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Agrícola

Para transportar 91 toneladas, além de autorização, é preciso de frota adequada

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Apesar da ainda baixa adesão por parte das usinas por conta da necessidade das AETs, a expectativa é que em médio e longo prazo as usinas estejam aptas para fazer o transporte com 91 toneladas

 

A possibilidade de transportar 91 toneladas de cana-de-açúcar, de acordo com a última resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), n°872, aprovada em setembro de 2021, trouxe algumas modificações e uma série de novas regras e exigências para a circulação destes super rodotrens. Quem deseja circular com mais peso vai tem que adequar a sua frota.

A regulamentação tornou as regras mais rígidas para a circulação das CVC’s com 91 toneladas, afim de garantir a segurança viária e a integridade das rodovias. Dentre as principais mudanças está a definição de rotas curtas e específicas para a circulação destes rodotrens.

Segundo o engenheiro Nilton Souto, da ACT Soluções, a partir de agora os rodotrens, composições voltadas exclusivamente ao transporte de cana-de-açúcar, só poderão circular com Autorização Especial de Trânsito (AET), que deverá ser renovada anualmente. Dentre as principais exigências estão o uso de veículos e reboques específicos.

De acordo com o Contran, o rodotrem de 11 eixos precisa se enquadrar em alguns requisitos como destinar-se exclusivamente ao transporte de cana-de-açúcar; ter altura máxima de 4,40 m; ter comprimento mínimo de 28 m e máximo de 30 m; ser formada por caminhão-trator 6×4, com Capacidade Máxima de Tração (CMT) igual ou superior ao PBTC da CVC, semirreboque com três eixos e reboque com cinco eixos, sendo um tandem duplo dianteiro com rala e um tandem triplo traseiro; obedecer aos limites legais de peso por eixo fixados pelo Contran; estar equipada com sistemas de freios conjugados entre si e com a unidade tratora, atendendo ao disposto na regulamentação específica do Contran, observando os requisitos estabelecidos no Anexo I; possuir acoplamento dos veículos rebocados do tipo automático conforme norma ABNT NBR 11410 e estar reforçado com correntes ou cabos de aço de segurança; possuir acoplamento dos veículos articulados do tipo pino rei e quinta roda atendendo ao disposto na norma ABNT NBR NM ISO 4086; e, por fim, possuir sinalização especial.

O advogado especialista da área Trabalhista do escritório Pereira Advogados, Fábio Luiz Silva, afirma que as fiscalizações no Estado de São Paulo, por exemplo, continuam com foco nos requisitos gerais de transporte de cana, de acordo com a composição adotada pela usina. “As que não atendem aos requisitos têm sido autuadas e também interpeladas pelo Ministério Público do Trabalho, com proposição de assinaturas de Termo de Ajuste de Conduta (TAC) para regularização. De forma geral, as usinas preferem discutir esta questão perante o Poder Judiciário. Foram poucos os casos, no Estado de São Paulo, de usinas que firmaram o termo”, disse à RPAnews.

Ainda de acordo com ele, não basta ter a AET emitida se as usinas não estiverem com suas frotas adequadas a todos os itens da nova Resolução. “Esta tem sido uma das dificuldades do setor, adaptar a frota com modificação da composição às exigências da norma. Ademais, dada a falta de insumos e à grande procura, a não disponibilidade imediata de composições novas para aquisição”, disse ele à RPAnews.

Tecnologia disponível no mercado segue à risca normas de segurança

Em 2003 a Sergomel, fabricante de implementos, foi pioneira no desenvolvimento de um rodotrem para atender as novas exigências do Contran. Já enxergando a necessidade, a companhia começou produzir seus implementos com a utilização de materiais de baixa liga e alta resistência.

A princípio, segundo Adriano Terra, engenheiro de produto e Vagner Laercio Gomes, gerente Comercial da Sergomel, a vantagem do uso destes materiais estava associada à possibilidade de diminuir as taras (pesos) dos equipamentos e, com o entendimento e a necessidade do setor canavieiro em transportar mais carga, bem como obter ganhos no consumo de combustível, reduzir desgaste de pneus e aumentar a agilidade no transporte, houve uma grande procura na utilização de equipamentos com este conceito aplicado.

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Ao observar equipamentos que trafegam com mais eixos fora do Brasil, a Sergomel viu a oportunidade de trazer essa configuração para as usinas brasileiras. Encabeçados pela Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar), aliando a necessidade do aumento de carga a ser transportada no setor canavieiro, foram realizados vários estudos e se chegou à conclusão de que o aumento de eixos associado a este PBTC não impactaria a qualidade das rodovias.

“Com isso, desenvolvemos nosso primeiro equipamento, um semirreboque 3 eixos e um reboque de 5 eixos. Ambos nasceram com um novo posicionamento de eixos, garantindo a melhor distribuição de carga possível para esta combinação. Além disso, veio com novos circuitos de freio aplicados a configuração de reboque 5 eixos”, explicaram os especialistas da Sergomel à RPAnews.

