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ATR traz maior rentabilidade, mas produção e custos impactam receita do produtor de cana

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Depois de anos de rentabilidade muito baixa, o valor do ATR (Açucares Totais Recuperáveis) na safra 2021/22 de cana-de-açúcar deverá fechar acima de R$ 1,20, valor recorde e que poderá remunerar melhor o produtor.

Até a primeira quinzena de setembro, o valor do ATR chegou a R$ 1,0765. E, diante das expectativas de uma entressafra mais longa durante o atual ciclo agrícola, o Pecege observa uma redução na oferta de açúcar e etanol durante os próximos meses, o que deve garantir preços firmes em ambos os mercados até o primeiro trimestre do ano que vem.

Dados Pecege – Setembro 2021

Nesse contexto, estimam uma valorização consistente no preço da cana-de-açúcar pelo menos até o encerramento desta safra. De acordo com a projeção do Pecege, o preço do ATR deve continuar subindo, atingindo um valor de fechamento de R$ 1,1336/kg em 2021/22, registrando um avanço nominal acima de 45% em relação ao que se observou em 2020/21.

“Quando olhamos para esse nível de preço com o nível de qualidade da matéria-prima, vamos ter uma tonelada de açúcar a preços recordes em termos nominais”, afirma Haroldo Torres, economista e gerente de Projetos do Pecege.

Dados do Pecege – Setembro 2021

Esse cenário poderá trazer maior rentabilidade ao produtor de cana, de acordo com o economista. Por outro lado, a quebra de safra e o aumento de custos da produção de cana podem limitar os ganhos.

“O produtor, em termos nominais, vai ter uma das maiores receitas da história. Porém, falo de receitas e não de margens e resultados”, adiciona Torres.

Entretanto, a receita recorde deverá permitir um avanço e destravar investimentos que estavam congelados no setor canavieiro diante das baixas rentabilidades e baixa remuneração da atividade ao longo dos últimos anos.

“Mas o cenário acende uma luz vermelha, porque esta safra será uma das poucas ao longo da história do setor sucroenergético em que o valor de aquisição pela cana dos fornecedores será superior a cana própria das usinas, o que faz com que a indústria enfrente um impacto muito forte vindo de dois lados: do arrendamento e da cana de fornecedores, ambas as variáveis influenciadas fortemente pela valorização do preço do ATR”, afirma o economista do Pecege.

Quebra de safra e aumento de custos

Mesmo com uma projeção de preços recordes na safra 2021/22 e, consequentemente, uma remuneração muito mais positiva para o produtor, houve aumento significativo dos custos com a alta dos preços não só óleo diesel e fertilizantes como também de defensivos, como o glifosato, por exemplo.

Sendo assim, Torres alerta que o produtor deve aproveitar o momento para compor e não destruir margens com esses aumentos nos custos de produção.

“Mesmo com esse cenário de aumento de custos, a receita tem crescido em uma velocidade muito maior e isso vai trazer margens positivas. Esse nível de preços vai estimular o produtor a retomar o investimento em seu canavial, a melhorar o manejo, implementar novas variedades e tecnologias que por muitos anos ficaram adormecidas em função da baixa rentabilidade do cenário de preços que vínhamos passando”, destaca Torres.

Denis Arroyo, diretor-executivo da Orplana, diz que é preciso ter atenção na questão da quebra de produção.

“Não adianta a cana custar R$ 1000 reais a tonelada se eu só tenho um feixe para vender. Pode ser que a margem seja melhor, mas em termos de resultado líquido ainda tenho dúvidas. Vai depender da queda de produção de cada um, mas acredito que esse número feche tão bem quanto parece olhando para o faturamento”, diz Arroyo, que segue com a expectativa de uma safra entre 520 a 530 milhões de t.

O produtor de cana do Condomínio Agrícola Santa Izabel – com unidades produtoras de cana em Jaboticabal, SP e Frutal, MG – Paulo de Araújo Rodrigues, revela que apesar do valor alto do ATR, a quebra da produção e os custos vão impactar na receita final.

