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Edição 196

Especial – Vem aí a safra 2018/19: o que esperar

Publicado

em

Natália Cherubin

É consenso entre quase todos os especialistas e consultores do mercado sucroenergético: a safra de cana-de-açúcar 2018/19, que se inicia em abril, deve ser menor. As chuvas irregulares, os canaviais mais velhos e fragilizados, e o preço do açúcar – que vem declinando diante do superávit da produção mundial – são alguns dos fatores que devem impactar o novo ciclo que se inicia. No entanto, a aprovação e agora regulamentação do RenovaBio, que deve sair até junho, e a recuperação dos canaviais, sinalizam um horizonte mais positivo. Podemos estar iniciando uma temporada de despedida da crise. Pelo menos da crise de preços.

De acordo com dados da Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar), até a segunda quinzena de fevereiro – quando sete unidades seguiam operando no Centro-Sul – a moagem da safra 2017/18 somou 584,55 milhões de t, queda de 1,71% sobre igual período do ciclo 2016/17, que foi de 594,73 milhões de t. Dessa quantidade, 53,13% foi destinada à produção de etanol, que totalizou 25,40 bilhões de l, os quais 14,86 bilhões de l de etanol hidratado e 10,54 bilhões de l de anidro. A produção acumulada de açúcar, por sua vez, atingiu 35,83 milhões de t (1,63% a mais).

Com relação ao ATR, houve uma boa melhoria. A safra 2017/18 atingiu 137,30 kg/t, contra 134 kg/t na safra anterior (2,64% melhor), por isto, segundo Marcos Fava Neves, professor Titular da FEA/USP, o setor tem mais produtos mesmo tendo menos cana. “O rendimento de etanol e açúcar por tonelada de cana processada nesta safra estavam em 42,71 l (2,03% acima) e 61,36 kg (3,35% acima), respectivamente.”

Até o final de 2017, as perspectivas preliminares para a safra 2018/19 apontavam uma moagem entre 560 milhões e 625 milhões de t, a depender da renovação dos canaviais. A partir do início deste ano, diversas estimativas passaram a convergir para uma safra ao redor de 580 a 595 milhões de t, com mix bem maior para o etanol (59%), puxado pelo crescimento do consumo de combustíveis, o que deverá retirar de 5 a 7 milhões de t de açúcar do mercado mundial.

“A safra de cana deste ano começa com bom preço do petróleo, estimando o Brent ao redor de US$ 78 por barril, devido à economia mundial estar crescendo mais e da estabilidade da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) em sua produção, ou seja, maior demanda com a mesma oferta. As usinas, que devem faturar R$ 90 bilhões em 2017/18, segundo a Unica, número 8% menor que em 2016/17, investirão cerca de R$ 10 bilhões em 2018/19, com um endividamento de praticamente R$ 100 bilhões, com 366 usinas em operação, sendo 279 no Centro-Sul”, afirma Fava Neves.

Para Ricardo Pinto, sócio-diretor da RPA Consultoria, a safra que se inicia em abril de 2018 será mais uma vez de canavial mais velho do que a safra anterior, com área total de canavial a ser colhido um pouco menor pelo aumento da área de plantio de cana de 18 meses, que reduzirá a área de colheita.

“Juntando as chuvas irregulares do início deste verão, o resultado deverá ser uma queda de pelo menos 2% no volume total de cana do Centro-Sul em relação à safra 2017/18. E como os preços de açúcar estão bem deprimidos ao passo que o consumo de etanol vem crescendo significativamente, o mix da cana para produção de açúcar na safra 2018/19 deverá ser o menor dos últimos anos.”

Antonio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da Unica, diz não ser possível prever um número de oferta de cana nesse momento, porque a área a ser colhida depende da intensidade da área de renovação de cana de 18 meses. “A expectativa era de um incremento na área de renovação, o que poderia significar uma redução da área a ser colhida, no entanto, as condições climáticas dificultaram o plantio em dezembro e no mês de janeiro de 2018.”

