Em função da crise mundial provocada pelo Coronavírus e o fato de o Centro-Sul aumentar sua produção de açúcar para a safra 2020 devido ao derretimento do preço do petróleo no mercado internacional, que impactou na rentabilidade do etanol, era esperado, de acordo com a Archer Consulting, uma entrega substancial de açúcar contra o contrato futuro de NY a partir do vencimento das telas de julho (que expira em 30 de junho) e de outubro (que expira em 30 de setembro).
A leitura da consultoria era de que para o vencimento maio, que expirou na quinta-feira passada, dia 30, ainda não haveria volume suficiente de açúcar disponível para uma eventual entrega. No entanto, o volume foi recorde, 2,258 milhões de t de açúcar vão ser embarcadas pelo porto de Santos. Algo, de acordo com Arnaldo Luiz Corrêa, diretor da consultoria, surpreendente.
“Penso que os vendedores, evidentemente, não possuem disponível no porto neste momento a totalidade do açúcar a ser entregue, mas, também, contam com a relativamente provável hipótese de os compradores não nomearem o navio com tanta urgência. É uma aposta” disse em seu boletim semanal.
Ele explica que quando ocorre a entrega física de açúcar proveniente da expiração de um contrato futuro, o vendedor (entregador) determina qual o porto que ele vai disponibilizar o produto para ser embarcado. Por outro lado, compete ao comprador apresentar o navio para carregar o produto no porto indicado pelo vendedor no prazo máximo de 75 dias a partir da expiração do contrato. Ou seja, grosso modo pode apresentar o navio até 15 de julho.
Se o comprador nomear o navio rapidamente indica que existe demanda no destino final, ou pelo menos ele quer fazer crer que há.
“Se demorar a nomear o navio, pode ser apenas uma estratégia para ganhar tempo apostando na recuperação do mercado e no estreitamento do basis (apreciação no prêmio negociado no físico) e então proceder com a negociação do produto no destino. Bem, isso é o que dizem os livros, cada uma toca sua estratégia com base nos fundamentos que acredita” explica Correa.
Na sexta-feira, 01, o comentário no mercado, segundo Corrêa, era de que os compradores teriam nomeado navios para pelo menos 900 mil toneladas de açúcar. “Se confirmadas as nomeações, NY deve reagir favoravelmente nos preços a partir de segunda-feira, bem como os prêmios do açúcar físico devem apreciar. Vamos observar.”
Ioiô no mercado
Para o especialista da Archer Consulting, o mercado de açúcar vive um momento difícil e de ciclotimia exacerbada, ou seja, de um sobe e desce constante. “Estamos vivendo um ioiô no mercado que reage muitas vezes erraticamente ao sabor das manchetes que pululam as agências noticiosas, das oscilações disparatadas da moeda brasileira e dos humores dos operadores do mercado. O melhor a fazer é manter o foco no planejamento”, observa.
O contrato futuro de açúcar em NY com vencimento em julho de 2020 encerrou a semana passada cotado a US$ 10,80 centavos de dólar por libra-peso ou quase 100 pontos de alta em relação à semana anterior.
“Fixar preços de açúcar de exportação para os dois primeiros meses da próxima safra 2021/22 (vencimentos maio/21 e julho/21) liquida acima de R$1,450 reais por t FOB Santos, um preço atrativo para pelo menos ¾ das usinas do Centro-Sul, que não deveriam ignorar esses valores extremamente remuneradores. O mercado reagiu 180 pontos da mínima negociada na terça-feira de US$ 9,21”, afirma.
De acordo com Corrêa, se sair a confirmação feita sobre a aprovação da Cide para os combustíveis elevando para R$ 0,30 por litro do atuais R$ 0,10 mais a cobrança de um imposto de 15% na importação da gasolina, que deve representar um acréscimo de aproximadamente R$ 0,25 por litro no hidratado, o mercado poderá ter reações positivas.
“A entrega volumosa de açúcar, embora de caráter neutro, pode atiçar o mercado à vista no curto prazo dependendo de quão rápida ocorrem as nomeações. Do lado negativo, temos que observar atentamente o comportamento do consumo mundial. Ainda assim, nesse campo, temos notícias para todos os gostos”, afirmou Corrêa.
Respeitados analistas têm afirmado que os recentes preços baixos do açúcar têm encorajado consumidores finais em aumentarem suas compras. Corrêa afirma que foi identificado acréscimo substancial nas compras de Indonésia e Rússia.
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Por outro lado, segundo fontes da Archer Consulting na Índia, a quarentena deve se estender para além do dia 3 de maio. A maioria das atividades comerciais continua limitada, já que o comércio está funcionando parcialmente, cerca de 20% aproximadamente.
O país, segundo Corrêa, ainda enfrenta problemas com o trabalho de motoristas de caminhão, já que muitos retornaram às suas cidades e temem voltar devido à pandemia. Estima-se que o consumo de gasolina e diesel tenha caído 50%, causando atrasos das empresas de petróleo em aceitar o etanol das usinas para fins de mistura.
É justamente nesse período em que o consumo indiano (verão) é alto, especificamente bebidas, sorvetes, sucos, confeitarias, demanda do Ramadã etc dessa vez, estão perdidas. Este também é o momento dos grandes casamentos indianos, que são uma grande fonte de consumo, pois todas as atividades foram suspensas ou adiadas.
“No geral, a perda mínima de consumo esperada é de 1 a 1,5 milhão de toneladas de açúcar. Se o bloqueio se estender para junho, as perdas também aumentarão”, afirmou Corrêa em análise.