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Agrícola

Usina mineira é a primeira a ter liberação para rodotrem com 91 toneladas

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A Delta Sucroenergia, com apoio do Siamig foi pioneira na obtenção da autorização para tráfego do rodotrem com capacidade de 91 t

Natália Cherubin

Parece que a longa discussão sobre a questão do transporte de cana-de-açúcar com o uso dos rodotrens, combinações de veículo de carga (CVC) de 11 eixos e 91 toneladas de PBTC (Peso Bruto Total Combinado), está prestes a ter um fim após anos de discussões entre os segmentos canavieiro, indústria de implementos, caminhoneiros, concessionárias de rodovias e o poder judiciário.

E o que dá luz a essa afirmação é a recente conquista da Delta Sucroenergia, usina localizada em Delta, MG, que, com apoio do Siamig (Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais), se tornou a primeira usina sucroenergética a obter a Autorização Especial de Trânsito (AET) para circular seus veículos destinados ao transporte de cana com até 91 toneladas. A autorização foi emitida pelo DER-MG (Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais) e valerá para a próxima safra.

A nova resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), n°872, que foi aprovada em setembro de 2021 substitui a anterior, 663/2017, e traz algumas modificações e uma série de novas regras e exigências para a circulação dos super rodotrens. As novas medidas se aplicam aos implementos já fabricados e comercializados entre 2017 e 2018, além dos produzidos a partir da data da aprovação da resolução.

A nova regulamentação torna as regras ainda mais rígidas para a circulação das CVC’s com 91 toneladas, afim de garantir a segurança viária e a integridade das rodovias. Dentre as principais mudanças estão a definição de rotas curtas e específicas para a circulação destes rodotrens.

Segundo o engenheiro Nilton Souto, da ACT Soluções, empresa que participou do processo de liberação da AET da Delta Sucroenergia, disse que um dos itens que mudou significativamente na versão atual foi a questão do Raio/Percurso permitido para operação da usina.

“A Resolução 663/2017-Contran, que foi suspensa, previa o transporte em um raio de 50 km da usina, enquanto a Resolução 872/2021-Contran menciona a possibilidade de rodar até 80 km de percurso. Consequentemente, nessa revisão reduziu-se significativamente a quantidade de rodovias das usinas que possuem vários trechos dentro do raio”, explica o especialista da ACT Soluções.

De acordo com a Resolução 872/2021, a partir de agora os rodotrens, composições voltadas exclusivamente ao transporte de cana-de-açúcar, só poderão circular com Autorização Especial de Trânsito (AET), que deverá ser renovada anualmente.

As composições poderão ter até 4,40 metros de altura, com comprimento mínimo de 28 metros e máximo de 30 metros, sendo necessário ser rebocada por caminhões 6×4 com Capacidade Máxima de Tração igual ou superior ao PBTC de 91 toneladas.

As composições são formadas por um cavalo-mecânico de três eixos, mais um semirreboque com três eixos e reboque com cinco eixos, sendo um tandem duplo dianteiro com rala e um tandem triplo traseiro. A circulação também estará condicionada ao uso de sinalização específica na traseira, além de proteção para a carga transportada. Para ampliar a segurança, essas composições poderão usar um sistema adicional de iluminação de LED para sinalização lateral e traseira nos implementos.

Ainda de acordo com a resolução, não serão permitidos implementos adaptados com 11 eixos, sendo somente admitido o acoplamento de reboques e semirreboques especialmente construídos para utilização nesse tipo de CVC e que estejam homologados pelo órgão máximo executivo de trânsito com códigos específicos na tabela de marca/modelo do Renavam.

Para as usinas interessadas no uso desses implementos em vias públicas, será necessário o cumprimento de uma série de obrigações, como um Estudo Técnico que comprove a compatibilidade das CVC nas vias que pretende circular, laudo técnico dos implementos, certificado de avaliação de conformidade emitido pelo Inmetro, além de um estudo detalhado de viabilidade de tráfego no percurso proposto, com análise de geometria da via, análise de capacidade e nível, estudo de tráfego para possível instalação de terceira faixa em aclives, sinalização horizontal e vertical, análise da capacidade de suporte da rodovia ao conjunto, análise de pontes e viadutos, e apresentação de medidas para sanar qualquer problema encontrado no trecho.

Estes rodotrens poderão trafegar em vias públicas, no percurso e em horários especificados na AET e terão que obedecer algumas condições operacionais como, transitar com velocidade máxima de 60 km/h e trafegar sempre com faróis acesos. Além disso, são proibidos da operação de comboio, observando-se a distância mínima de 300 m entre as CVC, e  de ultrapassar outro veículo. Na  operação noturna realizada em vias de pista simples somente poderão ocorrer em horários com baixo volume de tráfego, correspondente, no máximo, ao nível de serviço “C” verificados no Estudo de Viabilidade de Tráfego.

