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Etanol de milho cresce no Brasil e alivia escassez global de açúcar

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Com alta da produção de milho, país já ultrapassou Estados Unidos nas vendas globais; custo do etanol de milho é mais baixo que produção a partir da cana-de-açúcar

A escassez global de açúcar, que impulsionou os preços para uma máxima de 12 anos, está prestes a diminuir – e isso se deve a uma safra que à primeira vista pode parecer totalmente sem relação.

A produção de milho do Brasil está aumentando, tornando mais lucrativo usar o grão para produzir etanol – um combustível que alimenta os carros na maior economia da América Latina. Como resultado, usinas de cana-de-açúcar estão buscando produzir mais açúcar e menos biocombustível.

“Qualquer pessoa com dinheiro hoje está ou investindo em etanol de milho ou adicionando capacidade para produzir açúcar”, disse o analista sênior de commodities da Green Pool Commodity Specialists, Eder Vieito.

A queda nos preços do açúcar seria um alívio bem-vindo para os consumidores que enfrentam uma inflação alimentar desenfreada. Um indicador de preços de commodities agrícolas registrou seu maior aumento em 16 meses em julho, antes de recuar um pouco em agosto. Condições climáticas extremas prejudicaram a cana-de-açúcar na Índia, o segundo maior produtor mundial depois do Brasil.

Por sua vez, o milho está ganhando uma parcela maior do mercado de etanol no Brasil, que fica atrás apenas dos Estados Unidos entre os produtores globais de biocombustível. O etanol de milho representará quase um quinto de toda a produção de biocombustível nesta temporada, em comparação com quase zero há cinco anos. Até 2033, sua participação poderia chegar a um terço do suprimento total, prevê a consultoria Datagro.

“A expansão de biocombustíveis virá predominantemente do milho”, disse o diretor de planejamento estratégico da produtora de etanol Cerradinho Bioenergia, Renato Pretti. A empresa, que utiliza tanto milho quanto cana-de-açúcar como matéria-prima para o combustível, é uma das muitas usinas que estão desviando mais cana para produzir açúcar e até investindo em novas máquinas para a commodity.

O aumento na produção de milho no Brasil está permitindo maiores lucros com o etanol, já que as vendas de subprodutos como ração animal cobrem em grande parte o custo do grão. Por outro lado, as usinas de cana-de-açúcar viram margens encolherem recentemente na produção de etanol.

O custo de produção de etanol a partir de milho foi 16% mais baixo em comparação com a produção do biocombustível a partir da cana-de-açúcar nos últimos dois anos, afirmaram analistas do banco BTG Pactual em um relatório.

A demanda por etanol, no entanto, tem ficado para trás, à medida que os motoristas adotam a gasolina mais barata. Os preços do biocombustível poderiam cair para tão baixo quanto 65% a 68% do preço da gasolina a longo prazo, de acordo com o sócio da consultoria FG/A, Willian Hernandes. Uma queda abaixo de 70% convencerá mais motoristas a mudar para o etanol, mas também limitará os lucros das usinas na produção do biocombustível.

As usinas de cana-de-açúcar já fizeram planos para adicionar aproximadamente 2,5 milhões de toneladas de capacidade para produzir açúcar nas próximas safras, estimou a FG/A. As usinas provavelmente continuarão a maximizar a produção de açúcar por pelo menos mais duas safras, disse o chefe de açúcar para as Américas da Hedgepoint Global Markets, Murilo Mello.

ACESSE: Mapa de Usinas de Cana-de-açúcar e Destilarias de Milho

As conexões políticas da indústria do açúcar no Brasil podem, em última análise, ajudar a impulsionar suas margens de etanol. O governo do presidente Lula da Silva está apoiando um projeto de lei que aumentará a porcentagem de etanol misturado à gasolina.

No entanto, o etanol à base de milho também enfrenta alguns obstáculos. Usinas que utilizam o grão dependem principalmente de biomassa de retalhos de madeira como fonte de energia, e os suprimentos de madeira estão diminuindo no Brasil devido ao crescimento da produção de celulose e papel.

Isso pode significar menos incentivo para expandir o suprimento de etanol de milho além do que já está planejado, disse a analista Ana Zancaner, da Czapp, que pertence à trading de commodities Czarnikow.

Mas o consenso é que o etanol de milho terá mais alguns anos de expansão. O Brasil possui oito usinas de etanol de milho adicionando capacidade, enquanto outras sete novas usinas estão em construção, afirmaram analistas do Itaú BBA em um relatório de setembro.

O suprimento da matéria-prima também é abundante: os analistas estimam que o Brasil consumirá um recorde de 13 milhões de toneladas de milho para etanol nesta temporada, cerca de um décimo do suprimento total.

Isso é uma boa notícia para os produtores de milho no principal estado produtor de Mato Grosso. Há um potencial significativo para o grão conquistar uma parcela maior do mercado de etanol, segundo o agricultor Zilto Donadello. “O etanol de milho ainda tem muito terreno para percorrer”, disse Donadello.

Bloomberg/Dayanne Sousa
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