Especialistas destacaram durante evento em Piracicaba, SP, os potenciais para o mercado de etanol de milho e cana, além do uso de biotecnologias e soluções digitais para eficiência industrial
Inovações que já estão moldando o futuro da produção de etanol — como o uso de leveduras otimizadas, biotecnologia avançada, inteligência artificial e sistemas de automação — deixaram claro que o setor sucroenergético brasileiro vive um novo momento. Seja a partir da cana-de-açúcar ou do milho, tecnologias cada vez mais integradas à indústria 4.0 estão revolucionando a eficiência energética, a sustentabilidade dos processos e a competitividade das usinas.
Todas essas inovações foram destaque na 2ª Conferência de Etanol de Milho e Cana de Açúcar, realizada na última quarta-feira (17), no Espaço Terrá, em Piracicaba, SP e organizada pela JBR Soluções Industriais. Entrando definitivamente no calendário como um dos principais encontros do setor sucroenergético, o evento, com mais de quinze palestras técnicas e discussões sobre tendências, processos e equipamentos do setor, reuniu especialistas, empresários e pesquisadores para debater bioenergia, biocombustíveis e inovação industrial.
Entre os destaques, foram apresentados dados estratégicos: o Brasil mantém 25,7% da sua matriz de transportes renovável em 2024 e é o segundo maior produtor global de etanol, contribuindo com os 122 bilhões de litros produzidos mundialmente. O etanol de milho vem ganhando força, alcançando 7,7 bilhões de litros em 2024, um crescimento de 32% em relação a 2023, impulsionado pela dupla safra e pelo uso mais eficiente da terra, especialmente no Centro-Oeste. A programação trouxe uma série de palestras técnicas que evidenciam o dinamismo do setor. João Bortolussi, sócio-diretor da JBR, abriu as apresentações discutindo a otimização energética nas usinas de cana e etanol de milho, tema central para reduzir custos e aumentar a competitividade.
Na sequência, Reinaldo Eduardo Ferreira e Saulo Pivetta, da Dedini, apresentaram soluções para o aproveitamento da vinhaça. Ferreira destacou que, ao utilizar o vapor alcoólico no processo, é possível concentrar a vinhaça em até seis vezes, reduzindo custos logísticos e diminuindo o volume transportado. Outro ponto enfatizado foi o aproveitamento do condensado, que pode substituir parte do consumo de água nas usinas. Em um estudo de caso, a instalação de uma planta integrada apresentou payback de dois anos e meio, o que demonstra a viabilidade econômica da inovação.
Ângelo Pedrosa, sócio-proprietário da Vinculum Agro Consultoria, trouxe um olhar inovador sobre o mercado de sorgo no Brasil, discutindo seu potencial como matéria-prima alternativa para a produção de etanol. Em seguida, Marco Roberto Martins, gerente de engenharia da Mont Service, apresentou o conceito de Destilaria 4.0, com destaque para automação, integração de sistemas e ganhos de eficiência. Leandro Scatena, da Sulzer, abordou soluções tecnológicas para ampliar a eficiência operacional em processos industriais.
Outro ponto de destaque foi a palestra de Cristiano Azeredo, da Atvos, que ressaltou o potencial da usina integrada como caminho para alcançar a máxima eficiência energética. Ele defendeu que a disputa entre etanol de cana e de milho deve dar lugar à integração dos dois processos, capaz de gerar ganhos expressivos de produtividade e novas oportunidades para o setor. Azeredo lembrou que o Brasil já ocupa posição de liderança global na produção de biocombustíveis e que a diversificação com o etanol de milho tem crescido de forma acelerada, abrindo espaço também para avanços em biodiesel, biometano e SAF (combustível sustentável de aviação).
