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Opinião

Canaviais Impactados com Seca e Calor

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Nesta análise mensal seguem os principais números e as reflexões tanto para o curto, médio e longo prazo da cadeia agroindustrial da cana à partir dos fatos de janeiro.

A safra 2018/19 da cana não deixará bons resultados. Os custos totais subiram, segundo o PECEGE, em 6,9%, graças a fertilizantes, diesel e operações, estando agora em R$ 127,41 por tonelada moída. Também houve quebra de 4% na safra, e como boa parte dos custos são fixos (entre 75 a 85%), isto deteriora as margens. Estima-se que 70,8% deste custo total seja na parte agrícola. Além de menor produção, os os preços não ajudaram. No caso do açúcar, foi vendido em média a R$ 967,53 a tonelada quando o custo total de produção (inclui depreciação e custo de capital) é de R$ 1.288,40 por tonelada. No caso do hidratado, o preço médio em 2018 foi de R$ 1.771 por metro cúbico, enquanto que o custo total foi de R$ 2.065 por metro cúbico.

Fruto deste quadro, o último levantamento da RPA Consultoria (set/18) indica 93 usinas fechadas com uma capacidade de moagem de 99 milhões de toneladas por safra. É 21% das 443 unidades que o Brasil possui. A empresa relata que mais duas usinas deixarão de operar em 2019, a Clealco em Clementina e a Ibéria em Borá. Mas a Clealco declarou que Clementina retoma na safra 2020/21.

Novidades no mercado da digitalização envolvendo o setor estão sendo trazido pela Cosan, com o aplicativo que permite transações de dinheiro entre compradores e vendedores sem passar pelo sistema de cartão de crédito e dos bancos, economizando taxas e tarifas. Os mais de 6000 postos teriam direito a uso, pagando apenas 0,1% do valor, contra quase 3% do cartão tradicional. Interessante modelo de negócios, que pode envolver toda a cadeia produtiva (chama-se Payly, inspirado na Alypay Chinesa e na WeChatPay). É preciso entender mais os impactos disto no agro.

Seguem relatos de seca (veranicos) em algumas regiões produtoras do Centro Sul que podem reduzir a expectativa de 570 milhões de toneladas em 2019/20.

Segundo a UNICA, no acumulado da safra 2018/2019 fechados os números até o dia 15 de janeiro, estamos 3,55% abaixo da safra anterior, moendo 562,67 milhões de toneladas.

Sobre as reflexões dos fatos e números do açúcar, a moagem até o final de dezembro foi de 562 milhões de toneladas na atual safra (3,6% a menos que na safra anterior) e estamos praticamente no final, segundo a UNICA. Para a FCStone a moagem da próxima safra será de 564,7 milhões de toneladas, com 59% do mix para o etanol (64,7% nesta safra), portanto voltaremos a ter crescimento no mix destinado a açúcar. Para a empresa o Brasil produzirá 30,2 milhões de toneladas de açúcar em 2019/20, quase 15% a mais que nesta safra. Sua projeção aumentou em praticamente 1 milhão de toneladas desde a primeira lançada. Foi anunciado que além da Bunge, a Olam também deixará o trading de açúcar. Segundo a Archer, 60% do mercado está nas mãos de Alvean (Cargill e Copersucar), RaW (Raízen e Wilmar) e Sucden.

A ISMA (Associação de Usinas de Açúcar da Índia) estima agora a produção 30,3 milhões de toneladas. No fechamento desta coluna mensal, o açúcar segue estacionado entre 12 e 13 cents/libra peso.

Sobre as reflexões dos fatos e números do etanol e energia, a FCStone estima que a produção de etanol no Centro Sul será quase 11% menor, ficando em 26,8 bilhões de litros na safra 2019/20 (17 bilhões de litros de hidratado e 9,8 bilhões litros de anidro). A estimativa foi reduzida em 600 milhões de litros desde a primeira feita. Desta produção, cerca de 1,2 bilhões virão do milho (35% maior).