O produtor e sócio-diretor do Condomínio Agrícola Santa Izabel, Paulo de Araújo Rodrigues, afirma que tudo indica que a safra 2018/19 deverá ser menor que a atual e com menor produtividade. “Teremos canaviais mais velhos e falhados, castigados pelo longo período de déficit hídrico que se estendeu de meados de fevereiro a novembro de 2017 nas principais regiões produtoras do país. Por outro lado, não existem no momento sinais de recuperação significativa de preços para nossos principais produtos. Ou seja, teremos outro ano de margens apertadas, com baixo nível de investimento e sem conseguir reduzir o endividamento.”

Visualizando um cenário um pouco diferente do consenso da maioria das fontes do mercado, o sócio-analista da Agroconsult, Fabio Meneghin, prospecta uma safra similar à 2017/18, mas com uma leve recuperação da disponibilidade de cana. “Hoje trabalhamos com uma moagem de 600 milhões de t para o Centro-Sul e 49 milhões de t para o Nordeste. O clima até o momento no Centro-Sul tem sido muito bom para o desenvolvimento dos canaviais. As chuvas nas principais regiões produtoras estão entre 20% a 30% acima da média histórica. Além disso, as entregas de fertilizantes nos tradicionais estados canavieiros bateram recordes nos últimos meses.”

Ainda de acordo com Meneghin, o desempenho dos índices de vegetação dos canaviais (imagens de satélite) tem sido muito bons e já ultrapassam os níveis do ano passado. “Portanto, é possível apostar numa leve alta da produtividade média e, por consequência, na disponibilidade de cana-de-açúcar”, adiciona.

A INTL FCStone, também mais otimista, prevê o processamento de 592,5 milhões de t de cana, alta de 0,6%. A consultoria prevê uma safra mais alcooleira, com mix de 42,4% de cana para o açúcar e 57,6% para o etanol. “Assim, a produção de açúcar entre abril de 2018 e março de 2019 no Centro-Sul deve alcançar 32,4 milhões de t, 10% abaixo da produção estimada para 2017/18. Já a produção total de etanol deve ficar em 27,1 bilhões de l, subdividida em 16,4 bilhões de l de etanol hidratado (+7,2% no comparativo anual) e 10,7 bilhões l de anidro (+2,2%)”, relatou a consultoria.

Para Arnaldo Luiz Corrêa, diretor da Archer Consulting, a próxima safra dificilmente deverá repetir o volume de cana da temporada anterior. O levantamento da consultoria baliza a previsão para 2018/19 como sendo a de uma produção de 580 milhões de t de cana, com um mix de 41,4% para o açúcar e 58,6% para o etanol. A produção da safra, desta forma, fica sendo de 30,5 milhões de t de açúcar e 26,5 bilhões de l de etanol, dos quais 11,9 bilhões de l de anidro e 14,6 bilhões de l de hidratado. “É importante notar que comparativamente à safra 2017/18, o Centro-Sul poderá vir a assistir na safra que se inicia uma redução de mais de 5 milhões de t de açúcar em relação à safra que se encerra.

Manoel Ortolan, presidente da Canaoeste (Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo), também espera uma safra menor, com preços próximos aos que foram praticados na última temporada ou ainda menores.

“Isso vai ocorrer porque teremos superávit de açúcar no mercado e uma produção de cana menor, por conta do estado dos canaviais que estão mais envelhecidos, com falhas e sofreram com uma intensidade de queimadas no período de junho a setembro de 2017. Nessa época, o tempo foi muito seco e isso acabou comprometendo a brotação das soqueiras. Então os produtores terão que cuidar dos seus canaviais, porque com o preço baixo e a produção baixa, se o canavial estiver ruim, a situação fica ainda pior. Se o canavial estiver bem cuidado, no momento em que a produção recuperar, o produtor recupera junto”, observa.

Alessandra Ramos Durigan, gestora Técnica da Canaoeste, acrescenta que os maiores desafios da nova temporada serão o clima, principalmente pela irregularidade das chuvas, pragas, plantas daninhas, idade avançada do canavial e compactação de solo. “E ainda, o maior de todos eles, a falta de políticas públicas e planejamento estratégico que incentivem investimentos e garantam a competividade dos produtos”, enfatiza.