“O resultado do negócio é baseado no faturamento e no custo. O faturamento é composto de preço e produção. O preço teve um incremento excepcional, de mais de 30%, o que foi excelente. Mas com a produção deve cair entre 15-20%, isso come um bom pedaço da receita. Além disso, os custos aumentaram muito. Adubo, fertilizantes, defensivos, diesel, frete, serviços, peças, custo de manutenção. Tudo subiu muito. Então, na verdade a equação não é só dada pelo preço, temos que olhar quanto estamos gastando também”, comenta Rodrigues.

O produtor Paulo de Araújo Rodrigues, revela que apesar do valor alto do ATR, a quebra da produção e os custos vão impactar na receita final.

Para ele, mesmo com os bons preços, o ano deve ser muito parecido com 2020, o que vai permitir com que o produtor continue investindo no canavial, já pensando na safra 2022/23.

“Mesmo que tenhamos um ano de clima muito bom, não acho que o estrago desse período de seca vai ser resolvido. Acredito que demoramos entre dois ou três anos para recuperamos os canaviais, o que deve manter os preços bons para os próximos dois anos”, afirmou Rodrigues.

Paulo Roberto Artioli, produtor de cana e diretor da Tecnocana, localizada na região de Lençóis Paulista, SP, vê uma boa melhora nos preços e acredita em uma rentabilidade um pouco melhor do que em 2020.

“Só não vai ser melhor por conta do fator clima, que atingiu a produtividade dos canaviais, além do aumento dos preços dos insumos e dos custos de produção que estão altos. Mesmo assim, o mercado está nos mostrando que teremos bons por vir para o setor sucroenergético”, afirmou à RPAnews.

Ainda de acordo com ele, o produtor não pode deixar de dar atenção na gestão dos custos e de pensar em tecnologias como o uso de irrigação por salvamento. “Já está na hora de irmos pensando um mínimo de irrigação para a sobrevivência dos nossos canaviais. Com o mercado nos dando mais segurança, ficamos mais animados para investirmos em novas tecnologias”, adicionou o produtor.

As geadas e a seca que atingiram os canaviais deverão trazer quebra na produção de cana-de-açúcar. (Foto: RPAnews)

Luiz Carlos Dalben, produtor da Agrícola Rio Claro, também da região de Lençóis Paulista, SP, acredita que esta safra pode ser melhor do que 2020 mesmo com os agravantes como a seca e as geadas que derrubaram a produtividade deste ano e que devem impactar a próxima safra.

“Tivemos esse ano uma geada muito forte na nossa região. O que levou a nossa cana a zero. Perdemos muita cana com as geadas. Além dos fatores climáticos ainda temos aumento de todos os insumos. O adubo subiu muito, os defensivos, as máquinas e caminhões agrícolas. Todas o material que usamos como ferramenta subiu como nunca vimos. Só para se ter uma ideia, em março deste ano comprei um adubo e paguei R$ 2.200 a tonelada e agora paguei R$ 3.200 a tonelada. Mesmo assim, achamos que vai ser melhor”, disse à RPAnews.

Entretanto, Dalben destacou que o ATR não pode cair abaixo de R$1, com esse novo patamar de custos que a produção de cana está atingindo. “Vamos ter uma entressafra longa, de seis meses. Neste período não haverá muitas atividades, já que e seca não permite o plantio de cana, isso vai dar custo adicional de demissão de funcionários. Hoje, nosso custo de produção está próximo aos R$ 1,10 do ATR, então, não é um ganho expressivo e sim necessário para continuar no negócio como produtor de cana”, disse o produtor.

A RPA Consultoria estima que a produção deverá ser menor, atingindo 510 milhões de t. Os modelos de simulação da consultoria apontam que a produtividade agrícola do Centro-Sul poderá fechar em 67 t/ha, ou seja,  seria uma quebra de 14% em relação a safra passada.

“Além disso, acreditamos que a área de colheita deva se reduzir em 2,4%. Esses dois números definem uma estimativa da RPA de apenas 510 milhões de t de cana, ou seja, só para se ter uma ideia, estamos regredindo 9 safras no Centro-sul”, afirma Ricardo Pinto, CEO da RPA Consultoria.

Segundo ele, as 510 milhões de t seriam uma safra apenas superior à temporada 2011/2012, quando foram produzidas 493 milhões de t.

Por Natália Cherubin

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