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Clima extremo deve continuar em 2025 e preocupa o agronegócio
Previsões indicam períodos longos de seca intercalados com chuva intensa
Após um ano em que os extremos climáticos causaram perdas humanas e na economia em várias regiões do Brasil, não há, ao menos por ora, expectativa de trégua em 2025. E, mais uma vez, a agropecuária pode sofrer, já que as previsões para o próximo ano apontam para acontinuidade de eventos como períodos longos de seca intercalados com chuvas intensas em um curto espaço de tempo, além de temperaturas acima da média.
Meteorologistas indicam que esses fenômenos podem impactar culturas como soja e milho, sobretudo no Sul e Nordeste do país.
Região Sul
O Rio Grande do Sul é considerado o Estado mais vulnerável às intempéries. Segundo Gilvan Sampaio, pesquisador e meteorologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a combinação de aquecimento do oceano Atlântico com a chegada do La Niña no início de 2025 pode intensificar os períodos de seca no Estado nos primeiros meses.
“O La Niña deve perdurar até fevereiro, mas será de fraca intensidade. A única influência esperada é no Rio Grande do Sul, com chuvas ligeiramente abaixo da média no começo do ano”, prevê. Sampaio observa que a tendência global de aumento das temperaturas impacta diretamente os períodos de plantio e colheita.
Ana Maria Heuminski de Avila, agrometeorologista do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), ligado à Unicamp, corrobora a tese de que o La Niña será fraco e passageiro, mas o bastante para acender o alerta para os produtores gaúchos. “O Sul pode enfrentar janelas de tempo sem chuva e radiação solar intensa. Uma semana sem chuva, com temperaturas altas, já impacta diretamente as culturas”, afirma.
No Rio Grande do Sul, a expectativa é de que o plantio da soja da safra 2024/25 seja finalizado até a primeira quinzena de janeiro. De acordo com boletim da Emater/RS, divulgado na quinta-feira (26), a semeadura alcançou 96% da área projetada de 6,811 milhões de hectares no Estado.
Até agora, as lavouras têm excelente desenvolvimento, segundo a Emater, mas há preocupação com as plantações precoces, que estão em floração e enfrentaram distribuição irregular e baixos volumes de chuva nas primeiras três semanas de dezembro. No caso do milho, outra importante cultura no Rio Grande do Sul, o plantio atingiu 95% da área estimada de 748.511 hectares.
De acordo com a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla inglês), principal órgão de monitoramento de fenômenos climáticos globais, há maior probabilidade de o La Niña se estabelecer entre dezembro deste ano e fevereiro de 2025, com transição para condições neutras esperada para entre março e maio de 2025.
Demais regiões
A Amazônia, que sofreu com a seca em 2024, também deve voltar a registrar períodos sem chuva no próximo ano. As informações levantadas pelo Inpe indicam que o oceano Atlântico deve continuar aquecido. Isso significa chuva para o norte da Amazônia, mas não para o sul e sudoeste, que enfrentam grave estiagem desde agosto. “Passaremos por novas estiagens no sul e sudoeste da Amazônia, mas a intensidade dependerá da evolução do Atlântico tropical norte. Ainda é cedo para dizer”, observa Gilvan Sampaio.
No Centro-Oeste, onde a regularidade das chuvas é maior, a pesquisadora do Cepagri destaca que a dependência da umidade da Amazônia continua crucial. Mesmo com mais precipitação, a previsão de temperaturas mais altas se mantém e pode afetar a produção de grãos.
Para Jean Ometto, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coordenador do Adapta Brasil, os dados históricos indicam que o Cerrado está ficando mais quente e seco. Isso exige maior adaptação por parte dos agricultores. “Até a década de 1990, o produtor sabia exatamente quando plantar e colher. Hoje, não é mais assim. A agricultura tropical precisa entender que não existe mais padrão climático. Está ficando mais quente, isso é inegável”, reforça.
Diante disso, segundo ele, o uso de sistemas de conservação de água, irrigação e diversificação de culturas é fundamental para manter a competitividade.
Ometto enxerga 2025 como mais um período com risco de perdas agrícolas relevantes, especialmente em regiões vulneráveis como o Rio Grande do Sul.
Para o Nordeste, a previsão do Inpe é de continuidade de temperatura muito altas, o que aumenta a demanda por evaporação. Como não há água em abundância no solo, a região seca não consegue fornecer mais umidade para a atmosfera, explica Sampaio. Assim, a tendência é que essas regiões se tornem cada vez mais secas. “O sul do Piauí, oeste de Pernambuco e sul do Ceará tendem a passar por maior ‘aridização’, transformando a caatinga em um ambiente semiárido ou desértico”.
Recomendações
Diante do clima irregular, a recomendação de Ana Maria de Avila, do Cepagri, aos produtores é diversificar os cultivos e também as épocas de plantio. “A qualquer momento, podem ocorrer períodos de estiagem e calor, o que impacta diretamente as safras de soja, milho, arroz e feijão. Essas culturas possuem janelas específicas de plantio, e, quanto mais o agricultor conseguir diversificar variedades e culturas, melhor”, diz ela.
A agrometeorologista também cita práticas como o plantio direto para reduzir o impacto de chuvas intensas ou secas prolongadas.
Já Ometto, do Inpe, aponta que o desenvolvimento de sementes resistentes às intempéries será essencial para enfrentar os desafios climáticos futuros. “É necessário pensar em cultivos adaptados a temperaturas altas, chuvas intensas e períodos de seca”.