TCH E ATR MENORES

O histórico de produtividade agrícola geral do Centro-Sul, de acordo com a RPA Consultoria, mostra uma pequena queda ao longo das últimas três safras. Enquanto na safra 2015/16 a produtividade batia 78 t/ha, na safra 2017/18 a produtividade atingiu 75 t/ha. Agora, segundo Ricardo Pinto, por conta do envelhecimento do canavial a ser colhido, a safra 2018/19 poderá ter um TCH de 1 a 1,5 t/ha menor, obviamente dependendo das chuvas e de sua distribuição.

“Contudo, a boa notícia é que a produtividade média do primeiro ao quinto corte subiu de 79 t/ha em 2016/17 para 83 t/ha em 2017/18. Este valor é até maior do que o obtido em 2015/16, de 82 t/ha. Logo, as práticas e táticas adotadas nos canaviais mais novos vêm mostrando resultados. Este trabalho, somado a uma forte renovação dos canaviais do Centro-Sul poderá fazer a região voltar ao patamar de 85 a 86 t/ha de produtividade média em alguns anos”, destaca.

Como o ATR da última temporada mostrou-se o melhor das últimas três safras, perdendo somente para o da safra 2014/15, Ricardo Pinto acredita que não seja prudente contar novamente em 2018/19 com um ATR alto pelos atuais padrões, como o que aconteceu na safra passada. “Um valor ao redor da média das últimas quatro safras, ou seja, de 132,32 kg/t cana é uma premissa mais plausível de ser adotada neste momento. Em resumo, acredito num TCH e num ATR menores do que em 2017/18.”

Meneghin projeta que o Centro-Sul atinja 76,4 t/ha contra 74,1 t/ha de 2017/18, mas diz que o ATR é a grande dúvida da safra. “Creio que será um pouco menor este ano, pois 2017 foi um ano muito seco que resultou num ATR elevado. Acho difícil repetir um outro ano seco igual. Então trabalhamos com uma queda de 1,8% no ATR.”

Mesmo com as condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da cana soca colhida no último terço da safra, Pádua afirma que durante o ano de 2017 um veranico, que em algumas regiões chegou a 120 dias, dificultou a brotação da soqueira do início e meio de safra. “Isso combinado com um canavial mais envelhecido vai, sem dúvida, levar a uma redução na produtividade agrícola. A maturação da planta vai depender das condições climáticas no decorrer do período de colheita e do manejo da colheita. A safra deve ser mais curta devendo impactar o ATR positivamente.”

A gestora Técnica da Canaoeste, acredita em números semelhantes e até em um TCH um pouco superior. “No entanto, este número é muito dependente das chuvas que estão ocorrendo neste verão, principalmente para as canas colhidas do meio para o final da safra passada. A falta de renovação do canavial é um fato concreto e impede diretamente o crescimento significativo da produtividade agrícola.” Com relação ao ATR, Alessandra prefere não arriscar porque acredita que dependerá muito do clima, principalmente das chuvas. “Caso os volumes de chuvas forem maiores que 2017, os números de ATR serão menores”, complementa.

MAIS ETANOL, MENOS AÇÚCAR

A situação projetada para canaviais deverá afetar os preços do açúcar positivamente até o final da safra 2018/19, reduzindo de vez o superávit mundial da commodity. Já os preços do etanol, segundo Ricardo, devem surfar conforme o mercado internacional do petróleo e o crescimento da economia brasileira.

“O mercado nacional estará demandando mais etanol. Com a diferença maior entre a alíquota de PIS/Cofins do etanol em comparação com a gasolina, foi possível perceber que de outubro a dezembro de 2017 houve um crescimento médio de vendas de etanol hidratado de quase 26% em relação a estes mesmos três meses de 2016 no Brasil. Nos nove meses anteriores, tinha havido uma redução de 16% entre 2017 e 2016. Com esta maior predileção pelo etanol hidratado por parte do consumidor e com um crescimento do PIB projetado para o Brasil em 2018, mesmo que moderado, o setor sucroenergético terá de ofertar mais etanol, sob pena de termos de importar muito deste combustível.”

