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Agrícola

Tecnologia Agrícola – Vinhaça bem localizada

Publicado

em

Alisson Henrique

Fazer a fertirrigação de vinhaça nos canaviais é algo já comum nas unidades sucroenergéticas que buscam aumento de produtividade. A aplicação deste resíduo, na maioria das vezes, ainda é feita por sistemas de aspersão. No entanto, algumas usinas vêm apostando no uso de carretas desenvolvidas especificamente para a aplicação localizada da vinhaça, e têm obtido ótimos resultados não só econômicos como também agronômicos.

Considerado o principal resíduo orgânico da produção de etanol, a vinhaça possui altos teores de potássio, além de outros minerais e componentes orgânicos que auxiliam no desenvolvimento do canavial e fazem desse subproduto um fertilizante diferenciado.

O uso controlado da vinhaça é uma boa prática na cultura da cana do ponto de vista ambiental e produtivo, já que a utilização adequada deste efluente tende a aumentar a produtividade agrícola, podendo render até um corte a mais no ciclo do canavial, segundo alguns especialistas.

As carretas de vinhaça permitem a operação de fertirrigação em áreas mais distantes e tratamento de uma área maior.

Osvaldo Arce, engenheiro agrícola, consultor técnico e gerente de Projetos da HidroEng, explica que a vinhaça em função da sua composição (matéria orgânica, K2O, N e outros micronutrientes necessários à cana), proporciona uma melhoria contínua no condicionamento do solo, resultando em uma melhora no ambiente de produção, que combinado à quantidade de água presente na mesma, contribui para minimizar o déficit hídrico. Esses dois efeitos proporcionam ganhos de produtividade e longevidade ao canavial.

De acordo com Carlos Daniel Berro Filho, na Biosev os resultados agronômicos mais observados são maior velocidade de brotação da soqueira, maior uniformidade de desenvolvimento e maior vigor do canavial

Em grande parte das unidades sucroenergéticas, a vinhaça sai da indústria via adutoras, que são canais que levam o produto “in natura” para as áreas mais próximas da usina onde serão bombeadas e aplicadas por aspersão. Em fazendas mais distantes, a vinhaça é levada por caminhão e depois é bombeada da mesma forma.

Produtores de cana e usinas têm apostado em carretas, puxadas por tratores, que fazem a aplicação da vinhaça de forma localizada e na quantidade certa. Como é o caso da São Martinho, que adotou recentemente a tecnologia e está conseguindo ampliar o raio de aplicação do resíduo com maior economia. Luiz Gustavo Teixeira, gerente Agrícola da São Martinho revela com o uso de carretas aplicadoras de vinhaça localizada conseguiu dar maior precisão as aplicações na linha da cana, o que rende muito mais para a planta.

“Antes, os caminhões carregavam a vinhaça e se fazia a aplicação por aspersão ou então por canais, que levavam este resíduo até os locais de aplicação. Com essa ferramenta conseguimos levar até mais longe e fertilizar uma área maior e de forma melhor. Antes fazíamos em torno de 40% da nossa área fertirrigada, agora, com essa ferramenta, conseguimos fazer fertirrigação em 90% da nossa área”, afirma.

APLICAÇÃO MAIS PRECISA

A vantagem da tecnologia de aplicação direto na linha, segundo o gerente Agrícola da São Martinho, é o controle de dose. Além disso, é possível adicionar a essa vinhaça outros nutrientes, fazendo uma adubação mais completa e de maior aproveitamento.

Para o diretor Executivo da Piracicaba Engenharia, Manoel de Almeida, com a aplicação localizada pode-se alcançar áreas isoladas e distantes que de outro modo seriam inviáveis. Outro benefício é quanto a aplicação precisa em toda a área pré-determinada na quantidade exata necessária.

“Em outras palavras: não há excessos, desperdícios e possível sobressaturação do solo. Também podemos citar o fato de a aplicação localizada dispensar a utilização de lagoas impermeabilizadas, canhões de aspersão, canais, tubulações, bombas e outros. O risco de erosão é zero, assim como perdas de minerais por lixiviação ou percolação”, conta.

