Os cálculos são da equipe do Projeto SUCRE (Sugarcane Renewable Electricity) e demonstram um potencial de geração de energia da ordem de 100 TWh ao ano, o que supriria a demanda de eletricidade de 78% das residências brasileiras
De acordo com dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), o que se aproveita atualmente a partir dessa matriz representa apenas 21,4 TWh, aproximadamente o equivalente a 21% do potencial calculado pelo Projeto SUCRE, gerido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e implementado pelo Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), que integra o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
Os pesquisadores também estabeleceram algumas comparações que ajudam a compreender os benefícios para o meio ambiente. Se todo o potencial fosse aproveitado, o crédito ambiental estimado da palha e do bagaço seria de 150 milhões de toneladas de CO₂ equivalente, o que corresponde a 33% das emissões do setor energético ou 11% das emissões totais do Brasil, considerando dados do Sistema de Registro Nacional de Emissões (SIRENE). De acordo com o estudo do Projeto SUCRE, isso equivale à absorção de CO₂ por aproximadamente 233 milhões de árvores plantadas ou, em termos de área, 140 mil campos de futebol.
Essas estimativas levam em consideração a substituição da eletricidade produzida pelas usinas termelétricas a gás natural, que são acionadas quando há déficit na produção das hidroelétricas no País.
O potencial se baseia nas premissas de produção de 140 kg de palha (base seca) por tonelada de cana-de-açúcar e de recolhimento de metade de toda a palha gerada na colheita da safra de 2015/2016, em que foram processadas 612 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na região do Centro-Sul do Brasil, 93% do processamento total do País, conforme informa a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).
Região Centro-Sul lidera produção de bioeletricidade
Quase metade da bioeletricidade produzida no Brasil vem do estado de São Paulo. Só a geração sucroenergética paulista em 2017 foi equivalente ao que seria necessário para atender 44% do consumo anual do município de S.Paulo.
Bioeletricidade em geral para a rede, por UF, 2016-2017 |
|||
UF |
2017 (GWh) |
% sobre total de 2017 |
Variação 2016-2017 (%) |
SP |
11.969 |
47,0 |
1,0 |
MS |
3.649 |
14,3 |
6,3 |
GO |
2.986 |
11,7 |
14,2 |
MG |
2.617 |
10,3 |
4,7 |
PR |
1.497 |
5,9 |
23,3 |
BA |
973 |
3,8 |
39,3 |
MA |
504 |
2,0 |
-0,7 |
MT |
239 |
0,9 |
28,1 |
AL |
159 |
0,6 |
-3,5 |
PE |
151 |
0,6 |
10,1 |
RS |
137 |
0,5 |
18,2 |
TO |
136 |
0,5 |
20,7 |
PA |
125 |
0,5 |
47,7 |
SC |
117 |
0,5 |
43,3 |
SE |
98 |
0,4 |
50,6 |
RN |
53 |
0,2 |
6,5 |
ES |
36 |
0,1 |
-8,1 |
PB |
26 |
0,1 |
46,6 |
PI |
10 |
0,0 |
1,1 |
RJ |
0 |
0,0 |
-98,9 |
Total |
25.482 |
100 |
6,8 |
Fonte: UNICA (2018), dados básicos da CCEE (2018). Informações de geração no centro de gravidade.
Outras vantagens
Eficiência
A maioria das usinas geradoras de energia a partir do bagaço e palha de cana estão situadas perto dos grandes centros de consumo urbano e industrial. Um fator que beneficia o sistema de distribuição, que está sujeito a maiores custos, perdas e se torna instável quando a energia tem que ser transmitida por longas distâncias.
Empregos e sustentabilidade
Se comparada com outras matrizes, a geração de energia por biomassa está entre as com maior potencial para a geração de empregos e menor emissão de gases causadores do efeito estufa como os produzidos nas usinas térmicas movida a gás natural, óleo e carvão.
Alinhamento com os objetivos da ONU
Gerar energia elétrica a partir da palha da cana pode ser uma das alternativas para se alcançar a meta de redução das emissões em 37% até 2025, previsto para o cumprimento dos Compromissos Nacionalmente Determinados (NDC) pelo Brasil no âmbito do Acordo de Paris, em 2015. O Projeto SUCRE atua diretamente em dois dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (OSD) da ONU:
O Projeto SUCRE elaborou sugestões e argumentos para a consulta pública do marco regulatório do setor elétrico brasileiro a serem implementados para estimular a produção de energia a partir de biomassa em alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (OSD) da ONU:
Objetivo 7) Assegurar acesso sustentável, moderno e a preço acessível à energia a todos.
Objetivo 13) Tomar medidas urgentes para combater as mudanças climáticas e seus impactos.