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Custos de produção de cana: quais efeitos do câmbio e dos fertilizantes?

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Análise foi realizada pelo Projeto Campo Futuro da CNA em parceria com o Senar e Pecege

Diante da importância dos fertilizantes nos custos de produção de cana-de-açúcar, o projeto Campo Futuro da CNA ( Confederação Nacional Agricultura e Pecuária do Brasil) em parceria com o Senar e Pecege, realizou um estudo para determinar a elasticidade dos preços do adubo no mercado nacional frente a mudanças na taxa de câmbio a fim de mostrar o impacto percentual de uma elevação de 10% na taxa de câmbio sobre os preços dos fertilizantes nas revendas brasileiras. E como tal impacto afeta na composição dos custos de produção, ainda que de forma isolada?

A taxa de câmbio é uma variável extremamente volátil no Brasil. Por se tratar de um país em desenvolvimento, o valor de sua moeda encontra-se fortemente sujeito ao ambiente econômico externo – com destaque para mudanças nas taxas de juros globais –, bem como a eventos econômicos e políticos internos.

“No agronegócio brasileiro, a taxa de câmbio costuma apresentar dois efeitos antagônicos:
de um lado, eleva a receita dos exportadores e, de outro, pressiona os custos de produção, tendo em vista a elevada dependência brasileira para com insumos de origem estrangeira. Embora o impacto na receita dos exportadores costume ser linear – isto é, se a cotação do dólar se elevar 10%, sua receita, em R$, se elevará os mesmos 10%, tudo mais constante –, no caso dos preços dos insumos vinculados ao setor externo, tal impacto pode ser amortecido pelas margens de participantes da cadeia de distribuição”, afirma o estudo.

Evolução recente da taxa de câmbio

Diversas condições determinam a taxa de câmbio, tais como taxas de juros, inflação e crescimento econômico, além de perspectivas para essas três variáveis, sejam elas do contexto econômico local ou internacional. Com isso, a taxa de câmbio sofre variações que determinam a sua volatilidade, às vezes mais (ou menos) sensível à determinados acontecimentos.

O Gráfico 1 apresenta a taxa de câmbio diária, destacando alguns fatos que marcaram o cenário mundial. Ainda no segundo semestre de 2019, iniciou-se um movimento de desvalorização da moeda brasileira, inicialmente puxada por um processo de redução das taxas de juros brasileiras.

A alta inicial da taxa de câmbio, no caso dos insumos agrícolas, foi compensada por um cenário de baixos preços internacionais destes itens em virtude da redução da demanda global e, em particular, dos Estados Unidos. A elevação mais notável do valor da moeda americana frente à brasileira, contudo, veio a ocorrer a partir da ocorrência de focos de COVID-19 no início de 2020.

Com a consolidação de um cenário pandêmico, a taxa de câmbio superou, pela primeira vez desde o Plano Real, R$ 5,00/US$ devido, entre outras coisas, à redução do crescimento e das taxas
de juros e à piora dos indicadores fiscais brasileiros em virtude das políticas de mitigação dos efeitos sociais e econômicos do isolamento social.

A taxa de câmbio viria a ficar abaixo de R$ 5 apenas em meados de 2021, mas retornando a patamares superiores rapidamente. Uma redução mais consistente ocorreria apenas em 2022, acelerada também pelo influxo de divisas em meio ao aumento da taxa de juros brasileira e realocação de recursos em meio à guerra entre Rússia e Ucrânia e às sanções sobre a primeira.

A existência de uma grande volatilidade da taxa de câmbio em virtude de eventos econômicos diversos, com impactos diretos sobre o custo de produção. No curto prazo, porém, tal impacto é notadamente mais sentido nos fertilizantes comercializados no Brasil.

Mercado brasileiro de fertilizantes

A principal característica do mercado brasileiro de fertilizantes é sua dependência externa. De dados do estudo, a produção brasileira de fertilizantes NPK é insuficiente até mesmo para atender a demanda nos períodos de menor procura por este tipo de insumos, mostrando indispensável sua importação.

Em 2022, em virtude da guerra no Leste Europeu, uma série de sanções foram impostas tanto à Rússia, diretamente envolvida, e a seu aliado geopolítico Belarus. Ainda que o Brasil tenha sido menos afetado por restrições de oferta do que o esperado inicialmente, até o encerramento
de março, as importações acumuladas de NPK foram 4,0% inferiores ao observado em 2021, quando ocorreu o recorde histórico de importações.

Mesmo que o volume importado não tenha sido significativamente afetado pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, dois movimentos negativos atingiram rapidamente o mercado brasileiro de fertilizantes: elevação generalizada de preços, ao menos nas primeiras semanas do conflito, e escassez de produto em virtude da aceleração da procura sem reposição em velocidade equivalente.

Impactos nos custos de produção 

No prazo de um mês, de acordo com o estudo, a estimativa é de que 44% da variação do preço global dos fertilizantes seja repassada para o mercado brasileiro, enquanto 56% da variação da taxa de câmbio é repassada ao mercado nacional. Ou seja, cerca de metade da variação nos preços externos e no câmbio são repassados para o mercado nacional em um curto prazo de tempo, evidenciando o grau de exposição do agronegócio brasileiro – e, em particular, dos produtores de cana-de-açúcar – a fatores externos, afetando diretamente a gestão estratégica da produção.

A partir dos resultados obtidos e, sabendo-se que os fertilizantes representam, em média, 27% do custo operacional da produção de cana-de-açúcar, então, no período de um mês, o impacto de um choque de 10% na taxa de câmbio, isoladamente, representaria um aumento de 1,54% no COE (Custo Operacional Efetivo) no intervalo de um mês (Veja Tabela 2).

No longo prazo, no entanto, de acordo com estudo, espera-se transmissão completa das variações no preço internacional e da taxa de câmbio sobre o preço doméstico dos fertilizantes.

Para a realização dessa estimativa, foi considerada a série de dados mensais entre janeiro de 2016 e abril de 2022 das variáveis, na primeira diferença do logaritmo, do índice médio de preços de fertilizantes (estimado com base nos dados do Projeto CampoFuturo da CNA/Senar) e da taxa de câmbio – média do período (BCB, 2022). Ademais, um índice global de preços de fertilizantes do The World Bank (2022) foi utilizado como variável controle.

Leia estudo completo AQUI.

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