Opinião
[Opinião] Açúcar: mercado perdido e sem GPS
O mercado futuro de açúcar em Nova Iorque concluiu a semana anterior com o contrato para março de 2024 negociando a 26,77 centavos de dólar por libra-peso. Esse valor representa uma apreciação de 29 pontos em relação ao acumulado semanal, o que é equivalente a um aumento de US$ 6,39 por tonelada.
No cenário macroeconômico, houve surpresa com a criação de empregos nos Estados Unidos, que superou significativamente as expectativas do mercado. Esse fator intensifica a probabilidade de um aumento nas taxas de juros norte-americanas. Indiretamente, isso lança um alerta quanto às futuras políticas monetárias do Banco Central do Brasil, especialmente em relação à possibilidade de redução da taxa básica de juros da economia brasileira.
Em consequência, o dólar americano valorizou-se frente às moedas de países emergentes. No Brasil, a moeda norte-americana fechou a sexta-feira cotada a R$ 5,1476, registrando uma desvalorização de 2,3% no acumulado da semana, após ter atingido uma cotação máxima de R$ 5,2200.
É amplamente reconhecido que a expectativa de aumento nas taxas de juros tende a exercer uma pressão negativa sobre os preços das commodities. Taxas de juros mais elevadas podem resultar em aumento nos custos de produção, potencial desaceleração da atividade econômica e atraso na recomposição de estoques. Todos esses fatores, em conjunto, têm o potencial de mover o mercado de commodities para um cenário de “custo e carrego”. Mas, no açúcar, nada de novo.
No caso específico do açúcar, há dinâmicas próprias que estão atuando no mercado. Segundo informações da Reuters, o recebedor de 2,759 milhões das 2,869 milhões de toneladas de açúcar entregues na expiração do contrato de outubro/23 já negociou entre 1,0 e 1,5 milhão de toneladas desse total com a China. A conferir futuramente. Esse fator, aliado às previsões de chuvas nas regiões produtoras do Centro-Sul do Brasil e possíveis interrupções na moagem, contribuiu para a valorização do contrato futuro de açúcar em Nova Iorque ao final do pregão de sexta-feira. Vale lembrar que o contrato chegou a ser negociado a 25,28 centavos de dólar por libra-peso na última quarta-feira.
Além disso, os fundos especulativos, conforme o esperado, liquidaram 22.000 contratos, embora ainda mantenham uma posição robusta de 165.000 lotes. A questão crítica que se coloca é se esses fundos optarão por realizar lucros no curto prazo ou se retomarão suas posições compradas com ainda mais vigor. Uma pergunta de US$ 1 milhão.
Apuramos que a média dos fechamentos diários para o contrato futuro de açúcar em Nova Iorque no mês de setembro atingiu 26,60 centavos de dólar por libra-peso, estabelecendo um novo pico anual. Essa média superou o recorde anterior, que foi de 25,74 centavos de dólar por libra-peso registrado em maio. É interessante notar que este resultado de setembro não constitui exatamente numa surpresa, considerando que, nos últimos 24 anos, a maior média mensal dos fechamentos diários nunca ocorreu entre os meses de abril a julho. Ou seja, um pico em maio não é usual.
A questão que se coloca agora é se setembro representa o ápice da média mensal dos fechamentos diários para o ano ou se ainda há espaço para uma trajetória ascendente nos preços.
Se observarmos o histórico de preços do século XXI, é notável que o maior preço médio anual nunca foi registrado em um mês de setembro. Em vez disso, essa marca tende a ocorrer entre os meses de outubro e fevereiro. Esse padrão sugere que, seguindo a tendência histórica, ainda pode haver espaço para um aumento na média dos preços.
Os touros (operadores com uma perspectiva otimista sobre o mercado de açúcar) encontrarão motivos adicionais para otimismo ao considerar que, nos últimos 23 anos, em 20 ocasiões o preço médio de outubro superou o preço médio de setembro. As únicas exceções foram nos anos de 2001, 2008 e 2011.
A desvalorização do real teve um impacto direto no preço médio do açúcar, com um aumento de 83 reais por tonelada para a média do período da safra 2024/25 (de maio de 2024 a março de 2025) e uma valorização de 52 reais por tonelada para a safra subsequente. Se considerarmos uma estratégia de fixação de preços na qual uma usina fixasse 25% de cada contrato futuro e utilizasse a curva de NDF (Non-Deliverable Forward), o valor médio de fixação para a safra 2024/25 seria de 2.862 reais por tonelada FOB Santos. Este patamar de preços foi atingido em apenas 6,2% dos casos desde janeiro de 2000.
Dado esse contexto, a recomendação para a fixação de preços pode parecer redundante, mas a sua relevância não pode ser subestimada. Estamos tratando de um cenário em que a volatilidade cambial e as incertezas macroeconômicas, entre outros fatores, podem impactar significativamente as receitas e margens.
*Arnaldo Luiz Corrêa é analista de Mercado e diretor da Archer Consulting
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