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Opinião

Etanol perde correlação com o complexo energético

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Cenário internacional altista para o petróleo não impactou o mercado brasileiro de combustíveis devido ao compromisso do governo em manter os preços nas bombas reduzidos e à maior disponibilidade de matéria-prima

om uma semana bastante monótona, os preços do açúcar conseguiram recuperar as perdas e ficar entre 27 e 27,6 centavos de dólar por libra-peso. As razões incluem tanto o tom altista dado no evento Sugar Week como as chuvas que atrapalharam o carregamento no porto de Santos (SP).

Além disso, alguns consensos parecem se consolidar no mercado. O primeiro é a noção de que o mundo é altamente dependente da produção do Centro-Sul, especialmente devido aos menores estoques nas origens e às adversidades climáticas, o que acrescenta ainda mais suporte ao adoçante. O segundo é que o Brasil realmente tem potencial para continuar fornecendo volumes recordes – se o clima cooperar, é claro.

Por fim, há a expectativa de que o Brasil continuará maximizando a produção de açúcar. Aliás, muitas usinas têm investido no processo de cristalização, permitindo previsões otimistas de oferta de açúcar para 2024/25. Em contrapartida, o etanol parece esquecido pelo mercado.

Os preços do biocombustível continuam pagando menos que os do adoçante e devem continuar assim. O conflito entre Israel e a Palestina contribuiu para o recente aumento de preços do complexo energético que, combinado com a estratégia da Opep+ de cortar a sua oferta durante 2023 e a uma diminuição nas reservas estratégicas dos Estados Unidos, determinou o cenário perfeito para a manutenção desta tendência.

Curiosamente, o aumento dos preços da energia no mercado internacional não impactou o mercado interno brasileiro de combustíveis. Isto pode ser atribuído ao compromisso do governo com a redução dos preços na bomba, o que evita que a volatilidade internacional atinja o país de forma abrupta.

Desde o anunciado “fim do PPI”, em maio de 2023, os preços do etanol sofreram uma dissociação dos preços internacionais do petróleo, com a paridade de importação fechada durante a maior parte do período. Nota-se, ainda, que a correlação entre o petróleo bruto e o etanol hidratado entre janeiro de 2020 e maio de 2023 foi de 80%, enquanto de maio de 2023 até esta data a relação não só diminuiu como se inverteu, atingindo -67%.

Portanto, mesmo que possa reagir à volatilidade acrescentada pelo conflito no Oriente-Médio, o biocombustível não deverá superar o adoçante. Outra razão para isso é o efeito spillover do petróleo, que desencadeia um suporte a todo o quadro das commodities ao afetar diretamente suas cadeias de produção. Com o açúcar não é diferente e, somado à escassez de disponibilidade que seu mercado tem enfrentado, o complexo energético oferece suporte adicional ao seu preço.

Cabe lembrar que os preços do etanol também não estão reagindo à maior procura por combustível: a disponibilidade não é um problema no mercado interno. Embora as usinas estejam maximizando o açúcar, a produção de etanol também está prosperando.

O aumento de volume de matéria-prima, cana e milho, permitiu um crescimento anual de 11,5% na produção de anidro até o momento, com o hidratado não muito atrás, adicionando 9% durante a safra. Esse maior volume é responsável por manter os estoques estáveis mesmo com a expectativa de alta de 5,6% no consumo do ciclo Otto do Centro Sul, não dando motivos para qualquer reação dos preços do biocombustível.

 

* Lívea Coda é coordenadora de inteligência de mercado na hEDGEpoint Global Markets

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