Mais de 100 produtores, que somam aproximadamente 45 mil hectares de áreas contratadas pela usina do Grupo São Martinho, protocolaram uma carta para alertar a situação. Empresa respondeu que paga pelo sistema Consecana
Produtores de cana-de-açúcar da região de Quirinópolis, GO, estão preocupados com a forma de pagamento realizado pela Usina Boa Vista, do grupo São Martinho, do qual são fornecedores. Hoje, a dinâmica de pagamentos da cana-de-açúcar na região segue o que determina o Consecana de São Paulo, que considera o histórico de comercialização de produtos originados da cana-de-açúcar durante a safra canavieira.
A unidade Boa Vista, segundo o Movimento independente dos Produtores de Cana de Quirinópolis e a região, remunera os produtores de acordo a produção da unidade industrial, instalada no município, que hoje realiza apenas a produção de etanol, produto que, segundo os produtores, vem apresentando queda significativa de preço nos últimos meses.
Segundo o grupo de produtores em nota divulgada à imprensa, este cenário de preços não deve ser revertido, considerando a nova dinâmica do mercado e os investimentos em novos projetos para a produção de etanol de milho.
“Considerando a opção estratégica do Grupo São Martinho para a safra 23/24 (01/04/2023 a 31/03/2024), o fechamento do preço ficou com uma defasagem de mais de 30% em relação ao preço final da safra do Consecana/SP , que considera todos os produtos extraídos da cana-de-açúcar. Essa defasagem se deve ao histórico de preço e volume de comercialização do etanol na safra 23/24, causando um desequilíbrio na relação contratual entre os produtores da região e a unidade industrial”, afirmaram os produtores em nota.
A atual condição de pagamento, segundo eles, inviabiliza a produção de cana-de-açúcar na região, tendo em vista a oportunidade que os produtores têm em optar por outras formas de uso da terra, mais rentáveis no momento. Diante desse cenário, hoje, 15, os produtores protocolaram, junto a Usina Boa Vista, uma carta de alerta para situação, assinada por 106 produtores, somando aproximadamente 45 mil hectares de áreas contratadas pela usina, sendo esses contratos de fornecedores de matéria-prima e parceiros agrícolas.
Elizabeth Alves, é uma pequena produtora de cana e fornecedora da usina, disse que existem casos de outras unidades industriais que produzem somente etanol, mas que pagam os parceiros agrícolas de acordo com o Consecana-SP, considerando os preços do açúcar também. A questão é a sustentabilidade do negócio. O fator econômico já está comprometido. O que queremos é sensibilizar a companhia e encontrar uma saída em conjunto”, disse Elizabeth.
Procurada, a São Martinho informou por meio de nota, que seus contratos e pagamentos a parceiros e fornecedores de cana seguem o Sistema Consecana (Conselho dos Produtores de Cana de Açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo), atualmente em processo de revisão, e destaca que qualquer alteração no Sistema/Manual do Consecana será automaticamente acatada pela Companhia.
“A São Martinho ainda ressalta que seus resultados também são afetados pelo atual preço do etanol e informa que está avaliando alternativas para minimizar esses impactos em suas operações, incluindo a situação dos produtores rurais”, disse em nota.
Confira a íntegra do documento assinado por 106 produtores:
“Quirinópolis, 11 de março de 2024
À Diretoria de
Operações da Usina Boa Vista,
Venho por meio desta carta requerer que seja reestruturada a forma de remuneração entre a Usina Boa Vista e os seus parceiros fornecedores de cana e demais parceiros. O objetivo é que os pagamentos sejam estabelecidos pelo preço a ser fixado do ATR (açúcar es totais recebíveis) calculado com base no Mix do Grupo São Martinho, incluindo suas demais usinas, ou vinculando o ao Consecana SP, sem qualquer desconto.
As justificativas para esse pedido são as seguintes:
• Impacto da Demanda por Etanol de Milho: A crescente demanda por etanol de milho afetou e continuará afetando a sazonalidade dos preços do etanol proveniente da cana-de-açúcar. Para mitigar esse impacto, é necessário um
novo mecanismo de proteção (hedge) que se neste momento se dá por meio do açúcar, commodity essa que tem alcançado preços históricos nos últimos anos devido à queda de produtividade em países como Índia e últimos anos devido à queda de produtividade em países como Índia e Tailândia;
• Custo de produção aos Produtores de Cana: Custo de produção aos Produtores de Cana: Atualmente, os Produtores
enfrentam um custo médio de R$ 106,79 (cento e seis reais e setenta e nove centavos) para produzir uma tonelada de cana. Considerando o preço atual do ATR a R$ 0,85 (oitenta e cinco centav os de real) por quilo de ATR, uma tonelada de cana com 135 quilos de ATR vale apenas R$ 114,75 (cento e quatorze reais e setenta e cinco centavos). Essa margem de lucro de apenas R$ 7,96 (sete reais e noventa e seis centavos) não leva em conta os custos tributários e nem de serviços que não estão diretamente relacionados à operação agrícola;
• Desafios para os Demais Parceiros: Os demais Parceiros de terras para a Usina também enfrentam dificuldades. Nos últimos 4 anos, os valores pagos pelo uso das áreas não conseguem mais acompanhar os índices inflacionários (INPC). Assim, entregar o uso das t erras para a Usina São Francisco, na mesma região de Quirinópolis Goiás, representa um
acréscimo de pelo menos 30% (trinta por cento) sobre o rendimento pelo financeiro do imóvel. Esses valores já não cobrem sequer a paridade de arrendamento para produtores de soja na mesma área.
Deste modo, solicito que essa negociação seja realizada com urgência, considerando os impactos econômicos e a necessidade de garantir a sustentabilidade dos produtores e demais parceiros.
As lideranças dos produtores aguardam posicionamento do Grupo São Martinho, por entender que essa demanda exige posicionamento corporativo do grupo, extrapolando a autonomia da Usina Boa Vista.
Como forma de alertar a comunidade sobre o impacto que tal política de preços adotada pela Usina Boa Vista causará na região, haverá uma manifestação no próximo dia no próximo dia 18 de abril, a partir das 14h, na cidade de Quirinópolis, de onde o grupo sairá em carreata, composta por produtores, funcionários das propriedades e demais pessoas envolvidas com a cadeia produtiva na região.
A atual situação dos produtores vinculados, contratualmente afeta diretamente a sustentabilidade do negócio para o produtor, que é sustentada pelo tripé Social – Ambiental – Econômico, sendo que o último não está sendo contemplado no atual cenário de preços praticados.
Estamos falando em impactos econômicos diretos e indiretos que, consequentemente, afetarão a economia local e o fator social da sustentabilidade, tanto para o produtor, quanto para a unidade. Entendemos a importância da produção de cana-de-açúcar na região e esperamos por uma solução justa, que reestabeleça a viabilidade da parceria entre produtores e unidade industrial.
Movimento independente dos Produtores de Cana de Quirinópolis e a região