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Edição 185

Irrigação: o seguro da lavoura

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Considerando o clima como um dos fatores que mais impactaram a produtividade dos canaviais do Centro-Sul nas últimas safras, a irrigação pode ser uma importante ferramenta para dar maior estabilidade à produção

Natália Cherubin

Ao longo dos últimos dez anos, a maior região produtora de cana do Brasil, o Centro-Sul, tem registrado grandes variações na produtividade dos seus canaviais. Para se ter uma ideia, enquanto na safra 2009/10 a região atingia uma média de produtividade de 89 t/ha, tendo batido 93 t/ha no Estado de SP, dois anos depois, no ciclo 2011/12, os canaviais do Centro-Sul registravam uma queda de TCH de 23,6%, para 68 t/ha, número que nesta safra (2016/17) deverá fechar em 75 t/ha. Se a comparação for feita entre as safras 2009/10 e 2016/17, a queda de TCH chega a 15,7%.

Fatores edafoclimáticos, estresse hídrico, capacidade do solo em armazenar e disponibilizar água à cultura, ambientes de produção, tratos culturais, variedades cultivadas, época de colheita e idade dos canaviais, são alguns dos itens que podem impactar diretamente o TCH. No entanto, a redução da produtividade média dos canaviais da região Centro-Sul também é decorrente das modificações que o sistema de produção vem sofrendo nos últimos anos, como a rápida adoção da colheita e plantio mecanizados; a expansão da cultura para novas regiões cujo regime de precipitações submete a cultura de ciclo semi-perene a um estresse hídrico mais acentuadado e a solos com menor capacidade de armazenamento de água; e o uso de variedades de cana não adaptadas a essas novas regiões.

No entanto, parece que o grande vilão das últimas safras foi mesmo o clima. E isso é quase um consenso entre os especialistas consultados pela RPAnews para esta reportagem. O setor tem enfrentado anos de regimes com precipitações variáveis e com menores volumes de chuva, o que no caso da cana comprometeu as últimas as safras. Até mesmo as geadas, que ocorreram em algumas regiões produtoras, também foram determinantes para a queda do TCH.

Apegando-se ao fator clima e considerando a irregularidade das chuvas e as estiagens como importantes causas para a queda da produtividade de algumas regiões produtoras nos últimos ciclos, principalmente no Oeste e Noroeste Paulista, Goiás, Mato Grosso, Triângulo Mineiro e Norte e Leste do Mato Grosso do Sul, uma das ferramentas disponíveis e que já tem sido utilizada por algumas unidades como instrumento fundamental para manter a estabilidade da produção é a irrigação, seja ela plena, complementar ou de salvamento.

De acordo com o engenheiro Agrícola, consultor técnico e gerente de Projetos em Fertirrigação e Irrigação da HidroEng Consultoria, Osvaldo Arce de Brito, as unidades localizadas nestas regiões sofrem com um clima predominantemente mais seco durante quase toda safra, o que apesar de colaborar com a colheita, faz com que seja necessário pensar na verticalização da produção ou no aumento de área cultivada, já que a partir do mês de maio as produtividades destes canaviais tendem a cair por conta da estiagem.

Veronez: “Devemos olhar a irrigação não só como um seguro, mas também como uma técnica que aliada a outras práticas culturais consegue garantir e aumentar a produção sem o aumento de novas áreas, ou seja, conseguimos a tão desejada verticalização da produção”

“Nestes casos, a irrigação se torna uma ferramenta importante para melhorar os resultados de produtividade nesse período. Lembramos que a cana colhida no início de safra, quando irrigada, também apresenta um ótimo custo-benefício. Além disso, temos que lembrar que a técnica garante níveis de produtividades acima da média, com a garantia de se ter uma produção anual e um canavial com maior longevidade, pois reduz o estresse hídrico da cultura nos meses mais secos e potencializa os ganhos relativos aos tratos culturais disponibilizados à cultura”, afirma Brito.