Meneghin acredita que este ano, especificamente, o Brasil não vai formar os preços do açúcar. Devido ao excedente mundial de quase 8 milhões de t em 2017/18 e um novo excedente previsto de 2 milhões de t em 2018/19 promovido pela Índia, os preços do açúcar já estão achatados o suficiente para estarem próximos da paridade de exportação do competidor mais eficiente que é o Brasil. “Veremos o açúcar oscilando dentro da faixa de 13 a 15 cents/libra até a metade de 2019.”

Já o etanol, na projeção da Agroconsult, tem uma nova dinâmica de preços, ora balizado pelo excesso de oferta doméstica e ora pela paridade com a gasolina, agora com preços livres. “Se o petróleo continuar na faixa dos US$ 60 a US$ 70 o barril, vamos continuar a ter um etanol remunerando mais que o açúcar em 2018 e 2019”, adiciona.

Segundo o diretor-técnico da Unica, o cenário de preço do petróleo, o câmbio e a política de preços da Petrobras, acompanhando preços dos combustíveis do mercado internacional, dá mais competitividade ao etanol. “Mesmo com a redução da oferta de cana, não haverá redução na oferta de etanol. A expectativa é que o volume de açúcar e as exportações sejam reduzidas em mais de 3 milhões de t.”

A Datagro acredita que na safra mundial 2017/18 (outubro/setembro) o superávit passe de 2,02 para 3,70 milhões de t aumentando a relação estoque consumo no final da safra para 42,4%. Segundo Fava Neves, a União Europeia também deve inundar o mundo de açúcar, produzindo 20,5 milhões de t na safra 2017/18, contra 16,8 milhões na anterior, reduzindo suas importações em 1,8 milhões de t e exportando 2,8 milhões de t. Outra inundação no mercado vem da Tailândia, que deve produzir recordes de cana (107 milhões a 110 milhões de t) e de açúcar na safra 2017/18, algo entre 11 a 12 milhões de t, com clima muito bom.

“A Índia deve também inundar o mercado com uma produção em 2017/18 quase 23% acima da produção anterior, pulando de 20 para quase 25 milhões de t. Foi anunciado também um investimento entre a Olam e a MitrPhol para produção de açúcar na Indonésia, sempre com aquela ideia antiga de se buscar a autossuficiência. Incrível a paixão mundial por produzir açúcar. Fora isto, visando impulsionar os preços internos, o governo da Índia pensa em retirar o imposto de exportação de 20% sobre o açúcar, após já ter dobrado os impostos de importação visando estancar a queda de preços de mais de 16% na atual safra, frente à uma cana 11% mais cara”, comenta Fava Neves.

Pelos cálculos da Archer, o açúcar precisaria ir a 15,50 cents para que o mix esperado para a safra 2018/19 (58,6% para etanol) comece a mudar. O custo médio sem depreciação e custo financeiro das usinas do Centro-Sul estaria em 13 cents/libra peso. “A grande expectativa em relação aos preços é o mix da safra no Brasil. Neste momento, nossa torcida é para o clima continuar contribuindo e começar o processamento com tudo no etanol, aproveitando os preços da gasolina, sem destruir os preços do etanol e retirando açúcar do mercado mundial”, acrescenta Fava Neves.

ANO AINDA SERÁ DIFÍCIL PARA USINAS E PRODUTORES

Ricardo crê que 2018 ainda será um ano difícil para as usinas e produtores de cana, mas tem expectativas muito positivas para a safra 2019/20 e as seguintes, quando, ao seu ver, se iniciará um novo ciclo de bons preçosNão há dúvidas entre os especialistas de que 2018 será mais um ano difícil para as usinas e produtores de cana. De acordo com Meneghin, tanto a receita quanto as margens tendem a ser menores nesta safra. “O açúcar em 2017/18 foi vendido a preços entre 17 a 20 cents/libra. Agora a venda segue lenta e com preços entre 13 a 15 cents/libra. A alta do etanol não compensa diretamente a perda de receita no açúcar.”