Em rodovias de pista simples as travessias de vias ou retornos, em nível, somente podem ser realizadas nos locais onde houver interseção previamente projetada, executada e sinalizada para esses movimentos, considerando as características da CVC, estabelecidos de acordo com a distância mínima de visibilidade de 465 m (oitocentos metros) para o trecho.

Conquista da Delta Sucroenergia

Em novembro deste ano, pouco mais de um ano após a aprovação da resolução, a Usina Delta Sucroenergia se tornou pioneira na obtenção da AET. Mas por que somente agora, mais de um ano após a aprovação da resolução, saiu a primeira autorização? De acordo com Mario Campos, presidente do Siamig, o primeiro ponto é que os equipamentos precisavam ser comprados e os estudos necessários precisavam ser realizados.

“Como é uma novidade, demandou o pioneirismo de algumas empresas que se prontificaram a realizar esse processo. A demora se deve única e exclusivamente por ser algo novo. As usinas já estão acostumadas de pedirem as AETs para circular e os órgãos responsáveis pelas vias já estão acostumadas a dar essas autorizações, mas não nos moldes que foram aprovados nesta resolução do rodotrem canavieiro de 91 t. Estudos novos foram incorporados, os sistemas das autoridades de trânsito locais e estaduais também precisavam ser adaptados”, afirmou Campos.

José Holanda Neto, diretor de Operações Delta Sucroenergia, afirma que para a obtenção da AET foi feito todo um diagnóstico das rodovias, levando em conta todos os pontos de melhorias que deveriam ser realizados para estar dentro dos requisitos da resolução. Foram realizadas as adequações nas pistas, como por exemplo, realocação e melhoria nas entradas e saídas de fazenda, emplacamento de acordo com a resolução e pistas de aceleração e desaceleração.

De acordo com Neto, sempre com olhar no futuro, os cavalos mecânicos adquiridos nos últimos anos foram prospectados com a finalidade de atender a nova legislação. A companhia também está investindo em reboques e semirreboques.

“A emissão da primeira AET referente a veículos 11 eixos no Brasil para transporte de cana-de-açúcar abre as portas para outras empresas do setor, pois, houve um extenso debate inicial entre os órgãos de fiscalização e as empresas de consultoria para chegar em um padrão aceitável referente aos levantamentos das vias, laudos técnicos e demais estudos necessários para tanto. Esse aprendizado beneficiará, sem dúvidas, o Estado de Minas Gerais e outros entes da federação”, destacou o diretor de Operações Delta Sucroenergia.

Ele ainda destaca que o trabalho do Siamig foi de extrema importância. “O Siamig desenvolve uma importante interlocução entre as usinas sucroenergéticas e os órgãos públicos em todos os níveis da federação, contribuindo sempre para o desenvolvimento e conquista de todo o setor sucroenergético”, salienta.

Campos destaca que a Delta foi pioneira e é um exemplo não só para Minas, mas mostra que outras usinas podem conseguir. “Esperamos que a safra 2023/24 seja um ponto de inflexão para as usinas, principalmente do Centro-Sul. Espero que possamos ver esse equipamento deslanchando na região”, destacou Campos.

Para Neto, a nova resolução, permitindo a circulação com veículos de 11 eixos, contribui de forma significativa para o meio ambiente, pois possibilita o transporte de mais cana-de-açúcar, diminuindo a quantidade de viagens e, por consequência, a segurança viária, redução no consumo de combustível fóssil, e custos com a operação de transporte.

Desenvolvimento de rodotrem foi pioneiro

Os equipamentos combinados ao caminhão existentes até então tinham 9 eixos, sendo assim e, de acordo com as legislações vigentes no Brasil, podiam transportar no máximo 74 toneladas de PBTC. Em 2003, a Sergomel, pioneira no segmento e enxergando a necessidade, começou produzir seus implementos com a utilização de matérias de baixa liga e alta resistência.

A princípio, segundo Adriano Terra, engenheiro de produto e Vagner Laercio Gomes, gerente Comercial da Sergomel, a vantagem do uso destes materiais estava associada à possibilidade de diminuir as taras dos equipamentos, com o entendimento da necessidade do setor canavieiro em transportar mais carga devido as taras reduzidas, bem como ganhos do consumo de combustível, pneus e agilidade no transporte, houve uma grande procura na utilização de equipamentos com este conceito aplicado.

Ao observar equipamentos que trafegam com mais eixos fora do Brasil, a Sergomel viu a oportunidade de trazer essa configuração para o país. Encabeçados pela Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar), aliando a necessidade do aumento de carga a ser transportada no setor canavieiro, foram realizados vários estudos e se chegou à conclusão de que o aumento de eixos associado a este PBTC não impactaria na qualidade das rodovias.