Construído em material de baixa liga e alta resistência, o Rodotrem de 11 eixos da companhia tem a menor tara do mercado e suas dimensões atendem as legislações vigentes do Contran. “As dimensões básicas do equipamento são 12,5 m de comprimento x 2,60 m de largura e 4,40 metros de comprimento”, explicam os especialistas da fabricante.

Os itens embarcados neste modelo de rodotrem são os mesmos comercializados em outros equipamentos canavieiros. Além de um chassi e caixa de carga construído em material de baixa liga e alta resistência; as rodas são de alumínio; ele é equipado com a suspensão Sergomel SG5, e sistema balancim, que é uma balança soldada por método automatizado, sem pontos de lubrificação, composta por bucha de borracha envolvidas por material tubular de aço. A fixação da balança ao suporte é realizada por parafuso e porca parlock de 30mm.

“Os suportes são reforçados, com espessuras distintas nas regiões que exigem maiores esforços, de forma que todo o conjunto possa garantir maior robustez e alta resistência nas aplicações de maior severidade. Em cada suporte, com exceção ao central que já possui a balança, existe a chama sapata de esfrega, que possui a função de proteger os suportes contra possíveis atritos proporcionados pelos molejos. Durante as manutenções preventivas, os suportes ficam preservados, já que a peça a ser substituída será apenas as sapatas de esfrega, gerando assim, economia nos custos de manutenções”, detalham os especialistas da Sergomel.

Os suportes são unidos aos eixos por tirantes, sendo um fixo e um de regulagem, capacitando assim o alinhamento do eixo. Nas pontas dos tirantes, no interior das buchas metálicas, são encontradas as buchas de borracha silenciosas, cuja função é minimizar os esforços decorrentes aos impactos causadas durante os percursos realizados pelo implemento.

Além disso, os mancais de articulação são compostos por buchas autolubrificantes e as patolas eletrohidráulicas: acionadas por botoeiras fixadas na lateral do chassi. Segundo os especialistas, para dar maior segurança, o opcional oferecido pela companhia é a instalação do EBS (sistema eletrônico de frenagem), que tem como função integrar as funções básicas de controle de frenagem ABS e ASR, em um sistema eletrônico.

“As vantagens do controle eletrônico sobre o controle pneumático convencional são o curto tempo de resposta e a distância de parada, resultando em uma elevada segurança nas estradas. O EBS ainda pode oferecer outras vantagens que estão diretamente relacionadas a segurança do equipamento e condutor como, exemplo o controle de estabilidade, garantindo que diminua o risco de tombamento em curvas”, explicam.

Só para se ter uma ideia, o uso do modelo de 11 eixos vai permitir o transporte de cana com 18,5 toneladas de cana a mais que os equipamentos em uso. Em termos comparativos, isso significa que o transporte de 600 milhões de toneladas de cana poderia ser reduzido em 4 milhões de viagens, levando em conta a possibilidade de maior carga. “Para as usinas, os ganhos ambientais e logísticos são os maiores ainda”, afirmam os especialistas da Sergomel.

Exigências da lei

As composições são formadas por um cavalo-mecânico de três eixos, mais um semirreboque com três eixos e reboque com cinco eixos, sendo um tandem duplo dianteiro com rala e um tandem triplo traseiro. A circulação destes veículos com PBTC de 91 toneladas também estará condicionada ao uso de sinalização específica na traseira, além de proteção para a carga transportada. Para ampliar a segurança, essas composições poderão usar um sistema adicional de iluminação de LED para sinalização lateral e traseira nos implementos.

A resolução ainda não permite implementos adaptados com 11 eixos, sendo somente admitido o acoplamento de reboques e semirreboques especialmente construídos para utilização nesse tipo de CVC e que estejam devidamente homologados pelo órgão máximo executivo de trânsito com códigos específicos na tabela de marca/modelo do Renavam.

Para as usinas interessadas no uso desses implementos em vias públicas, será necessário o cumprimento de uma série de obrigações, como um Estudo Técnico que comprove a compatibilidade das CVC nas vias que pretende circular, laudo técnico dos implementos, certificado de avaliação de conformidade emitido pelo Inmetro, além de um estudo detalhado de viabilidade de tráfego no percurso proposto, com análise de geometria da via, análise de capacidade e nível, estudo de tráfego para possível instalação de terceira faixa em aclives, sinalização horizontal e vertical, análise da capacidade de suporte da rodovia ao conjunto, análise de pontes e viadutos, e apresentação de medidas para sanar qualquer problema encontrado no trecho.

Além disso, estes rodotrens poderão trafegar em vias públicas, no percurso e em horários especificados na AET. Entretanto, terão de obedecer a algumas condições operacionais como transitar com velocidade máxima de 60 km/h, trafegar sempre com faróis acesos, proibição da operação de comboio, observando-se a distância mínima de 300 m entre as CVC, proibição de ultrapassar outro veículo,  e, na  operação noturna realizada em vias de pista simples somente poderão ocorrer em horários com baixo volume de tráfego, correspondente, no máximo, ao nível de serviço “C” verificados no Estudo de Viabilidade de Tráfego;.