Para muitas unidades, a irrigação tem funcionado como um seguro para a lavoura, pois se bem planejada e projetada, segundo Sérgio Antônio Veronez de Sousa, engenheiro agrônomo e diretor da Veronez Projetos e Consultoria, pode garantir maior equilíbrio na produção, evitando quebras que sempre ocorrem quando se confia apenas nas chuvas. “Devemos olhar a irrigação não só como um seguro, mas também como uma técnica que, aliada a outras práticas culturais, consegue garantir e aumentar a produção sem o aumento de novas áreas, ou seja, conseguimos a tão desejada verticalização da produção reduzindo, de forma muito significativa, não só a incorporação de novas áreas como também todos os custos de produção da usina.”

O GIFC (Grupo de Irrigação e Fertirrigação de Cana-de-açúcar) fez um estudo para analisar quais foram os motivos que levaram seis usinas a chegarem a produtividades de 100 t/ha na safra 2014/15, enquanto o restante das unidades ficou na média de 70,5 t/ha. São elas as unidades Agrovale, localizada em Juazeiro, BA, Cerradinho Bioenergia, de Chapadão do Céu, GO, Aroeira, que fica em Tupaciguara, MG, Buriti, de Buritizal, SP, Jalles Machado/Unidade Otávio Lage, de Goianésia, GO, e Santo Ângelo, de Pirajuba, MG.

Segundo Marco Viana, superintendente do GIFC, com exceção da Agrovale, que possui toda sua área irrigada de forma plena, foi possível identificar que as boas produtividades agrícolas das outras cinco usinas pouco têm a ver com mudanças radicais no sistema de produção da cana, como novas variedades, novos espaçamentos, novos softwares de controle planejamento, novos preparos de solo etc. O que se identificou em comum nestas usinas é que elas trabalham bem os oito pilares da alta produtividade agrícola:

1) Estande sem falhas;

2) Redução de perdas na colheita;

3) Estratégias adequadas de plantio;

4) Caminhamento coerente de safra;

5) Nutrição arrojada da cana;

6) Fatores redutores de produtividade agrícola sob controle (pragas, mato e doenças);

7) Ciclo produtivo ótimo;

8) Irrigação econômica.

“Usinas como a Jalles Machado e a Bevap utilizam irrigação de salvamento e apresentam bons resultados. No entanto, não foi a irrigação de salvamento que resolveu o problema da produtividade. Em 2016, algumas destas usinas já vêm mostrando queda na produtividade dos canaviais irrigados com salvamento. Então, reforço mais uma vez que esses resultados dependem também das condições edafoclimáticas e das boas práticas agrícolas que devem ser associadas à irrigação. As usinas até o ano passado estavam com bons resultados, mas agora já indicam queda de produtividade entre 15% e 20%. Isso indica que só a irrigação por salvamento não é a solução e sim uma ferramenta a mais”, destaca Viana.

A FAVOR DA ESTABILIDADE
De acordo com Lance, enquanto algumas tecnologias altamente difundidas no setor buscam incrementar de 3% a 4% em produtividade, a irrigação apresenta, constantemente, ganhos acima de 70% a 90%

Melhor planejamento no uso das áreas plantadas, ao permitir menor dependência das chuvas; estabilidade de produção; segurança do capital investido na produção, minimizando o risco de veranico em períodos sensíveis; maior qualidade da produção, proporcionada pelo ciclo mais homogêneo; exploração de uma maior gama de janela produtiva, permitindo a introdução de outras culturas com foco em rentabilidade ou rotação de cultura; e ainda aumento na produtividade, diante da possibilidade de adotar melhores índices de tecnologia na produção sem a limitação do insumo água, são alguns dos benefícios que a irrigação pode proporcionar a culturas como a cana-de-açúcar.

A Usina Santa Vitória Açúcar e Álcool, localizada no Triângulo Mineiro, é uma das unidades que apostaram na irrigação como ferramenta para a estabilidade da sua produção. Mesmo que ainda em processo de implementação de um projeto que inclui três modalidades: fertirrigação, irrigação complementar e de salvamento, a usina já registrou ganhos de até 30 t/ha.

