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Açúcar: moagem menor de cana no Centro-Sul entra em pauta

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O mercado futuro de açúcar em NY teve uma semana de recuperação nas cotações, sobretudo nos dois primeiros contratos com vencimentos para outubro/21 e março/22 que apresentaram altas de quase 20 dólares por tonelada no acumulado da semana, fechando respectivamente em 18.79 e 19.32 centavos de dólar por libra-peso.

Na semana, o real encerrou cotado a R$ 5.2470 em relação ao dólar, e as cotações do açúcar em NY convertidas pela curva estimada do NDF (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira, que já contempla o aumento dos juros internos pelo Banco Central do Brasil para 5.25% ao ano, apresentaram uma elevação de R$ 116 por tonelada para a safra 21/22, R$ 74 por tonelada para a safra 22/23 e R$ 68 por tonelada para a safra seguinte.

Os fundos permanecem bem comprados, segundo os dados publicados pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, com quase 227,000 contratos (equivalem a 11.5 milhões de toneladas de açúcar).

O mercado já trabalha consensualmente com uma safra de cana no Centro-Sul abaixo de 540 milhões de toneladas, tendo essa sido a principal justificativa do aumento nas cotações do açúcar na bolsa durante a semana que se encerrou. Ainda é cedo para afirmar de maneira inquestionável que estamos caminhando para uma safra de 520 milhões de toneladas, como insistem alguns.

Se compararmos a moagem acumulada de 256,7 milhões de toneladas com a dos últimos 14 anos e, levando em consideração que no último ciclo de 5-6 anos o total de moagem acumulada até a primeira quinzena de julho representou 44.3% da cana moída na respectiva safra, podemos afirmar que uma safra inferior a 529 milhões de toneladas tem apenas 2.5% de probabilidade de ocorrência. Mas, isso é apenas estatística, dirão os incrédulos.

O cenário macro melhorou com o nível de desemprego mais baixo nos EUA desde o início da pandemia. Existe uma demanda reprimida que deve surpreender quando a pandemia estiver sob controle e equacionada em nível global. Ela vai afetar principalmente o consumo de combustíveis (a maioria da criação de empregos nos EUA tem sido na área de lazer). No Brasil, o consumo total de combustíveis em junho foi 10.26% superior ao mesmo mês no ano passado. No acumulado do ano, compreendendo janeiro a junho, o consumo cresceu 6.23%. São números animadores.

As exportações brasileiras de açúcar somam 32.3 milhões de toneladas (de julho/20 até junho/21). Isso equivale a dizer que o Brasil exportou um adicional de 10.9 milhões de toneladas de açúcar se compararmos com o mesmo período anterior (de julho/19 até junho/20), um aumento de 50.9%. Com o etanol, as exportações alcançaram 2.9 bilhões de litros, maior volume desde dezembro de 2013 e um aumento de quase 40% em relação ao volume do mesmo período do ano passado.

A possibilidade de eventual retomada da economia sinalizando aumento no consumo do ciclo Otto associada a uma redução na produção de cana para este ano e – certamente – para o ano que vem são elementos que sinalizam uma oferta restrita de produtos que deverá fortalecer os preços em dólares por tonelada para as próximas duas safras, pelo menos.

Durante a semana, o governo indiano reafirmou que vai envidar todos os esforços para reduzir as importações de petróleo. Vários ministérios daquele país trabalham em conjunto para reduzir a dependência do petróleo e gás natural. Acreditamos que o programa que prevê aumento na mistura de etanol na gasolina vai se acelerar.

É sabido que no ano passado a área cultivada de cana na Índia caiu de 5.5 para 4.84 milhões de hectares. O consumo per capita de açúcar cresce no país e a população também, superando a China brevemente (2025/2026). É possível que o consumo indiano chegue a 31.1 milhões de toneladas de açúcar na safra 25/26 tornando a Índia um exportador residual de açúcar. Esse é um elemento que deve contribuir para o fortalecimento do mercado de açúcar. Como temos dito em vários comentários anteriores, o mercado de açúcar terá alguns bons anos de preços remuneradores.

De maneira realista, assumindo que a Índia mantenha ao longo dos próximos anos um subsídio na exportação de ₹ 3,500 por tonelada e que o preço mínimo navegue ao redor de ₹ 31,000 por tonelada, projetamos um intervalo de preços de 16-17 centavos de dólar por libra-peso para as próximas 2-3 safras, sujeitas a reavaliação dependendo da atitude do Brasil em relação a sua oferta restrita de produtos (açúcar e etanol) para o próximo ano.

Continuamos com a recomendação de aguardar por preços melhores em centavos de dólar por libra-peso, mas possivelmente menores em reais por tonelada, o que encoraja as fixações de preços em reais por tonelada com a compra simultânea de calls (opções de compra) out-of-the-money (opções fora-do-dinheiro). No entanto, apesar de o real ser uma das moedas que mais se desvalorizou após a pandemia, ela poderá sofrer ainda mais dependendo dos rasgos autoritários do inquilino do Planalto e das crises institucionais a serem por ele provocadas no horizonte do ano eleitoral de 2022. O real está no mesmo saco das moedas peruana, argentina e turca.

O empresariado brasileiro (mais de 7.000 assinaturas, na sexta-feira) publicou um manifesto nos principais jornais preocupado com o quadro político atual e, em caso de percepção de um eventual agravamento do cenário, o País certamente vai sofrer com o adiamento de investimentos externos, com a piora do risco Brasil e a desconfiança da comunidade internacional. Vale, portanto, analisar o impacto que um eventual estresse cambial pode trazer na formação de preços e comprar seguro para se proteger de eventos de cauda.

Um estresse no câmbio paralisa os reajustes da Petrobras que – caso ocorra – vai abandonar a paridade internacional. O presidente da república pediu um estudo para evitar aumento da gasolina quando os preços aumentam lá fora. Lembrando que toda vez que governos populistas, sejam eles da esquerda ou da direita, pedem “estudos” para a Petrobras, quem paga a conta é o usineiro. Esses pontos são os únicos entraves que vemos para que o otimismo em relação ao setor se dissipe.

 

*Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting

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