O fim da cota de isenção para importação de etanol dos Estados Unidos abriu uma disputa no governo brasileiro e colocou em lados opostos os Ministérios da Agricultura e das Relações Exteriores.
Desde o início deste mês, todo o etanol vendido pelos EUA ao Brasil paga tarifa de 20%. Até então, havia uma cota de 750 milhões de litros por ano que poderia ser exportada sem taxa, cujo prazo expirou em agosto.
A renovação da isenção é o objeto da disputa, que deverá ser decidida pelo presidente Jair Bolsonaro. Segundo informações do Estadão, o chanceler Ernesto Araújo quer dar mais prazo para os Estados Unidos. Ele defende a renovação da cota por noventa dias.
A ideia é, nesse prazo, intensificar as negociações de um acordo com os americanos que envolva o acesso ao mercado deles do açúcar brasileiro em troca da retirada da tarifa do etanol importado pelo Brasil.
O outro lado
Já o Ministério da Agricultura é contrário à renovação da cota. Este quer utilizar a cobrança imediata da tarifa como instrumento de pressão para que saia o acordo, que já vem sendo discutido há mais de um ano.
De acordo com fontes, a avaliação da pasta é de que os americanos não sinalizaram nenhuma intenção de fechar algum acordo agora. Desse modo, a prorrogação da cota deixa o Brasil sem cartas na manga.
Renova ou não? Bolsonaro é quem decide
A decisão final quanto à renovação ou não da cota de etanol será do presidente Jair Bolsonaro. Apesar de considerar Donald Trump seu principal aliado internacional, o chefe do executivo vem sofrendo pressão dos produtores de cana-de-açúcar brasileiros pela manutenção da taxa.
Parlamentares do Nordeste, que é o destino do etanol americano, têm feito contato com o presidente e defendido a não renovação da cota. Durante a semana, os técnicos continuam em conversas sobre o assunto, que tem de passar pela Camex (Câmara de Comércio Exterior), que reúne vários ministérios.
Questão é sensível
A questão do etanol é sensível para a campanha de reeleição do presidente Donald Trump. No início de agosto, sem dar detalhes, Trump ameaçou retaliar o Brasil pela cobrança de taxas sobre o etanol e disse que era necessário uma “equalização de tarifas”.
A redução da cota para importação pelos EUA do aço brasileiro sem o pagamento da tarifa, anunciada na sexta-feira, foi vista pelo governo brasileiro como parte da retaliação.
Para os brasileiros, o ideal seria a uma espécie de troca. De um lado, isenta-se o etanol e por outro o açúcar. Isso porque ambos são derivados da cana. Nos EUA, porém, são dois lobbies distintos, já que lá o açúcar é feito de beterraba e o etanol, de milho.