Alexandre Nicodemo, gerente geral da Santa Vitória Açúcar e Álcool (SVAA), explica que para cada modalidade existe um potencial de ganho de produtividade. “Nas áreas onde irrigamos com pivô (irrigação complementar), tivemos um ganho de aproximadamente 30 t/ha, um resultado que confere com a literatura, que garante um ganho de 10 t/ha a cada 100 mm de água reposta do déficit hídrico. Sobre a irrigação de salvamento, ainda não temos dados estatísticos, mas já verificamos em campo melhor brotação, perfilhamento e vigor nas áreas irrigadas contra as áreas não irrigadas. Já nas áreas fertirrigadas, apesar de não termos um histórico longo, se compararmos as áreas beneficiadas com vinhaça com áreas não beneficiadas, verificamos um ganho variando entre 5 e 10 t/ha”, revela.

A SVAA está localizada em uma região onde o déficit hídrico chega a 600 mm por ano. Além disso, cerca de 70% da área está localizada em ambiente de produção D e E, com baixa capacidade de retenção de água e fertilidade natural. A unidade trabalha com sistemas de pivô central rebocável, alas móveis ehidro roll. “A irrigação é uma ferramenta imprescindível para o aumento de produtividade e principalmente para a estabilidade da produção de nossos canaviais. Há cinco anos, a produtividade era de 53 t/ha e em 2015, o TCH médio subiu para 79,5. Isso é resultado da interação de diversos fatores como nutrição, manejo de variedades, qualidade de plantio, bem como irrigação e fertirrigação”, destaca o gerente geral da SVAA.

Com plantio e colheita 100% mecanizados e uma lavoura própria de 11,5 mil ha, dos quais em 53% se faz a irrigação plena, nos outros 20% se faz irrigação por salvamento, deixando 27% em sequeiro, a Vale do Paracatu Agroenergia, localizada no Noroeste de Minas Gerais, na cidade de Paracatu, deve fechar a safra 2016/17 com uma produtividade média de 93 t/ha.

Segundo Bruno Teixeira, gerente Agrícola da Destilaria Vale do Paracatu, a estrutura utilizada hoje para sua irrigação conta com 40 pivôs centrais, dois rebocáveis e 32 carretéis. “O manejo de irrigação em cana planta via pivô é realizado conforme a necessidade. Mas, geralmente, a lâmina de água é de 60 mm por pivô/mês. Em cana soca, a irrigação é realizada durante sete meses, com 60 mm/pivô/mês, o que dá uma média de 200 mm por ciclo.”

Segundo Figueiredo, a expansão do plantio de cana na região Centro-Sul tem levado à exploração de regiões com déficits hídricos mais acentuados, ampliando a necessidade de irrigação com a finalidade de equilibrar a distribuição pluviométrica e garantir a umidade adequada durante todo o desenvolvimento do canavial

Já os carreteis em cana planta são utilizados para a fertirrigação. São 60 mm/ha, sendo duas lâminas de 30 mm, e em cana soca a aplicação de vinhaça diluída é de 30 mm/ha/ano. “Ainda utilizamos os carreteis para irrigação de salvamento com de 40 mm/ha/ano de água limpa”, detalha Teixeira.

Na safra 2015/16, a usina produziu 1,06 milhões de t de cana com uma produtividade média de 92 t/ha. Este ano, a expectativa é fechar a produção 1,25 milhões de t, com uma produtividade média de 93 t/ha. O gerente Agrícola da Vale do Paracatu, revelou que é possível notar uma grande diferença entre as produtividades médias de acordo o tipo de manejo da irrigação que é realizado. “Nos 53% das áreas onde fizemos a irrigação plena, o TCH da cana bateu 101. Nas áreas onde fizemos a irrigação por salvamento ou fertirrigação, ou seja, 20%, a produtividade chegou a 89 t/ha e a cana de sequeiro, 27% da área, atingiu 77 t/ha.”

Para Leandro Lance, gerente de Desenvolvimento de Mercado e Inovação da Naandanjain, apesar da queda da produtividade ser fruto de vários fatores, a possibilidade de elevar rapidamente a produtividade sem nenhuma dúvida passa pela irrigação.