No entanto, ele destaca que as usinas com dificuldades já estão na mira dos grupos estruturados e com melhor saúde financeira e diz que, apesar do processo estar sendo lento, está acontecendo. “Nos últimos dois anos houve leilões e aquisições de grupos relevantes no setor. Isso continuará em 2018 e 2019. Um fato importante que deve ser levado em conta é que, com a nova política que deu mais transparência à formação de preços da gasolina, o setor passou a atrair a atenção de investidores internacionais. Ou seja, dinheiro de fora do setor poderá entrar após alguns anos sem nada.”

Pádua acredita que a questão da dificuldade financeira de um número significativo de empresas não deve se alterar no curto prazo e é um assunto que vai ser resolvido caso a caso, dependendo da gestão de cada unidade e sua performance.

“Infelizmente não vejo 2018 como um ano de recuperação para as usinas e grupos que já estão em dificuldades financeiras mais graves. Creio até que será um ano em que mais Recuperações Judiciais serão requeridas por grupos em pior situação, além de termos um volume maior de usinas sendo vendidas. Prova disso são os negócios realizados recentemente das duas usinas da massa falida do Grupo João Lyra”, comenta o sócio-diretor da RPA Consultoria.

Mas será que o pior já passou? Meneghin afirma que os balanços das empresas de capital aberto mostram que o perfil do endividamento vem melhorando a cada trimestre, com menor exposição à moeda estrangeira e maior alongamento dos compromissos. Ele acredita que, se 2018 não será um ano de receita recorde e margens elevadas, as usinas devem tomar conta dos seus custos e investir para produzirem um açúcar e um etanol mais competitivos.

“Muito se fala em retorno dos investimentos. Nós nunca mais vamos ver uma expansão como a observada nos anos 2000. O foco agora é outro, é um investimento em crescimento vertical, com maior sinergia entre o campo – indústria – cliente final, investimento em tecnologias de produção a fim de alcançar maior produtividade agrícola e industrial. O setor produz hoje 12 t/ha de cana a menos do que produzia há dez anos e, em várias usinas novas há sobra de capacidade. Há muita lição de casa pra ser feita antes de partir para novas usinas”, opina Meneghin.

Ricardo crê que 2018 ainda será um ano difícil para as usinas e produtores de cana, mas tem expectativas muito positivas para a safra 2019/20 e as seguintes, quando, ao seu ver, se iniciará um novo ciclo de bons preços. “Vale lembrar que o RenovaBio deverá estar em funcionamento a partir de 2020, sendo mais um importante incremento nas expectativas para o nosso setor sucroenergético. Com preços depreciados e um cenário global superavitário, as usinas terão dificuldades em gerar retorno/boas margens no açúcar.”

Para Fernando Soares, gerente Corporativo de Finanças da Czarnikow, uma das soluções que as usinas estão buscando é a geração de caixa através do hidratado, porém a grande dificuldade é a falta de instrumentos para hedge de preços. Algumas usinas estão fazendo através de papéis/derivativos de petróleo, porém não são todas que têm acesso a tais instrumentos. “Acreditamos que será mais um ano de dificuldades para as usinas, especialmente as pouco capitalizadas. Infelizmente não será um ano na qual as usinas poderão desalavancar ou realizar novos investimentos.”

“Não podemos esperar um ano bom para os produtores. Será um ano que precisamos trabalhar bem certinho e cuidar o máximo possível para ter uma boa lavoura. Se tiver que reformar o canavial que já está muito velho, tem que fazer a reforma e cuidar bem da soqueira em termos de tratos culturais. É difícil porque isso exige investimento, mas temos que fazer o melhor possível”, acrescenta Ortolan.

HORIZONTE POSITIVO

Para Rodrigues, uma questão importante e que precisa ser resolvida é a remuneração da cana, pilar da relação entre produtores e indústria, que num setor moderno e sustentável deve ser equilibrada e transparenteApesar de tudo, segundo o produtor de cana e sócio-diretor do Condomínio Agrícola Santa Izabel, 2017 teve alguns pontos positivos que deverão surtir algum efeito no setor. Como é o caso de alguns pontos da Reforma Trabalhista, que deverão melhorar as relações de trabalho e dar mais segurança jurídica à medida que o exercício trouxer pacificação para os pontos ainda polêmicos e possibilitar redução de custos para o setor sem redução de remuneração dos trabalhadores.