Carlos Daniel Berro Filho, diretor Agrícola da Biosev, lista os três principais benefícios da aplicação de vinhaça localizada. O primeiro é agronômico, pois o uso da vinhaça ocasiona um melhor aproveitamento do líquido como uma fonte orgânica de nutrientes. “Além disso, pode-se usar o veículo para as complementações de adubação, principalmente da nitrogenada, reduzindo a necessidade de operações adicionais.”

O segundo fator é ambiental. “A expansão da área de aplicação de vinhaça, melhorando seu aproveitamento em áreas fora das bacias onde é realizada sua aplicação por aspersão, consequentemente reduz a saturação de K (Potássio) dessas áreas tradicionais de aplicação promovendo maior ciclagem de nutrientes em toda área da usina”, relata.

Por fim, segundo ele, o maior e melhor aproveitamento do K da vinhaça faz com que a aquisição de fertilizante potássico de origem mineral (alto custo) seja drasticamente diminuída.

Especialistas ainda relatam que existem outros benefícios relevantes como o fato de a vinhaça poder ser aplicada pós-crescimento da planta com o conjunto caminhando nas entrelinhas com risco mínimo de danos às touceiras. A distribuição, relativamente simples e sem a necessidade de mão de obra especializada também é um fator positivo.

Além disso, eles destacam o baixo custo de aplicação e manutenção, pois os investimentos iniciais não são tão altos porque somente um conjunto de um trator e duas carretas já consegue distribuir de 500 a 800 m³/dia de vinhaça.

Márcio Leão, gerente Comercial da TMA, revela que o equipamento foi otimizado para ser usado o ano inteiro e não apenas na safra que é quando existe a vinhaça. “Acabou a safra ele pode ser usado na distribuição de adubo líquido concentrado e até na irrigação de salvamento com água. Se depois de feito o plantio de MPB ou meiosi vem um seca, e não existe um sistema de irrigação, pode-se utilizar a carreta distribuidora para irrigar.”

Ganhos da aplicação da vinhaça localizada

Agronômico

O uso da vinhaça localizada traz um melhor aproveitamento do líquido como uma fonte orgânica de nutrientes. Além disso, pode-se usar o veículo para as complementações de adubação, principalmente da nitrogenada, reduzindo a necessidade de operações adicionais

Ambiental

A expansão da área de aplicação de vinhaça causa a melhora de seu aproveitamento em áreas fora das bacias onde é realizada sua aplicação por aspersão e, consequentemente, reduz a saturação de K (Potássio) dessas áreas tradicionais de aplicação, promovendo maior ciclagem de nutrientes em toda área da usina

Financeiro

Maior e melhor aproveitamento do K da vinhaça, reduzindo a aquisição de fertilizante potássico de origem mineral (alto custo)

Com a necessidade de fazer uma aplicação mais eficiente da vinhaça e com o aumento do preço dos fertilizantes nas últimas safras, o diretor Agrícola da Biosev, explica que foi realizado um estudo das opções possíveis para a expansão da área fertirrigada no qual o uso da vinhaça de forma localizada tinha viabilidade técnica e econômica.

“Em 2017 foi realizado um projeto piloto nas unidades Vale do Rosário e Santa Elisa para validar os parâmetros operacionais e os benefícios e, em 2018, a companhia adotou a tecnologia de aplicação em todas as unidades do Centro-Sul. Houve uma expansão ao redor de 120 mil ha com vinhaça localizada enriquecida com nitrogênio, o que representou na safra aproximadamente 70% da área de tratos de cana soca”, relata.

Hoje, segundo ele, a Biosev produz cerca de 15 milhões de m³ de vinhaça por safra. Desse volume produzido, aproximadamente 25% é destinado pra operação de vinhaça localizada. O restante continua sendo aplicado por aspersão em áreas próprias e de fornecedores.

“A operação é realizada com um tanque aplicador acoplado a um trator. O conjunto de aplicação faz de forma automática o controle de vazão e aplica a dose recomendada para cada área. A aplicação é realizada em oito linhas, com a vinhaça já enriquecida com nitrogênio e outros nutrientes. A dose gira em torno de 30 m3/ha.”

VINHAÇA CONCENTRADA

Na maior parte das usinas, segundo Arce, as águas residuárias são incorporadas ao volume de vinhaça, resultando na mistura Vinhaça Diluída. São poucas unidades que concentram vinhaça, tecnologia que aumenta o teor de K2O possibilitando aplicação de doses mais baixas (1,0 a 1,5 m3/ha).

