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Edição 182

Gestão – Lidar com pessoas ou conviver com a toxidade das empresas?

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Lidar com pessoas ou conviver com a toxidade das empresas?

Afinal, o que é mais difícil nos dias de hoje? O velho dilema, que é a complexidade de lidar com pessoas ou o atual, que entende que também não está nada fácil conviver com o mau humor e a toxidade das empresas?

*Beatriz Resende

Sim, eu digo quando chegam a mim com o mesmo discurso: lidar com pessoas está cada vez mais difícil e é por isso mesmo que os líderes e gestores precisam estar muito mais preparados do que antes. Isso não é novidade e não adianta passar a nossa existência profissional falando e reclamando disso. É aceitar, arregaçar as mangas, se aprimorar como pessoa e profissional e seguir adiante na sua missão. Contando com a ajuda, é claro, de parcerias, especialistas, habilidosos no trato interpessoal e colegas que, por alguma competência particular desenvolvida, têm conseguido bons resultados na prática, de forma simples, através de alguns passos essenciais e acessíveis a todos.

Mas a questão desse texto de hoje não é somente sobre liderança e a dificuldade em lidar com gente. O contexto aqui tratado é muito maior. Quero falar da dificuldade que hoje também sentem os profissionais que estão numa empresa, lutando pela sua sobrevivência, buscando seu sonho de carreira ou sua valorização e reconhecimentos como fonte de realização pessoal e profissional, ou simplesmente cumprindo suas obrigações como adultos. Fazer parte de uma empresa hoje está se tornando um atestado de resiliência diária.

Sobreviver no mundo organizacional é um ponto natural dentro da maturidade de carreira de cada profissional. Sabemos que é preciso estar preparados, atentos, comprometidos com nossas competências e conhecimentos atualizados, e com nossa empregabilidade evoluída diariamente para permanecer atrativos ao mercado e as organizações que nos contratam. O difícil é, além de tudo isso, pessoas e profissionais ainda terem que passar por situações que não cabem mais num cenário progressivo, onde os negócios trabalham para resultados de alto nível em alguns aspectos, mas que ainda transitam, quando não patrocinam, traços de permissividade, imaturidade, despreparo gerencial com cenas de egos exacerbados ou descontroles oriundos de incompetências camufladas em vestimentas de posições patrocinadas pelo poder, corporativismo e acomodação. Ou mesmo por desconhecimento do que acontece nos bastidores. Isso é o pior.

Empresas estão, nos últimos anos, mais sensíveis ao cenário quase que constante de incertezas, instabilidades, pressões, perdas, dificuldades e outros, e lutam para se manter de pé, de forma digna. Isto nós sabemos. Ao mesmo tempo isso não pode ser motivo para elas se descuidarem, da forma como está acontecendo, das conquistas já certificadas em vários âmbitos. Acho que essa chamada “neurose corporativa”, regada de toxidade, está causando um retrocesso na gestão, nas relações, nas parcerias, na comunicação, na maturidade das pessoas, nos ambientes e no mercado, que acaba sofrendo as consequências de forma direta ou indireta.

Empresas estão sensíveis e doentes por motivos que já sabemos, mas podem ser ajudadas pelo corpo que a constitui. Sim, ao invés de fazermos parte dela nos lamentando, que tal tentar contribuir e dar um tom construtivo à nossa participação? Lendo um artigo há pouco vi a seguinte colocação que cabe ao que estou querendo falar aqui: “como bons líderes, não podemos assistir à crise se apropriar da alma das nossas empresas. É preciso reagir e apoiar dirigentes e colaboradores a passar por esse momento, com positivismo e amadurecimento” (Edmundo Rosa – ABRH- Brasil). Tenho dito isso e repito, novamente nesse contexto: empresas não podem mais manter, sem cobrar ou estimular a mudança, pessoas em posições de liderança que têm atitudes abusivas em seus tronos. Se não abusivas, omissas, o que eu considero de mesma gravidade.

Então temos duas situações: não está fácil lidar e engajar pessoas como gostaríamos, e questiono aqui se estamos fazendo por onde para tê-las mais do nosso lado. Em contrapartida, as empresas também estão se perdendo em seus problemas temporais (difíceis sim!), e deixando que atos e ações sejam “destilados” sem controle, sem depuração, sem responsabilidade e avaliação de consequência. Isso é muito sério.

O que o mundo está chamando de “toxidade organizacional” e as consequências disto para pessoas e o negócio, precisa ser tratado com urgência, para que, além das perdas oriundas dessa famigerada crise, as empresas não percam também a sua principal base de sustento: a sua imagem, a sua credibilidade, a sua força motriz e o seu propósito.

A tolerância que todos estão tendo que aprender, sem exceção, para passar pelo momento atual, não nos dá, em todas as instâncias, a permissão para nos perder nessa ambiguidade. Esse é, a meu ver, o grande perigo, pois o retorno, o resgate, pode não estar à altura do que o mercado estabelecerá dentro da sua próxima exigência para com empresas, pessoas e posturas.

Portanto, empresas e RH´s, saiam da cadeira para enxergar mais além. Ficar sentados na nossa arrogância ou falso profissionalismo não contribuirá em nada para a evolução do que proponho aqui: o resgate, enquanto é tempo, da qualidade e o companheirismo da relação entre o negócio e as pessoas. Cito o companheirismo porque a palavra companheiro vem do latim “cum panis” que quer dizer “alguém com quem dividir o pão”. Se somos empresas e precisamos de pessoas com quem dividir o pão (desafios, resultados, produções e produtividade), devemos tratá-las com respeito, profissionalismo e atenção. Elas também se perderam nesse caos e ficaram sem referências e apoio. Como pessoas, buscamos lugares e espaços para dividir o nosso pão (competências, expectativas, boa vontade, propósito, sonhos etc), então tratemos com mais dignidade essa relação. A idade adulta nos impõe isso. Chega de ser adolescente em solo adulto. Estamos, em ambos os casos, dando muito pouco da nossa massa para que as coisas melhorem e os espaços, para ambos, aumentem.

Empresas e profissionais estão vivendo o presenteísmo nas suas atuações. Como diz o guru e consultor César Souza, conhecido pelas suas colocações acres e impactantes, está mais do que na hora de fazer um exorcismo corporativo.

Empresas e profissionais: nada passa despercebido por olhos exigentes e decisores. É a grande questão sobre imagem: não cuidamos dela, mas não imaginamos o quanto um ato torto ou displicente pode influenciar na nossa trajetória à frente. Será que as derrotas, insucessos, perdas de oportunidades que já vivenciamos ou vimos não nos basta para mudar?

Vamos buscar força para repensar o que e como estamos fazendo nossa parte na empresa e no mercado, no mundo. Isso é de fato demonstrar postura profissional, cidadã e humana. 126875.png

*Beatriz Resende é consultora, palestrante e conselheira de Carreiras da Coerhência-Integrando Negócios & Pessoas

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