No consumo são boas as notícias, pois de etanol hidratado em dezembro foram vendidos 1,79 bilhão de litros, 25% acima do mesmo mês de 2018. Em novembro havia sido de 1,83 bilhão de litros, e a queda nos preços da gasolina afetou este consumo (UNICA). Desde o início da safra em 1 de abril até o final do ano produzimos 30,1 bilhões de litros de etanol (19,4% a mais) e 26,3 milhões de toneladas de açúcar (26,5% a menos). Na primeira quinzena de janeiro no Centro Sul segundo a UNICA foram vendidos 1,26 bilhão de litros na primeira quinzena de 2019, 20% a mais que a primeira quinzena de 2017. As vendas de hidratado chegaram a quase 870 milhões de litros, 32% acima da comparação com 2017. Fechados os números de 2018, houve queda do consumo de combustíveis no Brasil (ciclo Otto) em 3%. O etanol hidratado cresceu 26%, enquanto que a gasolina caiu 13%. Segundo a Archer, o valor da gasolina nos postos de SP hoje deveria ser ao redor de R$ 3,78/l, mesmo com este preço o etanol hidratado ainda esta vantajoso.

A Archer trouxe que em 2018 foram licenciados 2,46 milhões veículos leves, 12% a mais e em 2019 podem ser mais 2,7 milhões, portanto teremos 3,5 milhões de automóveis a mais (tirando o sucateamento) que a Bioagência estima consumirem cerca de 1.400 litros por ano.

Um fato interessante ocorreu nesta primeira quinzena de janeiro, pois dos 70,35 milhões de litros produzidos 45,82 milhões vieram do milho, sendo maior que a produção vinda da cana.

A Logum, que agora tem como sócios majoritários a Petrobrás, Raizen e Copersucar, tem planos de expansão do duto para o Centro Oeste, visando captar também a produção de etanol de milho, que pode alcançar 5 bilhões de litros em cinco anos no MT. Se o duto chegar a Cuiabá, a expansão pode ser mais forte ainda por evitar o trajeto de mais de 1500 km via rodovias para seu transporte.

Perspectivas de médio prazo também têm boas notícias. O parlamento francês autorizou o aumento da mistura de etanol da gasolina, passando de 7,5% em 2018 para 7,9% em 2019 e 8,2% em 2020. Nova projeção da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) mostra que até 2030 cerca de R$ 90 bilhões em investimentos seriam necessários no setor de combustíveis renováveis. No etanol seriam R$ 60 bilhões para levar a produção a quase 50 bilhões de litros. A EPE estima 19 novas usinas a R$ 15 bilhões e R$ 8 bilhões na expansão das atuais. No caso do biodiesel, a EPE (Empresa de Pesquisa Energética) estima R$ 3 bilhões em investimentos até 2023 para acompanhar o aumento da mistura dos atuais 10% para 15%.

É preciso acertar a questão da eletricidade gerada à partir da biomassa da cana. Estimativas da UNICA e da COGEN mostram que o setor pode produzir 30% a mais, economizando 15% do volume de água dos reservatórios. Falta hoje a remuneração por esta geração adicional, que poderia ser conseguida via portaria do MME (Ministério de Minas e Energia) pois toda ela é liquidada no mercado de curto prazo, via CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) e existem liminares feitas pelas hidrelétricas que impedem o recebimento deste adicional de energia que poderia ser gerado. A UNICA estimou em final de 2017 que passavam de R$ 400 milhões o que deveria ser recebido.

Finalizando… qual seria a minha estratégia? O quanto desta safra vindoura de cana que será alocada para açúcar é a principal variável empresarial a ser acompanhada, fora as questões climáticas que afetam o crescimento da cana, comentadas acima. O mix será uma consequência da influência do câmbio, do preço do petróleo e da gasolina no mercado interno, da evolução dos estoques de etanol agora na entressafra, e da reação do consumo de açúcar e combustíveis com o crescimento da economia. E este mix, somado ao andamento das produções da safra 2018/19 no mundo, é decisivo para antever como serão os preços do açúcar na próxima safra. Eu acredito em melhoria por confiar que os fatores acima serão mais favoráveis, e com muito medo do impacto deste clima seco e extremamente quente na nossa safra 2019/20.

Por: Marcos Fava Neves, professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio

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