“Nenhuma tecnologia disponível atualmente permite ganhos de produtividade tão significativos quanto a irrigação. Enquanto algumas tecnologias altamente difundidas no setor buscam incrementar de 3% a 4%, a irrigação apresenta, constantemente, ganhos acima de 70% a 90%. Na região Centro-Sul temos várias regiões extremamente responsivas a irrigação, seja por apresentarem déficit hídrico elevado, por apresentarem conflitos por terras para a produção ou simplesmente pelo elevado custo de comprar ou alugar essas terras”, enfatiza.

Segundo Brito, só a irrigação de salvamento, quer seja com água limpa ou vinhaça mais água residuária, tem garantido um melhor stand de plantas (maior perfilhamento/brotação de cana soca), além de um aumento da idade fisiológica (a cana atinge o início da estação chuvosa em um estado de crescimento mais avançado do que uma cana não tratada com salvamento) da cana de uma safra para outra, uma combinação que resulta em ganhos de longevidade e produtividade em relação aos canaviais de sequeiro.

“Praticamente todas as usinas realizam irrigação de salvamento, porém muitas ainda não realizam um manejo hídrico eficaz. Esse manejo é fundamental para atingir o máximo potencial do sistema de irrigação. É importantíssimo que os colaboradores dos setores de irrigação de cada usina tenham consciência de que eles têm em suas mãos a ferramenta mais eficaz para elevar a produtividade dos canaviais. Sabendo desta nobre função, cabe a cada um desempenhá-la agregando cada vez mais tecnologias”, acrescenta Lance.

Paulo Alexandre Monteiro de Figueiredo, engenheiro agrônomo, pesquisador e atual diretor da FCAT (Faculdade de Ciências Agrárias e Tecnológicas da Unesp – Campus de Dracena), explica que a irrigação da cana-de-açúcar, seja de natureza suplementar ou plena, representa uma alternativa viável à produção e à melhoria da produtividade, desde que observada as necessidades hídricas da cultura e os custos para a implantação, manutenção e manejo dos diferentes sistemas de irrigação.

“A irrigação, sendo considerada uma prática agrícola voltada para os tratos culturais de cana planta e soca, sofre grande influência da caracterização e definição das potencialidades regionais. Nesse sentido, na região Centro-Sul, assim como em outras regiões, o papel da irrigação é reduzir o déficit hídrico, além de ajustar o manejo da cultura para uma nova realidade. Em áreas irrigadas com pivô central e gotejamento, o ganho de produtividade agrícola médio gravita em torno de 15 t/ha a 30 t/ha. No entanto, em algumas situações o ganho pode chegar a 50 t/ha”, afirma o pesquisador.

Ele explica que, ao se irrigar uma cana que foi recentemente plantada, a mesma passa do estado embrionário para o estado ativo de forma mais rápida, devido a maior presença da água, acelerando assim o metabolismo da futura planta. Dessa forma, o aproveitamento dos adubos e corretivos pela planta deve ser significativamente maior, fazendo com que os tratos culturais de cana planta sejam mais eficientes. Em cana soca a utilização da irrigação acelera a formação das raízes novas, sem que necessariamente ocorra a morte das raízes mais velhas, possibilitando assim uma rebrota mais precoce.

A FAVOR DA ESTABILIDADE

Melhor planejamento no uso das áreas plantadas, ao permitir menor dependência das chuvas; estabilidade de produção; segurança do capital investido na produção, minimizando o risco de veranico em períodos sensíveis; maior qualidade da produção, proporcionada pelo ciclo mais homogêneo; exploração de uma maior gama de janela produtiva, permitindo a introdução de outras culturas com foco em rentabilidade ou rotação de cultura; e ainda aumento na produtividade, diante da possibilidade de adotar melhores índices de tecnologia na produção sem a limitação do insumo água, são alguns dos benefícios que a irrigação pode proporcionar a culturas como a cana-de-açúcar.