A São Martinho ainda não faz a concentração de vinhaça na sua unidade localizada em Pradópolis, SP, mas, segundo o gerente Agrícola da usina, o resíduo concentrado poderia tornar a aplicação ainda mais eficiente.

De acordo com Manuel Moreno, mestre em Energia pela USP, a possibilidade de aplicação localizada de vinhaça concentrada implica em uma redução no consumo de diesel com relação ao cenário atual de fertirrigação de vinhaça in natura, sendo importante para o balanço energético e econômico do etanol. “Devido à economia produzida na logística da fertirrigação, a implantação de concentradores na indústria acaba tendo um retorno financeiro interessante”, afirma.

A facilidade na dispersão do potássio e, portanto, o cumprimento da Norma P4.231 sem elevar as despesas em fertirrigação, são benefícios da instalação desta tecnologia. “Este tipo de aplicação é muito mais eficiente no uso da vinhaça que os sistemas de aspersão, pois não existem perdas de nutrientes nos canais, nos dutos e nem nas entrelinhas. A evaporação permite concentrar os sólidos presentes na vinhaça em uma parte do líquido e o vapor resultante pode ser condensado para fornecer água de reuso ao processo da usina”, acrescenta Moreno.

Além disso, traz redução significativa das emissões de GEEs (Gases de Efeito Estufa), considerando que a vinhaça concentrada e transportada em caminhão não tem emissão de CH4.

“Desta forma, a mitigação é praticamente equivalente à porcentagem de volume destinada à concentração. Com a redução do consumo de diesel também são mitigadas emissões de GEEs, mas esta diminuição não é relevante quando comparada com a estimada nas lagoas. A facilidade e eficiência na dispersão do potássio e nitratos evita danos potenciais ao solo e lençol freático”, acrescenta Moreno.

DOSAGEM

A carreta é composta por um tanque de fibra de 15 a 30 m³, tendo a cada lado um braço distribuidor com 2 a 4 bicos de aplicação por braço. “Após ser enchida com o produto, a carreta é puxada por um trator 4×2, e direcionada na área de aplicação, despejando a vinhaça diretamente no solo. A dosagem pode ser controlada pela válvula de descarga do braço distribuidor e pela velocidade do trator”, adiciona o diretor Executivo da Piracicaba Engenharia.

Arce relata que a dosagem máxima a ser aplicada em uma mesma safra é definida pelo órgão ambiental. Alguns estados exigem a elaboração do PAV (Plano de Aplicação de Vinhaça) o qual é protocolado junto ao órgão ambiental no início de cada safra, informando as áreas que serão atendidas, bem como a dosagem de cada uma, definida em função de análise de solo e teor de K2O na vinhaça, cujas informações são inseridas em uma equação definida pelo órgão ambiental e o resultado é a dosagem para cada área.

“Com a expansão de projetos para atender a aplicação via aspersão e expansão via aplicação localizada, tem-se verificado que as dosagens estão sempre abaixo do limite superior imposto pelo PAV, pois os ganhos agronômicos com a fertirrigação atualmente justificam essa expansão, ou seja, o atendimento ao PAV não tem sido o limitante para essas expansões”, adiciona.

BONS RESULTADOS

A aplicação de vinhaça localizada vem apresentando resultados constantes em ganhos de produtividade. “Ela começou a ser utilizada com mais frequência a partir de 2012, com os institutos de pesquisa se interessando pelo assunto. Os Grupo Tereos, Biosev, Raízen e outros vêm aplicando a técnica e aumentando gradualmente este tipo de aplicação, principalmente pelos ganhos de produtividade que vêm obtendo”, explica o diretor executivo da Piracicaba Engenharia

Na Biosev, os resultados agronômicos mais observados são maior velocidade de brotação da soqueira, maior uniformidade de desenvolvimento e maior vigor do canavial.

“Além disso, há resultados ambientais que o uso localizado da vinhaça traz ao meio ambiente. Com a expansão de área de aplicação de vinhaça, mesmo em menor volume de aplicação comparado com a aspersão, foi possível reduzir o volume de vinhaça aplicado nas áreas de aspersão, fazendo uso mais racional do produto e reduzindo a saturação de K nas bacias de vinhaça”, finaliza Berro Filho.

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