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Do plástico ao adubo: um novo caminho para a cana-de-açúcar

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Empresa desenvolve bioplástico que se transforma em adubo quando em processo de decomposição

Com o intuito de criar um caminho alternativo e sustentável para a produção do plástico comum, a ERT (Earth Renewable Technologies) se tornou pioneira na produção de bioplásticos compostáveis no Brasil a partir da cana-de-açúcar, e atualmente é a maior fabricante deste material na América Latina. O pulo do gato da companhia, foi utilizar uma matéria-prima que, diferente de outros bioplásticos produzidos no Brasil, vira adubo em condições de compostagem após 180 dias, sem gerar resíduos de microplásticos.

A história da ERT começa em 2009, nos laboratórios da Clemson University, EUA, referência em estudos com polímeros. Na época, os pesquisadores da universidade desenvolveram e patentearam uma resina feita de poliácido lático (também conhecido como PLA), que é obtida a partir da fermentação da cana-de-açúcar. O estudo tinha como objetivo, encontrar uma solução para a substituição do plástico comum. Em 2017, o projeto passa a ter prospecção comercial, quando o empresário brasileiro Kim Gurtensten Fabri conhece o projeto em laboratório e decide investir no negócio. Em 2021, Fabri traz a primeira planta para o Brasil, que fica localizada em Curitiba, PR, e passa a produzir em escala industrial o bioplástico a partir do PLA.

O material plástico utilizado que é 100% biodegradável, se origina da mistura de um polímero (PLA ou poliácido lático), obtido a partir da fermentação da cana-de-açúcar com outros materiais orgânicos como amido de milho e fibra de madeira.  De acordo com Fabri em entrevista à RPAnews, são necessários 2,2 kg de açúcar para produzir 1 kg de PLA, que é o principal produto do bioplástico da ERT. Nessa proporção, para uma produção de 10 mil toneladas de PLA, são necessárias 22 mil toneladas de açúcar. Como o Brasil produz atualmente em torno de 41,2 milhões de toneladas de açúcar por ano, a produção dessas 10 mil toneladas consumiria apenas 0,05% de todo o açúcar produzido no Brasil. Ainda assim, a matéria-prima é importada de outros países como a Tailândia e Estados Unidos.

De acordo com o CEO da ERT, o plano é construir uma planta de PLA no Brasil e se tornar a primeira indústria na América Latina com esta tecnologia, acabando com a dependência da importação desta matéria-prima que é de alto valor agregado e que pode gerar interesse para o mercado sucroenergético.

“Os atributos de sustentabilidade são altamente atrativos para o mercado brasileiro, tanto pelo seu tamanho quanto pelas legislações em curso para o banimento de plásticos convencionais e o crescimento de alternativas sustentáveis para toda a cadeia plástica”, afirma Fabri.

O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de açúcar e respondeu por aproximadamente 23% da produção mundial e 51,3% do comércio global do produto até a safra 2020/21, de acordo com dados do MAPA (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento). Esse fato foi crucial na decisão de trazer a tecnologia dos Estados Unidos para o Brasil, segundo Fabri.

“O uso da cana para o PLA representaria cerca de 1% da cana produzida no país. Portanto, o Brasil vai continuar exportando açúcar e etanol, mas existe espaço para sermos uma potência na revolução verde e protagonistas na exportação de bioplástico”, complementa.

Após ser repassada para a indústria de transformação, a matéria-prima da ERT entra na vida do consumidor quando está presente em embalagens e produtos como sacos de lixo, sacolas, potes, copos e talheres. Empresas importantes como iFood, lavanderia 5àSec, Havaianas, Farmácias São João e a rede de lojas Havan, já usam o material em algumas de suas aplicações. O agronegócio não poderia estar de fora, a ERT também desenvolveu um papel filme compostável, os mulch films, que já vem sendo aplicado em embalagens de frutas como morango e melão.

Bioplástico não é recente no Brasil

No Brasil, o mercado de bioplásticos não é tão recente. A Braskem, há 12 anos, produziu o primeiro plástico verde em escala industrial. A linha de produtos batizada de I’m green evoluiu ao longo dos anos e hoje a planta da companhia, localizada no Rio Grande do Sul, tem a capacidade de produzir cerca de 260 mil toneladas de polietileno verde e outros produtos a partir da cana-de-açúcar como o EVA verde e resinas PCR.

No entanto, a tecnologia é bem diferente do que a ERT propõe. Em entrevista à RPANews, Fabri explica que o polietileno verde da Braskem tem como origem renovável a cana-de-açúcar, mas não é compostável, ou seja, não é biodegradável, tendo um final de vida exatamente igual a um plástico de petróleo.

“Um material plástico é definido como um bioplástico se o seu início de vida for a partir de fonte renovável ou quando o seu fim de vida é compostável. Os produtos da ERT atendem os dois requisitos: têm fonte renovável e são compostáveis”, conclui.

A capacidade de produção atual da fábrica da ERT de Curitiba é de 3,5 mil toneladas por ano de bioplástico. Essa capacidade deve dobrar com a abertura de sua segunda unidade em Manaus, anunciada no início deste ano. “A companhia busca dobrar sua capacidade anualmente até chegar a um total de 15 mil toneladas nesta unidade de Curitiba”, conta Fabri.

A companhia vai iniciar a produção da nova unidade ainda neste primeiro trimestre de 2024. A perspectiva é produzir 3,5 mil toneladas por ano do bioplástico na nova unidade.

Maria Vitoria Trintim, sob supervisão de Natália Cherubin

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