“Os indicadores econômicos também apontam para a retomada gradativa da atividade econômica, indicando aumento de consumo dos brasileiros com efeito positivo para o setor nas vendas de etanol e, já quase nos acréscimos, o RenovaBio, que nos próximos anos deverá incentivar os produtores a serem mais eficientes, dar maior previsibilidade e credibilidade para o setor, viabilizando a retomada de investimentos e a atração de novos capitais. Tudo isto, claro, se as regulamentações e normas forem devidamente discutidas, implantadas e o programa for traduzido em ganhos para todos na cadeia produtiva assim como para o Brasil”, afirma.

Estes pontos, segundo Rodrigues, podem ser o início da retomada do crescimento sustentado do setor sucroenergético, aumentando ainda mais o seu protagonismo na economia brasileira e mundial, consolidando a liderança na produção de energia renovável e alimentos, e contribuindo para o país não só com a geração de empregos, renda e saldo na balança comercial, como também para atingir as metas de redução de emissões previstas no acordo de Paris. “Mas, sem ilusões, muito ainda terá de ser feito”, completa.

Para que isto seja possível, ele destaca que “dentro da porteira” é preciso aumentar a produtividade dos canaviais em quilogramas de ATR pela área total de produção e não somente pela área colhida. Isto significa mais toneladas por hectare, mais ATR por tonelada e menor área de reforma para sair, em pouco tempo, das 9 a 10 t de ATR por hectare total para pelo menos as 15 t de ATR que já estão sendo produzidas com beterraba na Europa.

Para isto, o produtor aponta que o setor precisa consolidar os sistemas mecanizados de plantio e colheita, incorporar agricultura de precisão, piloto automático e sistemas inteligentes na gestão da atividade agrícola, intensificar os sistemas de rotação, sucessão e consórcio de culturas com a cana, rever os conceitos de nutrição e manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas, aplicar insumos modernos e controle biológico de forma integrada, melhorar a qualidade da muda com MPB, meiosi e cantosi, multiplicando novas variedades desenvolvidas pelos programas de melhoramento. Tudo isto, segundo ele, sem esquecer a renovação de frota motomecanizada envelhecida e principalmente de treinar e capacitar pessoas envolvidas em todos os processos. “Só assim conseguiremos reduzir custos unitários de produção e voltar para o jogo de forma competitiva.”

Para isto, Rodrigues destaca dois fatores fundamentais. O primeiro é o apoio e financiamento a pesquisa. Ele acredita que alguns segmentos, como o melhoramento varietal, podem ser resolvidos com adequadas políticas de cobrança de royalties, baseados nos incrementos de produtividade e renda. Já para outras áreas, seria preciso desenvolver um sistema integrado de pesquisa, liderado por um fórum composto por produtores de cana, indústrias, fornecedores de máquinas, insumos e pesquisadores, responsável pelo levantamento e gestão de fundos públicos e privados que seriam aplicados de forma coordenada, atacando os principais gargalos da atividade com foco em resultados. “Seria uma verdadeira rede compartilhada que poderia maximizar o uso dos sempre escassos recursos financeiros. A pesquisa é a única maneira de continuar aprendendo, melhorar os processos e buscar técnicas e insumos inovadores capazes de contribuir com o aumento da produtividade de maneira continuada.”

A outra questão, segundo Rodrigues, seria a remuneração da cana, pilar da relação entre produtores e indústria, que num setor moderno e sustentável deve ser equilibrada e transparente.

“Nosso modelo de valoração pode ser considerado um sucesso na sua implantação, mas passa da hora de modernizar e flexibilizar as regras para remuneração de cana do Consecana, respeitando características regionais e individuais, reconhecendo as qualidades e eficiência de cada produtor. Sem renda adequada toda esta discussão é inútil e não há futuro para o produtor de cana cada vez mais pressionado pelo aumento de custos e complexidade do sistema de produção”, conclui.

Apesar da expectativa de uma safra menor e com produtividades mais baixas, a previsão é de que 2018 seja o ano de despedida da crise de preços

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