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[Opinião] Açúcar: curto prazo pressiona, longo prazo promete

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Para o açúcar, a semana foi, de certa forma, decepcionante para quem esperava uma reação positiva do mercado, especialmente diante da possibilidade de um início tardio da moagem, motivado pela baixa qualidade da cana e da falta de chuva. O contrato futuro de açúcar em NY com vencimento para maio de 2025 encerrou cotado a 19.06 centavos de dólar por libra-peso, registrando uma queda de 63 pontos em relação à sexta-feira anterior — o equivalente a aproximadamente 14 dólares por tonelada. Já o vencimento julho fechou a 18.84 centavos, com recuo de 52 pontos, ou cerca de 11.50 dólares por tonelada. De maneira geral, o mercado apresentou queda em todos os vencimentos, com os contratos de curto prazo sofrendo as maiores desvalorizações.

A desvalorização do real ao longo da semana acabou incentivando algumas usinas a fixarem posições de vendas de açúcar na exportação nos vencimentos mais distantes da safra 2025/2026 do Centro-Sul  (entre outubro e março) e também em parte da safra 2026/2027. A queda, no entanto, foi bem menos acentuada nesses prazos mais longos: a média simples dos quatro vencimentos da safra 2026/2027 mostrou uma retração de apenas 13 reais por tonelada, enquanto a da safra 2027/2028 caiu somente 11 reais por tonelada.

No cenário externo, o petróleo também não colaborou. O barril do petróleo tipo WTI segue orbitando em torno dos 70 dólares e o Brent ao redor dos 74 dólares. A paridade da gasolina com o mercado internacional está atualmente em pouco mais de 1%, o que não motiva a Petrobras a realizar qualquer reajuste nos preços no curto prazo.

Podemos afirmar que o mercado está sob pressão baixista no curto prazo. Essa pressão é explicada, em parte, pela realização de lucros, por um aumento de vendas por parte das usinas favorecidas pelo real mais fraco e pela baixa demanda internacional — o que também pode estar relacionado ao Ramadã, que termina neste sábado dia 29 e tradicionalmente reduz o ritmo de compra de alguns países consumidores.

No Centro-Sul, as usinas seguem preocupadas com a escassez de chuvas. O déficit hídrico persiste e a previsão para os próximos dias aponta apenas chuvas fracas e mal distribuídas, o que aumenta a apreensão quanto ao desenvolvimento da safra.

A Índia continua no nosso radar – e, pelo visto, no de muita gente. A produção da safra 2024/2025 segue sendo revista para baixo, e o consenso do mercado hoje aponta para algo em torno de 25.8 milhões de toneladas de açúcar. Caso esse número se confirme, e se a safra 2025/2026 também começar a dar sinais de que vai decepcionar, combinada com uma possível frustração de produção no Centro-Sul entre agosto e setembro, o mercado pode sair do marasmo e reagir com força, empurrando os preços para níveis acima de 25 centavos de dólar por libra-peso.

Não estou dizendo que isso vai acontecer — ainda não temos bola de cristal —, mas é uma possibilidade que merece ficar no radar. E, aparentemente, não sou o único a pensar assim: já existem mais de 7.000 calls (opções de compra) posicionadas acima do strike de 25 centavos para o vencimento outubro/25 e mais de 6.000 entre 22 e 25 centavos para março/26. Um belo seguro para o caso de um “cisne negro” desavisado resolver sobrevoar o mercado — e com o radar desligado.

Enquanto isso, Índia e Paquistão continuam enfrentando clima seco, com chuvas que parecem ter entrado em férias prolongadas. A Tailândia também teve uma semana sem precipitações relevantes, embora haja alguma esperança de melhora em abril. Mas vale lembrar: previsão do tempo, como sempre, é aquela coisa — serve mais para gerar expectativa do que certeza.

No curto prazo, o mercado segue vulnerável, pressionado pela baixa demanda e pela possibilidade de novas vendas por parte dos fundos. Segundo o último relatório Commitment of Traders, com base na posição de terça-feira passada, os fundos estavam vendidos em pouco mais de 29 mil contratos — uma redução de 13 mil lotes em relação à semana anterior — mas há sinais de que novas posições vendidas foram adicionadas a partir de quarta.

LEIA TAMBÉM: Preços do açúcar pressionados por previsões de chuvas benéficas no Brasil

Apesar do ambiente mais pesado no curto prazo, seguimos com uma visão construtiva para o médio e longo prazo. O conjunto de fatores — clima adverso, estoques baixos na Índia, produção global ajustada e uma curva futura de preços atrativa — aliado a um cupom cambial interessante para as usinas, sustenta uma perspectiva altista. Dentro desse contexto, o spread outubro-março, atualmente em carrego, pode oferecer uma excelente oportunidade de compra. Se a escassez se confirmar, esse spread pode entregar um desempenho bem acima da média — do tipo que faz até analista fundamentalista querer olhar gráfico de madrugada, só por prazer.

Nosso colaborador Marcelo Moreira comenta a parte técnica: O vencimento Maio/25 encerrou a semana a 18.96 centavos de dólar por libra-peso, sem forças para dar continuidade ao movimento de alta e romper a resistência superior da Banda de Bollinger dos 50 dias, situada em 20.35 centavos. O contrato fechou abaixo da média móvel de 9 dias (19.50 centavos) e oscilando no limite das principais médias móveis de longo prazo — 200 e 100 dias — localizadas, respectivamente, em 19.17 e 18.92 centavos de dólar por libra-peso. Caso perca a média móvel dos 100 dias, os próximos suportes estão projetados em 18.62 / 18.00 / 17.58 e, por fim, 17.08 centavos. O vencimento Julho/25 encerrou a 18.75 centavos de dólar por libra-peso, exatamente sobre a média móvel dos 200 dias (18.74 centavos). A perda desse suporte pode abrir caminho para os próximos alvos em 18.46 / 18.29 / 17.50 e, eventualmente, 17.00 centavos. As próximas resistências mais relevantes aparecem em 19.20 e 19.50 centavos por libra-peso.  O spread Outubro/25 x Março/26 voltou a abrir, encerrando a semana em 37 pontos.

 

 

*Arnaldo Luiz Corrêa é analista de mercado e diretor da Archer Consulting

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