Açúcar
Açúcar: Sinal de alerta
O contrato futuro de açúcar em NY com vencimento para julho/22 expirou na quinta-feira resultando em uma entrega física de pouco mais de 500,000 toneladas de açúcar. Chamou a atenção, embora não necessariamente tenha sido surpresa para o mercado, um produtor receber 115,000 toneladas.
Comenta-se que o atraso nas unidades de produção da empresa e a necessidade de direcionar os açúcares produzidos para os contratos com clientes do mercado interno motivaram a companhia a suprir uma parcela de seus compromissos com o mercado externo via recebimento de açúcar de terceiros. Existem outras versões acerca entrega, mas como quem tem acesso ao seu livro é a própria empresa, não há como confirmar a veracidade das informações.
De verdade mesmo o que dizer da inacreditável queda da posição em aberto no mercado futuro de açúcar? O mês de junho encerrou com 718.000 contratos, a menor posição desde dezembro de 2017. A média de contratos em aberto no açúcar em NY nos últimos 10 anos foi de 888.000 e a maior posição (1.259.000 contratos) ocorreu em fevereiro de 2020 antes da pandemia enquanto a menor posição foi de 683.000 contratos em outubro de 2017. Mercado sem volume reflete a anemia do mercado e falta de horizonte.
De impacto na semana, pode-se dizer que a redução da posição comprada dos fundos não-indexados foi surpreendente. Cobrindo o período de terça a terça, eles liquidaram quase 50,000 lotes, restando apenas 13,000 que devem ter sido liquidados de quarta-feira para cá. Vamos voltar ao assunto logo a seguir.
As barbeiragens propiciadas por esse governo – aqui apenas no tocante a essa confusão dos diabos, digo dos combustíveis – tem como prova a proposta de auxílio financeiro de R$ 3.8 bilhões a ser ressarcido aos estados em cinco parcelas mensais de agosto até dezembro. O projeto ignora o mês de julho, ou seja, ninguém tem a mínima ideia de como o mercado vai formar o preço do hidratado. As usinas mais prudentes vão estocar e aguardar.
O amadorismo dos incautos de Brasília chega ao absurdo de dividir o benefício acima citado entre os estados com base no consumo e não na produção de cada um deles. Ou seja, estados que não tem usinas vão receber parte desse dinheiro e dividir entre o produtor e/ou distribuidor.
Estados produtores que consomem bem menos da metade do que produzem vão perder dinheiro quando aplicada a proporcionalidade, caso de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. O mais justo seria que o crédito fosse proporcional à produção de cada estado. Mas, não podemos esquecer que a formação de preço do hidratado é – grosso modo – função do preço da gasolina que por sua vez é função do mercado internacional e do câmbio. Isto é, nada garante que não podemos ter os preços do combustível novamente alterados. Vale tudo para a reeleição.
Voltando ao açúcar, a semana fechou no vermelho em NY. O contrato para vencimento em outubro/22, agora o primeiro mês de negociação, encerrou o pregão de sexta-feira cotado a 18.06 centavos de dólar por libra-peso, queda de 25 pontos em relação a semana anterior. O real, por sua vez, caiu 1.67% na semana e o dólar valia na sexta-feira R$ 5,3310.
Vale um sinal de alerta para o fato de os fundos terem praticamente zerado suas posições compradas. Pode ser que eles entrem vendidos agora e se o fizeram será uma pressão adicional em NY que vai contar com o rebaixamento do preço do hidratado na arbitragem com o açúcar. O que dá suporte para o açúcar é o fato de o etanol contar com a vantagem do CBIO que hoje representa 100 pontos equivalente NY. No entanto, a coisa pode ser pior…
Com as modificações tributárias introduzidas, a gasolina deve chegar brevemente aos postos a R$ 5,4800 o litro. Para o etanol ser competitivo seu preço máximo teria que ser de R$ 3.8360 o litro, que equivale a R$ 3.1160 com ICMS na Usina, ou seja, equivalente a açúcar NY a 15.19 centavos de dólar por libra-peso. Temos que adicionar o CBIO, colocando o ponto de equilíbrio em 16.25 centavos de dólar por libra-peso. Podemos esperar por uma queda de 200 pontos?
Acho difícil, pois as usinas estão bem fixadas para essa safra (diria uns 85%). O açúcar que ainda depende de fixação deverá ser fixado contra o vencimento março/23. Toda essa regra tributária volta a ser o que era a partir de 1º de janeiro. Tá confuso?
Esse ambiente hostil de negócios que estamos vivendo, me fez lembrar da frase de um desses gurus da administração: “A tomada de decisão mais prática não é fazer escolhas melhores, é aprender a lidar com a incerteza. A coisa mais comum que impede as pessoas da resposta certa é se apegar às suas crenças anteriores. Em vez de rejeitar instintivamente novas informações, absorva o que vem em seu caminho por meio de um sistema de avaliação de probabilidades. Um bom posicionamento permite que você controle suas circunstâncias. O mau posicionamento permite que suas circunstâncias controlem você. Quando você é forçado a agir pelas circunstâncias, segue-se uma reação em cadeia de escolhas cada vez piores”.
Caso você não tenha visto, a Suprema Corte dos EUA limitou o poder de fiscalização da Agência de Proteção Ambiental em exigir a redução de emissões. Com isso, a capacidade do país de combater as mudanças climáticas fica prejudicada e os investimentos verdes, como os fundos ESG, por exemplo, perdem importância.
É feriado nos EUA na segunda-feira, portanto a bolsa só opera a partir de terça.
*Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting
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