Edição 207
Gestão – O futuro, já presente, das disrupturas de paradigmas, regras, práticas, modelos e olhares
O futuro, que já se faz presente, tem nos apresentado tendências muito claras sobre novos modelos de negócios; novas formas de trabalho e de relacionamento; ampliação da utilização da tecnologia a favor da agilidade, facilidade e eficiência; revisão das estratégias de competividade de mercado; qualificações dimensionadas para o futuro; perfis esperados dos profissionais; novos modelos de carreira e de prestação de serviço, entre muitas outras.
As mudanças não vêm de “ontem”, como costumo dizer. Elas estão em tudo que vemos e fazemos parte. Estão indicando caminhos e movimentando as nossas vidas, escolhas, oportunidades e sonhos. Têm impactado o nosso dia a dia de forma sutil ou explícita. Temos percebido isso?
Será que estamos preparados: empresas, pessoas, mercados, lideranças, educadores e formadores de profissões e pessoas? Ainda temos gasto tanta energia com aspectos do “passado”, se podemos assim dizer, quando comparamos o que temos e vemos com a realidade desse futuro que muitas vezes nos brilha os olhos. Estamos atrasados em relação ao resto do mundo ou estamos demorando, por vários motivos, a traçar estratégias e fazeres diferentes?
Palavras-chave dessa nova sociedade: Integração, Conectividade, Colaboração, Relacionamento, Disrupção, Transformação, Agilidade, Adaptabilidade e Criatividade. Muitas delas são nossas conhecidas há décadas. Poucas surpresas. Nada de que nunca tenhamos falado um dia.
Um dos assuntos atuais é o da Indústria 4.0, que puxou também os demais conceitos: Gestão 4.0; Business 4.0; Mercado 4.0; Marketing 4.0; a Liderança 4.0; o Profissional 4.0; o RH 4.0, entre outros.
Basicamente, a empresa 4.0 tem e terá que trabalhar voltada completamente às expectativas do cliente, na oferta de novos serviços de valor agregado como produto. Temos visto o uso do termo servitização: “venda de produtos e serviços integrados que entregam valor no uso.” Ou valor no “serviço” oferecido pelo e como produto (em atendimento a uma necessidade), e não o produto em si.
Podemos associar esse conceito para nossas entregas, que também são prestação de serviço, quando falamos de trabalho, por exemplo?
Para tal, teremos que reformular (e muito!) pensamentos, crenças, planos pessoais e profissionais, posturas e dimensões do que hoje entendemos como colaboração, entrega, doação, contribuição e conexão. Isto não só nas relações profissionais: precisaremos aprender ou reaprender a pensar mais coletivamente; dedicar-se a exercer melhor nossos papéis na vida; mudar radicalmente alguns aspectos que trazemos em nossos modelos mentais sobre direitos, deveres, necessidades e querências; trazer doses maiores de entusiasmo, otimismo, fé e paixão nas escolhas que fazemos; e tirar estigmas que carregamos e insistimos em repetir ao longo tempo, talvez por ser mais confortável, de sentimentos e imagens de menos valia diante de cenários que poderiam ser diferentes, inclusive se fizéssemos melhor a nossa parte.
Temos nos assustado e ficado muitas vezes resistentes com esse futuro que parece vir tirando ainda mais coisas de nós. Será que só conseguimos enxergar escassez na história das mudanças? Ou será porque estas nos “cutucam” a mais uma chance de olhar e fazer diferente?
“Tudo isso está muito distante de mim”, podem dizer alguns. “Até chegar aqui na minha cidade, não farei mais parte disso, dizem outros”. Precisamos colaborar para que pessoas, grupos, associações etc, pensem diferente da tradicional escassez. O tal do modelo mental do déficit. Um traço cultural do nosso país, do nosso povo, dos nossos trabalhadores ou simplesmente a essência do ser humano?
A gestão 4.0 veio propondo que as empresas redesenhassem seus modelos de negócio. Trazendo para nós, a “energia de mudança 4.0” deveria estar nos impregnando a também buscar rever e redesenhar nossos modelos de relacionamento, dedicação, comunicação, pertencimento a um todo e não a um foco somente, contribuição e doação.
O Japão já vem trazendo o conceito da Sociedade 5.0, que busca, se comparada à gestão 4.0, que colocou a máquina no centro de tudo, a recolocação do homem no centro dos processos, das escolhas, das decisões. É a chamada Sociedade Super Inteligente, que viria trazendo novos valores e soluções para melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Temos falado há algum tempo sobre empresas com alma: “aquelas que são feitas por pessoas que fazem as coisas com alma” (Charles Handy). A experiência de alcançar um nível mais profundo de vitalidade, inspiração, significado e criatividade.
Estamos precisando trazer mais esses níveis para a nossa existência. Falta uma sensibilidade sobre o ser e estar. Sobre o doar, o servir, o dedicar.
Precisamos trazer significados para o que escolhemos ser e fazer. Para que possamos ter “passagens” na vida que façam a diferença para nós, as pessoas, as empresas, as sociedades e as novas gerações.
* Beatriz Resende é consultora, palestrante e conselheira de Carreira da Dra.Empresa – Consultoria Empresarial