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Variedades irrigadas, por exemplo, apresentam aumento do sistema radicular significativo quando expostos à maior disponibilidade de água no solo, o que possibilita uma melhor arquitetura e maior absorção de água pela planta. Como resultado, ao longo dos ciclos a produtividade agroindustrial tende a se manter estável. Além disso, em função do maior aporte fisiológico, a cana irrigada tende a apresentar maiores valores para ATR, quando comparada com aquelas cultivadas em sequeiro.

“A crescente incorporação de novas áreas de lavouras de cana-de-açúcar na região Centro-Sul do Brasil tem levado à exploração de regiões com déficits hídricos mais acentuados, ampliando a necessidade de irrigação com a finalidade de equilibrar a distribuição pluviométrica e garantir a umidade adequada durante todo o crescimento e desenvolvimento da cana-de-açúcar. Em Goiás e Mato Grosso do Sul, por exemplo, o uso da irrigação, seja de vinhaça mais resíduos ou água limpa, é essencial para o processo de brotação ou rebrota”, destaca o pesquisador.

MENOS ÁGUA PARA MAIS CANA

Imagine chegar a produtividades de mais de 200 t/ha? Segundo pesquisa em irrigação realizada pela Embrapa Cerrados junto a usinas parceiras, com a prática é possível aumentar a produtividade da cana nas regiões de Cerrados. Dados coletados nos experimentos mostram que em cana planta a irrigação permite atingir produtividades de até 255 t/ha com a primeira soca de até 220 t/ha para as melhores variedades, índices muito superiores a média da região Centro-Sul do País, normalmente inferior a 80 t/ha.

Já o ATR, no sistema irrigado tem atingido 38 t/ha na cana planta e 31 t/ha na cana soca, enquanto a região Centro-Sul produz em média 12 t/ha. Com esses níveis de produtividade da cana irrigada, os investimentos em irrigação são pagos já no primeiro ou segundo corte, segundo o pesquisador Vinicius Bufon.

“A irrigação também promove a verticalização da produção de palhada da cana, cada vez mais importante para a receita das usinas. O sistema de produção irrigado produz, em média, três vezes mais palhada que o sistema utilizado atualmente. A produtividade aumenta significativamente até regimes hídricos entre 50% e 70% do atendimento da evapotranspiração potencial da cultura para a maioria das variedades avaliadas. Isso indica que a maioria dos sistemas de irrigação instalados nas usinas está subdimensionado para atingir a máxima produtividade”, confirma o pesquisador.

Bufon ainda destaca que, além dos ganhos em produtividade, o sistema de produção irrigado permite atingir eficiência no uso da água maior que o do sistema de sequeiro, ou seja, produzir mais cana e açúcar consumindo menos água. “Enquanto um sistema de sequeiro produz em toro de 7 kg de cana e 1,4 kg de açúcar para cada metro cúbico de água que consome, o sistema irrigado pode produzir até 40 kg de cana e 3,1 kg de açúcar com a mesma quantidade de água. O pesquisador destaca o potencial do sistema de produção para, onde houver água disponível, poupar os recursos hídricos do País, o que representa um diferencial de sustentabilidade.”

KNOW-HOW NORDESTINO

O aumento da produtividade é, indubitavelmente, o grande desafio para os produtores de cana-de-açúcar do Nordeste, onde a precipitação pluvial, em muitos locais, é distribuída irregularmente no decorrer do ano, resultando numa menor taxa de armazenamento de água no solo durante o período seco. Esse fato causa uma redução na evapotranspiração e, consequentemente, no crescimento e na produtividade da cultura da cana-de-açúcar, sendo necessário, na maioria das vezes, o uso da irrigação.

A principal ferramenta utilizada por alguns produtores no Nordeste do país para viabilizar a produção da cana é a irrigação plena, caso da Agrovale, que a pratica desde sua fundação, há 44 anos. Cid Eduardo Porto Filho, diretor Agrícola da Agrovale, afirma que a empresa contemplou a irrigação como ponto fundamental de viabilidade do projeto. “A Agrovale, desde a sua criação e plantio das primeiras canas, sempre foi 100% irrigada. Na região semiárida (caatinga baiana), onde estamos instalados, sem irrigação não se produz, porque as precipitações pluviométricas anuais são de no máximo 500 mm, então não há cultura de produção anual que resista.”

