Conecte-se conosco
 

Açúcar

Menos cana, mais incertezas

Publicado

em

O mercado futuro do açúcar em NY encerrou a sexta-feira com o contrato para vencimento outubro/21 cotado a 19.58 centavos de dólar por libra-peso, uma ligeira queda de 9 pontos (dois dólares por tonelada) em relação à semana anterior. Os fundos liquidaram 12,000 lotes, mas ainda possuem 238,755 comprados.

Do final de julho até o fechamento de sexta-feira, a média de valorização das cotações correspondentes aos contratos da 21/22 foi de 39 dólares por tonelada, ao mesmo tempo que a média de valorização para 22/23 foi de 52 dólares por tonelada. O mercado em um mês acelerou a compra/proteção da 22/23 refletindo a preocupação em relação à próxima safra tendo em vista o desempenho muito aquém do esperado para esta safra corrente devido ao clima adverso.

Muito se fala em “morte súbita” para a moagem da cana, uma situação em que a moagem para porque não existe mais matéria prima disponível. Uma safra de 520 milhões de toneladas de cana já parece não assustar.

Quem continuou com a política de hedge fixando preços para a 22/23 em reais por tonelada e comprando calls (opções de compra) fora do dinheiro, 150 pontos acima, está se dando bem, pois no final de julho a média das cotações estava 16.25 centavos de dólar por libra-peso e na sexta a média era de 19 centavos de dólar por libra-peso!! 275 pontos de ganho.

Nos spreads, o março/maio 22, que negociava quase 100 pontos de desconto no final de julho (muito exagerado ao nosso ver) estreitou para 60. Por isso que insistimos sempre na análise individual dos spreads porque as distorções aparecem e devem ser aproveitadas. Imagine que o maio/22 negociava no fim de julho com um desconto anualizado de 27,5% em relação ao março/22. Isso quer dizer que você vende/entrega seu açúcar no março e recebe de volta em maio 27,5% ao ano mais barato. Quem aproveitou a enorme distorção embolsou quase 9 dólares por tonelada.

Outra coisa que chama a atenção nessa breve análise entre dois períodos é que o carregamento de outubro para março aumentou de 7.2% para 9%. Em outras palavras, detentores de posições compradas no outubro/21 querem se livrar do açúcar.

O que pode explicar esse movimento se todos falam de menos cana para este ano e para o próximo?

Algumas hipóteses são cogitadas: a) tradings estão com fluxo de caixa apertado em função das chamadas de margem, afinal o mercado se valorizou muito nos últimos meses. Rolar a posição – com a aceitação das usinas de prorrogarem o embarque – para o mês seguinte dá mais fôlego financeiro; b) tradings assumem que nesse período podem conseguir um frete menor, pois os preços atuais do frete no spot fazem a margem da operação desaparecer.

Requer muita criatividade gerir uma posição num cenário de enormes incertezas e que ainda abre a perspectiva de no ano que vem ter menos cana, menos etanol, recuperação do consumo e eleições no Brasil. Como disse um executivo: “a safra vai acabar mais cedo e a próxima vai começar mais tarde”.

A variação das cotações de maio/22 a março/23 no período analisado mostra exatamente isso. Vale fazer o básico que é fixar preços e comprar proteção de alta, também conhecido como uma put (opção de venda) sintética.

O consumo de combustíveis ciclo Otto vai se recuperando aos poucos: comparativamente ao mês de julho do ano passado, o consumo total subiu 8.65%; em gasolina equivalente subiu 10.69%. O consumo total de janeiro a julho deste ano superou em 6.59% o mesmo período de 2020 (29.9 bilhões de litros contra 31.9 bilhões de litros); em gasolina equivalente, subiu 7.25%. Já nos 12 últimos meses aumentou 2.16%, equivalente a 1.08 bilhão de litros.

As exportações brasileiras de açúcar somam 31.5 milhões de toneladas (de agosto/20 até julho/21); O Brasil exportou um volume adicional de 8.5 milhões de toneladas de açúcar no mercado internacional, nesse período; O acréscimo foi de 37.1% em relação ao mesmo período do ano passado.

Nosso levantamento acerca das fixações das usinas para a safra corrente (2021/22), como se sabe, atingiu mais de 85% com o preço médio de R$ 1,649 por tonelada, apurado de janeiro de 2020 até fevereiro de 2021, quando encerramos o monitoramento dessa safra. Esse valor corrigido para 31 de agosto pelo CDI representa R$ 1,912 por tonelada. Passamos a corrigir esses valores pelo CDI para que tenhamos uma comparação mais correta.

A Vibra Energia, novo nome da BR Distribuidora, e a Copersucar criaram uma joint-venture para atuar na comercialização de etanol. De um lado, a distribuidora movimenta 6.5 bilhões de litros de etanol, do outro, as usinas vinculadas à cooperativa produzem 5.0 bilhões de litros. Embora a nova empresa ainda dependa da aprovação do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) as duas entidades marcaram um “golaço” em termos estratégicos demonstrando que não há espaço no mercado para quem pensa pequeno. Não é vendendo direto pra o posto de gasolina da esquina que o setor vai crescer, mas com abordagens modernas que visem o ganho de escala, o aumento da capilaridade e a sinergia entre as operações.

Para que não pairem dúvidas, nem façam uso do nome do agronegócio como fiador das aventuras antirrepublicanas do ocupante do Planalto, a ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio) por meio do seu Presidente do Conselho, Marcello Brito, não se acovardou como outras entidades e publicou manifesto em tom grave contra a política governamental e a crise dos três poderes. Brito reconhece que o setor teve condescendência demais com um governo que não entregou nada do que prometeu.

“Está na hora de trazer os adultos para a sala”, comentou referindo-se às intermináveis crises provocadas pelo delirante presidente da república.

Segunda-feira foi feriado nos EUA e terça no Brasil. Portanto, podemos esperar um mercado sem grandes sobressaltos nesta semana.

 

*Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting

Cadastre-se e receba nossa newsletter
Continue Reading
Publicidade