“Com isso desenvolvemos nosso primeiro equipamento, um semirreboque 3 eixos e um reboque de 5 eixos. Ambos ‘nasceram’ com um novo posicionamento de eixos, garantindo a melhor distribuição de carga possível para esta combinação. Além disso, veio com novos circuitos de freio aplicados a configuração de reboque 5 eixos, este que ainda não constituía a lista de equipamentos fabricados nesta configuração”, explicam os especialistas da Sergomel.

A Sergomel participou de todo o projeto e principalmente na construção do Rodotrem 91 toneladas. “O fato de a Delta Sucroenergia receber esta AET, nos demonstra que todos os esforços foram contemplados com a realização daquilo que sempre buscamos, ou seja, sermos os pioneiros no uso de tecnologias, conceitos aplicados, fazendo com que consigamos atender as exigências de nossos clientes, garantindo melhores resultados para todo o setor canavieiro. A Sergomel agradece a Delta pela confiança e a parabeniza pela sua conquista”, comemoram.

Implemento de 11 eixos desenvolvido pela Sergomel de forma inédita. (Crédito: Frances Prado/Sergomel)

Siamig quer a liberação para adequação

O processo para regularizar o transporte de cana-de-açúcar já dura 10 anos. As discussões começaram em 2012 e teve, em grande parte, origem em Minas Gerais. “Tivemos contestações que viraram ações civis públicas, tivemos decisões judiciais no âmbito trabalhista, que resultaram na necessidade de fazermos um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) para termos prazo de adequação. Após trabalhar na solução com prazo de adequação, trabalhamos com muita energia na construção de alternativas. O rodotrem é apenas um dos pontos da construção de alternativas”, afirmou Campos à RPAnews.

O Siamig trabalhou uma série de modificações e a maior delas foi a aprovação da possibilidade do equipamento de 11 eixos ser usado. “Agora as empresas, a partir do momento que adquirem os equipamentos, e encontram o caminho das pedras por meio dos estudos, tem a possibilidade para conseguir autorizações para que esses equipamentos possam trafegar”, disse.

Campos revela que foi ele quem lançou o desafio às usinas associadas, como se fosse uma corrida, para ver quem poderia ser a primeira empresa a conseguir ter a autorização especial de tráfego ainda durante a safra 2022/23.

“A Delta Sucroenergia se prontificou, desde o primeiro momento, através de estudos, fazer esse procedimento. Queria parabenizar a Delta por isso. Também parabenizo quem fez os estudos, a ACT Soluções, que já vem elaborando estudos para solicitação de AETs dentro do setor. Ela faz um trabalho importante e foi parceira do processo. Cito também e parabenizo a Sergomel, fabricante do implemento que foi autorizado a trafegar”, parabenizou Campos.

O Siamig agora trabalha em outro ponto pequeno da resolução 872/2021 que é a possibilidade de adaptações serem realizadas, ou seja, a inclusão dos eixos adicionais em implementos com chassi reto.

“Nos últimos anos, justamente aguardando a aprovação do Rodotrem de 11 eixos e 91 toneladas, muitas usinas fizeram aquisição de implementos com chassi reto para serem adaptados no futuro. Estamos aguardando a aprovação ainda em dezembro, mais tardar no início do ano, para que esses equipamentos possam ser adaptados e para que a gente possa aproveitar a entressafra para adoção dos eixos adicionais e, desta forma, fazer todos os estudos necessários para obtenção da AET”, revela Campos.

Qual o primeiro passo para pedir a AET?

Para a Delta Sucroenergtia, a ACT Soluções fez todos os estudos técnicos de Engenharia Mecânica e Civil, exigidos nos Artigos 3º e 4 º da Resolução vigente. De acordo com Souto, desde a publicação da resolução, a Delta sempre mostrou-se interessada em desenvolver os estudos de viabilidade visando o trânsito das CVC com PBTC de 91t.

“Com essa parceira fortalecida durante anos, foi possível unir os esforços técnicos com o relacionamento institucional. Isso possibilitou atingirmos o objetivo e sair na frente”, revela.

Para as demais usinas que buscam a AET, a sugestão é que elas procurem empresas de engenharia especializada, com conhecimento da resolução para a elaboração dos estudos técnicos de engenharia Civil e Mecânica. “O primeiro passo, considerando os inúmeros estudos técnicos a serem desenvolvidos, é que a realização seja feita por fases, a fim de demandar menores investimentos por parte das usinas”, explica Souto.

Mesmo assim, ele alerta que, infelizmente, muitas usinas não vão conseguir ter a viabilidade de trânsito da CVC com PBTC de 91 toneladas, porque devido as exigências da Resolução 872/2021-Contran, existe uma parte significativa de rodovias que não possuem características técnicas compatíveis e que favoreçam a trafegabilidade dessa composição.

“Em alguns casos, faz se necessário implementar medidas mitigadoras de compensação para ter o trecho tecnicamente correto e obter a viabilidade junto ao órgão competente. Porém, tal investimento inviabiliza o trânsito da CVC com PBTC de 91t, uma vez que o requerente é o responsável”, adiciona Souto.

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