Os principais itens analisados antes do projeto ser finalizado foram o clima (balanço hídrico), o solo (classificação pedológica), sistematização, mão de obra, importação inicial de tecnologias de irrigação, variedades adaptadas à caatinga (semiárido), disponibilidade de água e projetos de infraestrutura para adução, condução e modelagem de gestão da água.

A produtividade histórica da usina até 2011 era 90 t/ha. Mas nos últimos cinco anos a média subiu para 105 t/ha, havendo áreas comerciais em gotejo subterrâneo onde as produtividades já alcançaram médias de 270 t/ha em cana planta. “O aumento da produtividade agroindustrial que temos hoje deve-se inicialmente ao modelo de gestão aplicado, onde são identificados os fatores mais importantes para a geração de produção, ou seja, tecnologia de ponta em irrigação, fertirrigação, manejos de safra, tratos culturais, nos diversos métodos utilizados, tendo como gerador de referência os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento internos, ampliando com assertividade técnica e econômica as novas formas de produzir”, explica o diretor Agrícola da Agrovale.

Agrovale em 1975 e hoje, com irrigação plena em 100% de seus canaviais

POTENCIAL DE IRRIGAÇÃO

Segundo o estudo “Análise Territorial para o Desenvolvimento da Agricultura Irrigada”, elaborado pelo Ministério da Integração Nacional em parceria com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), o Brasil tem potencial para expandir as terras irrigadas em até 61 milhões de ha, o que equivale a 10 vezes o tamanho atual, que é de 6,1 milhões de ha. O maior potencial de expansão está na região Centro-Oeste, sendo que, o Mato Grosso do Sul tem um potencial para irrigar aproximadamente 4,5 milhões de ha.

Os estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia e Goiás concentram 68% da área irrigada no Brasil, que atualmente é cerca de 6 milhões de ha no total, segundo estimativas da Agência Nacional de Águas (ANA). “A parte específica do setor canavieiro é de aproximadamente 20% desse total, mas é importante informar que esse quantitativo pode mudar com a conclusão de um estudo específico contratado pela ANA acerca da irrigação de cana, que tem previsão para conclusão em dezembro”, afirmou a ANA via assessoria de comunicação.

O GIFC acredita que o melhor uso possível da água disponível, considerando as questões ambientais e legais, pode direcionar o aumento de produtividade necessária para garantir a sustentabilidade do setor. Mas Viana destaca que o melhor uso da água é apenas um dos itens fundamentais para que as unidades atinjam o máximo potencial genético da cana-de-açúcar. “A prática do uso da nutrição arrojada e fatores dos redutores da produtividade agrícola sob controle, considerando que a planta não sofrerá estresse, ou seja, estará sempre com a necessidade de água atendida, é fundamental para direcionarmos as nossas ações de planejamento técnico e operacional.”

O superintendente do GIFC adiciona ainda que a definição de lâminas e também dos sistemas de irrigação que eventualmente serão utilizados deverão respeitar uma lógica econômica que precisa ser testada por modelos matemáticos concisos que garantam, antes de tudo, a sustentabilidade econômica e financeira do uso da água que venha a ser transferida de mananciais, respeitando as regras ambientais e legais. “As pessoas já estão convencidas que o bom manejo da água e a irrigação são saídas para o aumento da produtividade. A partir de 2017 os números tendem a sair dos 1,2 milhão de ha irrigados para 2 milhões, como já estimou a RPA Consultoria. Isso virá com a retomada do setor. O GIFC entende que há falta de recursos, mas não falta de convicção sobre os benefícios da irrigação. No ano que vem tudo indica que as empresas vão retomar os investimentos. Temos conhecimento dos projetos da BP, Raízen, e outras grandes usinas que estão convencidas e devem retomar os investimentos nesta área.”

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