Nos últimos meses, os preços do açúcar vêm em trajetória de queda, acentuada entre outubro e novembro. O contrato bruto março/26 atingiu o menor nível em cinco anos, em 14,04 c/lb, enquanto o contrato branco dezembro/25 caiu para 406 USD/tonelada na segunda-feira (10), o menor patamar desde dezembro de 2020.
Houve uma recuperação modesta desde então, puxada principalmente pelo ambiente macroeconômico. Os EUA se aproximavam do fim da mais longa paralisação de governo, e no início da semana passada o Senado aprovou um novo pacote de financiamento. A Câmara confirmou a decisão na quarta-feira (12), encerrando a paralisação de 43 dias. A retomada das atividades do governo na quinta-feira (13) deu algum suporte às bolsas e a algumas commodities, incluindo o açúcar.
Brasil e Índia
Apesar desse alívio momentâneo, o suporte macroeconômico tende a ser limitado, já que os fundamentos seguem baixistas, com superávit esperado para 25/26. Um dos principais motores desse cenário é o desempenho da safra brasileira após julho.
“Embora o ATR tenha permanecido abaixo dos níveis médios, a moagem de açúcar se recuperou após julho, o que nos levou a manter nossas expectativas de uma moagem total em torno de 605 milhões de toneladas de cana, ligeiramente inferior a 24/25. Como o mix também continuou em patamares mais altos — com recorde na primeira quinzena de agosto —, a produção acumulada de açúcar para o ciclo 25/26 superou os patamares de 24/25 no final de setembro e deve encerrar a safra em alta”, afirma Laleska Moda, analista de Inteligência de Mercado de Café.
“Mesmo com os atuais níveis de paridade favorecendo a produção de etanol, é improvável que o mix acumulado de açúcar mude significativamente neste ciclo, devido aos níveis mais altos dos meses anteriores e à recente queda nos preços do petróleo. Pode haver algum desvio nos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, mas isso não tende a afetar os números gerais de açúcar em 25/26, com nossas expectativas em torno de 40,9 milhões de toneladas de oferta”, avalia Carolina França, analista de inteligência de mercado da Hedgepoint Global Markets.
A Hedgepoint destaca que o Brasil não será o único a reforçar o abastecimento global com a aproximação da colheita no Hemisfério Norte. As expectativas seguem positivas para os principais produtores.
“Na Tailândia, as condições climáticas favoráveis durante o desenvolvimento da safra reforçam nossa estimativa de produção de cerca de 10 milhões de toneladas. No entanto, o clima continua sendo monitorado, assim como a intensidade e os possíveis efeitos do fenômeno La Niña, principalmente no que diz respeito ao ritmo de colheita”, afirma Laleska.
Na Índia, o cenário também é positivo. Estimativas recentes da ISMA apontam produção de 30,95 milhões de toneladas, considerando um desvio de 3,4 Mt para o etanol. A área plantada cresceu 0,4%, e a boa perspectiva de produção decorre do bom desenvolvimento da cana nas principais regiões produtoras. Chuvas adequadas, bons níveis de reservatório e fatores como o maior volume plantado em Maharashtra, o aumento marginal da área em Karnataka e a substituição de variedades em Uttar Pradesh reforçam essa projeção.
Quanto às exportações, o governo indiano autorizou o envio de 1,5 milhão de toneladas para 25/26, alinhado às expectativas da Hedgepoint. Eventuais mudanças nesse volume dependerão do regime de exportação, influenciado pelos preços internacionais e pela paridade. Os preços internos, porém, seguem como fator-chave e podem pesar sobre ajustes futuros.
“Assim, projetamos uma oferta robusta de açúcar, algo que já se reflete no fluxo comercial do adoçante, com o aumento da disponibilidade de outras fontes, como a Índia, provavelmente compensando as restrições decorrentes da entressafra brasileira nos próximos meses. Como tal, o consenso de mercado aponta para um cenário de excedente no ciclo 25/26, o que tende a limitar ganhos significativos de preços, considerando o contexto atual”, pondera Carolina.