Em rodovias de pista simples as travessias de vias ou retornos, em nível, somente podem ser realizadas nos locais onde houver interseção previamente projetada, executada e sinalizada para esses movimentos, considerando as características da CVC, estabelecidos de acordo com a distância mínima de visibilidade de 465 m (oitocentos metros) para o trecho.

Adesão ainda é baixa por conta da AET

Wilson Agapito, gerente Agrícola da Usina Santa Isabel e diretor do GMEC (Grupo de Motomecanização), afirma que a adesão por parte dos usuários de caminhões canavieiros de 11 eixos e 91 toneladas de PBTC ainda é muito baixa, são praticamente testes porque ainda existe muita dificuldade para a obtenção de AETs.

“O setor vem se mobilizando junto a entidades de classe que buscam as melhores condições para que o novo modal de composição seja viabilizado nas unidades produtoras. Essas entidades, em especial a UNICA e Siamig, estão empenhadas junto a unidades produtoras, órgãos estaduais e federais, fabricantes de equipamentos e instituições de pesquisa para que as dificuldades sejam ajustadas e os produtores se adequem com mais rapidez. Com o passar do tempo, acredito que de médio para longo prazo, já tenhamos uma participação maior dessas composições”, disse Agapito.

A Delta Sucroenergia, unidade localizada em Minas Gerais, foi a pioneira na obtenção da AET para fazer o transporte de cana com 91 toneladas. Para a conquista da autorização, foi realizado um diagnóstico das rodovias, levantado em conta todos os pontos de melhorias que deveriam ser realizados para estar dentro dos requisitos da resolução. José Holanda Neto, diretor de Operações Delta Sucroenergia, disse à RPAnews que foram realizadas as adequações nas pistas, como por exemplo, realocação e melhoria nas entradas e saídas de fazenda, emplacamento de acordo com a resolução e pistas de aceleração e desaceleração.

Os cavalos mecânicos adquiridos nos últimos anos também já haviam sido pensados com a finalidade de atender essa a nova legislação. A companhia também está investido em reboques e semirreboques.

“A emissão da primeira AET referente a veículos 11 eixos no Brasil para transporte de cana-de-açúcar abre as portas para outras empresas do setor, pois houve um extenso debate inicial entre os órgãos de fiscalização e as empresas de consultoria para chegar em um padrão aceitável referente aos levantamentos das vias, laudos técnicos e demais estudos necessários para tanto. Esse aprendizado beneficiará, sem dúvidas, o Estado de Minas Gerais e outros entes da federação”, destacou o diretor de Operações Delta Sucroenergia.

Campos destaca que a delta foi pioneira e é um exemplo não só para Minas, mas que mostra que outras usinas podem conseguir. “Esperamos que a safra 2023/24 seja um ponto de inflexão para as usinas, principalmente do Centro-Sul. Espero que possamos ver esse equipamento deslanchando na região”, destacou Campos.

Para Neto, a nova resolução, permitindo a circulação com veículos de 11 eixos, contribui de forma significativa para o meio ambiente, pois, possibilita o transporte de mais cana-de-açúcar, diminuindo a quantidade de viagens e, por consequência, a segurança viária, redução no consumo de combustível fóssil, e custos com a operação de transporte.

Adaptação de conjuntos deve sair

Amanhã, terça-feira (28) em São Paulo, no Pavilhão de Exposições do São Paulo Expo, o  Ministro dos Transportes Renan Calheiros Filho participa da solenidade de Assinatura da Resolução do Contran para adaptação de Conjuntos de 91 toneladas.

Em dezembro, Mario Campos Filho, presidente da Siamig e do FNS (Fórum Nacional Sucroenergético), havia adiantado à RPAnews que participava das discussões junto ao Contran e o Ministério dos Transportes para que fosse autorizada adaptações, ou seja, a opção de inclusão dos eixos adicionais em implementos com chassi reto.

“Nos últimos anos, justamente aguardando a aprovação do Rodotrem de 11 eixos e 91 t, muitas usinas fizeram aquisição de implementos com chassi reto para serem adaptados no futuro. Estamos aguardando para aprovação para que esses equipamentos possam ser adaptados e para que a gente possa aproveitar a entressafra para adoção dos eixos adicionais e, desta forma, fazer todos os estudos necessários para obtenção da AET”, disse Campos à RPANews.

“Nossa esperança agora é de que mais e mais usinas possam conquistar suas autorizações de tráfego com base nesta resolução, que auxilia o setor na redução do custo final de açúcar e etanol, uma vez que o CCT (corte, carregamento e transporte) é um custo importante na cadeia. Teremos, agora, um frete mais eficiente”, disse a UDOP Mário Campos Filho.

Natália Cherubin para RPAnews

 

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