicação do produto

RESULTADOS EM CANA
A tecnologia, já aplicada em culturas como cenoura, batata, milho, feijão e soja, vem sendo estudada em cana-de-açúcar desde 2003. Guerra estima que cerca de 30 mil ha de cana-de-açúcar, espalhados entre os estados de São Paulo e Minas Gerais, já testem ou fazem uso comercial da tecnologia. Entre 2015 e 2016, sete grandes usinas sucroenergéticas e quatro grandes fornecedores de cana iniciaram o uso do produto.
O idealizador da solução afirma que os ganhos em produtividade podem atingir até 40 t por ha, no entanto, até o momento, a média de produtividade obtida pela maioria dos usuários é de 13 t de cana por ha. “Apesar da média, existem algumas unidades que conseguiram um incremento de 37 t por ha”, destaca.
Tabela 2 – Tratamento GreenFactor X Testemunha em cana-de-açúcar da região de Bariri, SP

A aplicação do produto em cana soca elimina 100% a necessidade de aporte de nitrogênio da adubação convencional. Isso gera uma redução de R$ 80 a R$ 100 por hectare em adubação.
Um comparativo realizado com dados baseados em todas as médias de resultados dos tratamentos das usinas e fornecedores – comparando a áreas de aplicação de vinhaça e complementadas com nitrato – mostrou que o tratamento convencional gira em torno de R$418,25 por ha, enquanto o tratamento LBE para vinhaça é de R$168 por ha, economizando R$250 por ha. Podemos ver uma diferença ainda maior se compararmos a adubação de soqueira. Enquanto o tratamento convencional tem um custo de R$675,50 por ha, o tratamento LBE custa apenas R$408 por ha, gerando uma economia de R$267,50 (Veja os dados na Tabela 1).
Em 2016, um fornecedor de cana de Bariri, SP, em região de solo de textura argilosa, fez aplicação do Green Factor em uma dose de 5 litros por ha em 1,8 ha plantados com a variedade RB6928. Os resultados desta aplicação mostraram que enquanto na testemunha (Ponto 1) o tratamento convencional garantiu 16 canas por metro linear, com o uso do greenfactor (Ponto 2) os números chegaram a 19,5 canas por metro linear. O peso médio dos colmos (kg) na testemunha chegaram a 1,81 kg, enquanto na área onde o produto foi aplicado o peso médio atingiu 2,29 kg. A produtividade estimada para este canavial tratado foi de 202 t/ha, o que corresponde a 17% de incremento em relação a testemunha. (Tabela 2).
Em outra fazenda de um produtor de Iacanga, SP, com uma área total de aproximadamente 23,90 ha, foi aplicado o produto em 2,66 ha, na variedade RB92579. Os resultados mostraram que o GreenFactor resultou em um canavial de 116,47 t por ha, enquanto a testemunha atingiu apenas 72,85 t por ha, o que mostra um incremento de 43,62 t/ha (Gráfico1).
RECOMENDAÇÃO
O produto, desenvolvido em forma líquida, pode ser aplicado em qualquer período do ano em cana-de-açúcar desde que atinja o solo em volume mínimo de calda de 100 l por ha.
A sua aplicação pode ser feita via cortador de soqueira ou via pulverizadores, caso ocorra a remoção da palha. De acordo com Guerra, a tecnologia traz economia e ganhos logísticos no transporte e na aplicação de fertilizante. O investimento em uma embalagem de 5 l do produto, suficientes para 60 litros de água, é de R$ 300 e pode substituir até 500 kg de fertilizantes à base de ureia.
SUSTENTABILIDADE
O produto já é classificado pelo Ministério da Agricultura como organomineral classe A, por ter nível zero de toxidade dermal e oral, e não conter sódio em sua composição.
“Buscamos desenvolver e incentivar a agricultura limpa, que para nós significa produzir alimentos sem gerar nenhum tipo de toxicidade ao meio ambiente e aos seres humanos. Como a base de nosso trabalho são os aminoácidos, que são compostos orgânicos responsáveis pela síntese de proteínas, nossos produtos não agridem o meio ambiente, não empobrecem o solo e não deixam resíduos tóxicos que, com o passar dos anos, podem causar danos à saúde”, conclui Guerra.
A inovação é resultado de um investimento de quase R$ 8 milhões e mais de 8 anos de pesquisa e desenvolvimento em laboratórios e testes em campo em parceria com renomadas instituições de pesquisas nacionais e internacionais como, Embrapa, Instituto Nacional de Tecnologia e Agropecuária (INTA), da Argentina, a Cornell (Cooperative Extension – CornellUniversity), EUA e as universidades brasileiras UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) de Jaboticabal, SP.
O QUE É O GREENFACTOR?
O GreenFactor é um produto orgânico altamente concentrado em compostos de carbono mais fósforo e micronutrientes na forma iônica, prontamente solúveis. O produto ativa nas plantas a capacidade de assimilar o nitrogênio atmosférico, através de um processo de assimilação enzimática, utilizando catalizadores metálicos junto com aminoácidos. Desta maneira não há necessidade de associação simbiótica com rizobactérias. Em qualquer cultura, por uma via metabólica ativa, a ação da enzima nitrogenase permite a planta abastecer-se de nitrogênio, assim como acontece com as leguminosas.
O QUE FAZ?
Permite substituir 100% o aporte de nitrogênio inorgânico aplicado na cana-de-açúcar. A planta aprende a assimilar o nitrogênio atmosférico de forma contínua e em equilíbrio com seu desenvolvimento, o que resulta em um cultivo de maior qualidade, com mais sanidade e ambientalmente sustentável, além de outros ganhos consideráveis em relação aos fertilizantes nitrogenados, como mais produtividade e menor custo.