Por Marco Ripoli
A COP-30, prestes a ser realizada em Belém, promete mais do mesmo: discursos decorados com boas intenções, painéis cheios de celebridades e hashtags ensaiadas. Mas, conforme pontado por especialistas, “Quem se preocupa com o clima na COP-30?”, a conferência corre o risco de se transformar em um palco de vaidades políticas, enquanto as pautas climáticas reais são postergadas por interesses geopolíticos e econômicos. Neste cenário, países ricos mantêm seus subsídios a combustíveis fósseis, reativam usinas de carvão e empilham compromissos sem cumprir metas, enquanto o mundo, uma vez mais, ouve discursos vazios.
Em contraste, o agronegócio brasileiro apresenta um retrato oposto: menos propaganda e mais impacto. Dados científicos, tecnologias tropicais e produção sustentável estão no campo — e não nos palcos. Destacamos que o Brasil continua preservando extensas áreas de vegetação nativa e reduzindo emissões, mesmo com crescimento produtivo. É essa realidade concreta que coloca o agro nacional como protagonista, com soluções mãos na terra, tanto para alimentar o mundo quanto para capturar carbono.
A pergunta que ecoa e que será o fio condutor deste artigo é direta: quem realmente se preocupa com o clima — quem fala ou quem faz? Enquanto muitos chegam à COP-30 com slides e slogans, o agronegócio brasileiro já sequestra carbono, recupera solos e viabiliza inovação tecnológica. Se a COP-30 for fiel ao seu nome, precisa ouvir menos os palcos montados em tendas internacionais e mais os dados vindos do cerrado, do semiárido, do bioma mata atlântica e dos produtores da Amazônia legal. O Brasil entrega o que o mundo ainda promete.
A COP da hipocrisia climática
A COP-30 corre o risco de repetir o roteiro das edições anteriores: um desfile de boas intenções sem compromissos reais. A hipocrisia é tamanha dos países que criticam o Brasil enquanto ampliam seu consumo de carvão, de combustíveis fósseis e subsidiam práticas agrícolas insustentáveis. A Europa reativa usinas de carvão. Os EUA expandem o uso de fertilizantes sintéticos e subsidiam monoculturas com alto impacto ambiental. E o Brasil? Reduz emissões, protege o solo, captura carbono e mantém 66% de sua vegetação nativa preservada. É incoerente que quem mais fala seja quem menos faz. O agro nacional chega à COP-30 com fatos, não com narrativas. Estamos falando de um setor que recupera áreas degradadas, investe em pesquisa pública e privada e amplia sua produtividade sem derrubar uma única árvore.
Os mesmos países que lideram as discussões nas plenárias ignoram seus passivos históricos e querem ditar regras ao mundo em desenvolvimento. Ignoram que o Brasil preserva mais do que qualquer outra nação em proporção à sua produção. É hora de inverter a lógica: quem mais entrega, mais deve falar. E quando falamos em entrega, falamos em tecnologias tropicais, adaptadas, validadas e replicadas por milhares de produtores de norte a sul do país. O agro que sequestra carbono, não aplausos Enquanto o mundo debate como mitigar emissões, o agro brasileiro já sequestra milhões de toneladas de CO₂ por ano. Com o plantio direto, presente em 60% da área cultivada, se captura 2 toneladas de CO₂ eq/ha.ano. A segunda safra, responsável por 33% da produção de grãos, agrega 0,5 ton/ha.ano de balanço positivo. Isso significa que a terra trabalha duas vezes, com eficiência e regeneração.
O sistema iLPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) é a prova de que é possível produzir mais e melhor: já são 18 milhões de hectares com sequestro de 20 ton CO₂ eq/ha.ano, aumento de 74% na qualidade do solo e 41% mais biodiversidade. A meta é chegar a 35 milhões de hectares em 2030. Isso não é promessa. É histórico. Além disso, o ILPF reduz riscos financeiros, melhora a estabilidade da produção e permite agregar valor ambiental ao produto final. O solo brasileiro é ativo climático, não passivo ecológico.
A Embrapa, com a Rede ILPF, conduz um dos maiores experimentos agroambientais do mundo, com dezenas de unidades de referência tecnológica. A lógica é simples: integrar para regenerar. Integrar para diversificar. Integrar para capturar carbono, melhorar o bem-estar animal, reduzir custos e construir uma agricultura tropical verdadeiramente sustentável.
A pecuária que mitiga, rastreia e exporta
Com 197 milhões de cabeças de gado, o Brasil poderia ser alvo fácil das narrativas. Mas metade da produção é intensiva e ocorre sobre pastagens degradadas. A Carne Carbono Neutro é uma realidade: estoque de 52 ton CO₂ eq/ha no solo, árvores plantadas e ciclo fechado. O sistema intensivo reduz emissões entéricas e melhora a dieta dos animais, elevando produtividade sem ampliar área. O abate precoce (Boi China) reduz em 25% as emissões por animal e representa 70% das exportações. A rastreabilidade já alcança 20% do rebanho nacional. A pecuária brasileira não quer perdão. Quer reconhecimento. Os programas de baixo carbono promovidos pela Embrapa e por iniciativas privadas mostram que o boi pode ser parte da solução ambiental, com ganhos econômicos, sociais e climáticos. Carne rastreada, precoce, intensiva e regenerativa. Qual outro país entrega isso? A pecuária do século XXI exige gestão, genética, nutrição e monitoramento. E o Brasil vem avançando em todas essas frentes. Softwares de gestão de pasto, sensores em colares,
aplicativos de bem-estar animal e plataformas de blockchain para rastreabilidade estão presentes nas fazendas mais tecnificadas. O boi brasileiro está conectado ao futuro.