Na sequência, Larissa Ferreira Papin e Daniel Atala, especialistas em bioprocessos da Drul, apresentaram três inovações para a indústria sucroenergética. A primeira foi a tecnologia de biocondensados, baseada em oxidação por ozônio, que possibilita o reuso total da água nos processos industriais e reduz o consumo de produtos químicos, com aplicação da cana ao setor têxtil. Depois, destacaram o uso de bacteriófagos, vírus que atacam bactérias específicas e funcionam como alternativa biológica ao uso de antibióticos na fermentação alcoólica, aumentando a eficiência do processo. Por fim, apresentaram o sensor virtual, um sistema de inteligência artificial que monitora em tempo real a conversão dos açúcares em etanol e oferece às usinas um controle mais preciso, alinhado aos princípios da Indústria 4.0.
Para Daniel, além das soluções tecnológicas, encontros como esse cumprem um papel essencial de integração e troca de conhecimento dentro do setor. “O evento é uma ótima oportunidade de compartilhar experiências e know-how. É esse tipo de troca que fortalece a indústria e ajuda a impulsionar novas ideias”, afirmou.
A conferência também reuniu nomes de peso do setor, que compartilharam diferentes experiências e perspectivas sobre inovação, tecnologia e gestão. Passaram pelo palco Luciano Zamberlan, da VP Operações Sem Vida, Ana Lucati, da La Le Mande, Agatha Turini, da Fertron, Ari Nascimento, da MapData e Isaac Leandro, da CMAA. Um dos cases mais aguardados foi o de Cecília Guerino Miranda, que trouxe reflexões importantes e despertou grande interesse do público presente.
Um dos cases mais aguardados foi o de Cecília Guerido, especialista de processos industriais da São Martinho, que destacou a inovação da companhia com a implantação de sua primeira planta de etanol de milho, inaugurada em 2023. A unidade, integrada à Usina Boa Vista, em Goiás, processa cerca de 515 mil toneladas de milho por ano, além de 5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, resultando em aproximadamente 660 mil m³ de etanol. Cecília ainda chamou atenção para a eficiência energética alcançada: a planta de milho opera com apenas 2,8 kg de vapor por litro de etanol, contra até 5,5 kg em plantas convencionais de cana, reforçando o caráter inovador do projeto.
Na penúltima palestra, Lucas Formigari, técnico de serviços especiais da IFF, abordou a aplicação da biotecnologia como motor de competitividade, destacando o papel das enzimas e microrganismos na eficiência da fermentação e no aumento da produtividade.
O encerramento ficou a cargo de Patrick Wallace e Rogério Ângelo, da Pieralisi, que demonstraram o funcionamento do Decanter Centrífugo, equipamento automatizado que otimiza a separação sólido-líquido no etanol de milho e no biogás, reduzindo a umidade do WDG para 60-65% e aumentando a vida útil do coproduto.
A RPAnews foi a mídia parceira oficial durante o evento, que foi transmitido ao vivo para convidados. A jornalista Natália Cherubin conduziu entrevistas exclusivas com os palestrantes, abordando desde as tendências do etanol de milho até os desafios técnicos enfrentados pelas usinas, reforçando o papel do portal em dar visibilidade às discussões mais relevantes do setor. O público teve uma participação ativa, formado por um grupo diverso, unindo desde usineiros a engenheiros, químicos e pesquisadores. Durante as apresentações, houve espaço para perguntas e pequenos debates, o que tornou as discussões ainda mais interessantes.
Para o organizador, João Vittor Bortolussi, diretor da JBR, a conferência cumpre um papel estratégico: “Buscamos nesta e nas próximas edições, continuar atraindo um público qualificado e de diferentes regiões do país. Além disso, queremos continuar aprimorando o evento ano a ano, trazendo novidades e oportunidades de investimento. Um dos grandes desafios deste segmento hoje, é a disponibilidade de biomassa, que exige mais eficiência nos processos e maior retorno operacional”, destacou.
Com público engajado, conteúdos técnicos de alto nível e espaço para troca de experiências, a segunda edição da conferência reforçou a importância da atualização tecnológica e da integração entre empresas, pesquisadores e investidores, consolidando Piracicaba como um dos principais polos de debate sobre bioenergia no Brasil.
Este ano o evento contou com parceiros importantes como Dedini, HeatBoiller, Lallemand, Sulzer, MontService, AML Soluções Industriais, MapData NTI, Pieralise, Drul, IFF, Fertron.