Grãos, raízes profundas e solução biológica
Líder global em soja e milho, o Brasil produz 10% dos grãos do mundo e mitiga 15 a 20 ton CO₂ eq/ha com esses cultivos. A tecnologia também está nas raízes: gramíneas com mais de 2 metros de profundidade e o uso crescente de bioinsumos como Rhizobium e Azospirillum, que economizam mais de US$ 18 bilhões por ano em fertilizantes. Isso reduz não apenas o custo de produção, mas também a dependência externa e a pegada de carbono dos insumos.
O crescimento anual de 25% no uso de bioinsumos mostra que o agro não é vítima da regulação ambiental. É protagonista de sua evolução. O uso racional de fertilizantes, a adoção de agricultura de precisão e a digitalização do campo posicionam o Brasil como referência em produtividade limpa.
Além disso, o país é pioneiro em agricultura tropical baseada em ciência. A produtividade média de grãos saltou de 1 t/ha em 1977 para mais de 4 t/ha em 2023. Isso permitiu poupar 240 milhões de hectares de terras no país, que teriam sido necessários para produzir a mesma quantidade. O Brasil alimenta o mundo sem desmatar. Estamos falando de um setor que respeita o Código Florestal mais restritivo do planeta, mantém reservas legais, áreas de preservação permanente e investe em conectividade rural para ampliar o acesso à inovação. A soja brasileira é rastreada, certificada e produzida em áreas que respeitam a legislação.
O agro que abastece e descarboniza
O setor sucroenergético é um gigante verde. A cana ocupa apenas 1,2% do território nacional, mas gera 151 mil GWh de energia limpa e já evitou 630 milhões de toneladas de CO₂ eq desde 2003. O programa RenovaBio, iniciado em 2016, já gerou 218 milhões de ton CO₂ eq mitigadas e criou o CBio como ativo financeiro. Hoje, cada tonelada de carbono evitada pode virar receita para o produtor.
Além disso, o Brasil é o maior produtor de etanol de cana e cresce em etanol de milho (6 bi de litros/ano), biodiesel de soja (7 bi litros/ano) e avança no uso de biogás, biometano e atéhidrogênio verde. A transição energética é feita com tratores, não com discursos. A matriz energética brasileira tem 47% de fontes renováveis, enquanto a média mundial é de 14%. O agro contribui não apenas com alimentos, mas com energia, bioeletricidade e combustíveis limpos. O carro flex é uma invenção brasileira. O próximo passo? Veículos a hidrogênio movidos por biomassa do campo. Nenhum outro país do mundo tem esse potencial.
O setor sucroenergético também é exemplo de economia circular: 95% da vinhaça é reaproveitada como fertilizante, 95% da colheita é mecanizada, e a cogeração com bagaço abastece cidades inteiras com energia limpa. É produtividade com inteligência ecológica.
O agro que usa menos químicos, mas leva mais pancada
O Brasil é o 13º no ranking mundial de uso de defensivos por tonelada de alimento. Usa 0,85 kg/ton. O Japão usa 95 kg. Os EUA, 11 kg. E ainda assim, somos acusados de “poluidores”. A verdade é outra: o Brasil preserva 66% de sua vegetação nativa, 97% da agricultura está fora da Amazônia e a expansão ocorre sobre pastagens degradadas. No lugar da propaganda, entregamos rastreabilidade, eficiência e sustentabilidade mensurável. O avanço dos fertilizantes de liberação controlada, da taxa variável e da tecnologia de aplicação seletiva mostra que o campo brasileiro é mais digital e sustentável do que se imagina.
Nos bioinsumos, o país já lidera globalmente. A indústria cresce 25% ao ano, com destaque para soluções de controle biológico, biodefensivos e promotores de crescimento vegetal. O campo virou laboratório de inovação. Além disso, o Brasil é referência em legislação fitossanitária e vigilância. Monitoramentos, limites máximos de resíduos e exigências de registro tornam o uso de defensivos seguro e controlado. A demonização do uso de insumos ignora a ciência e favorece mitos.
Quem de fato protege o planeta?
A COP-30 é uma vitrine. Mas quem está nela? Celebridades, ONGs e governos que falam bonito? Ou produtores, cientistas e técnicos que trabalham debaixo de sol e entregam resultado? O Brasil precisa parar de se desculpar por ser o que é: um país vocacionado para produzir, preservar e inovar. A pergunta que o mundo precisa responder é simples: querem um futuro com menos carbono ou com mais narrativas?
O agro já respondeu. Com dados, com florestas preservadas, com alimentos e com energia limpa. Que a COP-30 seja o palco da virada, onde o campo brasileiro seja finalmente reconhecido como o que ele é: solução real para o desafio climático do século XXI. O Brasil não deve pedir licença para liderar. Deve ocupar seu lugar como potência agroambiental, com altivez, transparência e ousadia.
O Agro não para.
*Marco Ripoli é PhD. em Máquinas Agrícolas, diretor da PH Advsory Group e Bioenergy Consultoria